Feminismo se veste de brilho para Momo mas não se despe da atitude política
Mulheres levam bandeira feminista às ruas do Recife e Olinda com humor, atrevimento e disposição para criticar o machismo que as atormenta o ano inteiro
Publicado: 04/02/2016 às 11:14

Mais do que uma fantasia, a Vaca Profana da produtora Dandara Pagu vai puxar o bloco que questiona a hipersexualização do corpo da mulher e desfila na segunda, às 11h, com saída do Varadouro. Foto: Beto Figueroa/ Cortesia/

O trocadinho “essa fada, és safada”, segundo uma das fundadoras do bloco, Geisa Agrício, é uma defesa do direito da mulher à liberdade sexual e à segurança física e emocional, mais vulnerável numa festa como o carnaval, quando o comportamento machista gera ainda mais excessos. “Essa fada pode ser e fazer o que bem quiser. Assim como a definição da Marcha das Vadias exalta como a sociedade deprecia a vida sexual ativa feminina, nós defendemos a liberdade”, declara.
Para ela, que acredita na cultura como agregador, o carnaval também é um momento de debate político, que se coloca a serviço de pautas sociais e instrumentaliza a ebulição social. “Quer melhor ingrediente para revolução do que isso? A paixão?”. Agrício defende que que a cultura tem cunho político e social e que a espontaneidade do carnaval ajuda a perpetuar estas questões. “É um apelo anárquico a bandeiras sérias. Assim surgiram manifestações e agremiações de cunho questionador, como já foram as troças Eu Acho é Pouco, Siri na Lata, Nós Sofre mas nós Goza. O humor e a festa estão a serviço das pautas sociais”, afirma.
Para não perder a piada Na última campanha presidencial, em 2014, o então candidato Aécio Neves (PSDB) foi criticado pelo seu comportamento diante de duas candidatas mulheres: a presidente eleita, Dilma Rousseff (PT) e Luciana Genro (PSOL). Com dedo em riste, o senador de Minas Gerais chegou a chamar Luciana Genro de “leviana”, o que caiu como uma provocação para o bloco Levianas, que em 2016 realiza seu segundo desfile. “Resolvemos fazer uma apropriação linguística (assim como o movimento que deu origem a marcha das vadias fez), e nos afirmamos sim, como mulheres que ousam e que se colocam diante do mundo, sem que isso seja algo que nos desvalorize”, explica uma das idealizadoras do bloco, Marília Pinheiro. Ela lembra que, assim como na campanha presidencial, as mulheres são comumente desvalorizadas e taxadas como loucas na sociedade. E é isso que instiga o bloco. “Somos levianas, seremos sempre, se quisermos, pois somos donas de nossas histórias. E assim faremos durante o carnaval”, avisa Pinheiro.
Carnaval é ato político A diversidade sexual e o cumprimento da Lei Municipal 16.780 – que proíbe discriminação por orientação sexual – dão o tom do desfile do bloco do Instituto Papai e do Núcleo de Pesquisas em Gênero e Masculinidades (Gema) da UFPE. A agremiação, que existe desde 1999, escolhe a cada ano o tema que será tratado durante o carnaval e depois da paternidade e da violência contra a mulher, é a diversidade sexual que coloca a questão de gênero em pauta em 2016.
“O carnaval é político, tem vários momentos, fantasias, adereços que são politizados, mas entrosados com a leveza da festa”, explica o coordenador do projeto de diversidade sexual do Instituto Papai, Thiago Rocha, que faz uma comparação com a própria parada do orgulho gay, também organizada pela instituição. “Dizem que a parada virou um carnaval e nosso argumento é exatamente esse: o carnaval é um momento político. Conseguimos chamar a atenção de várias pessoas e levar um recado”, explica.
Para a coordenadora do Instituto Papai, Mariana Azevedo, é um momento de problematizar relações que acontecem ali mesmo, durante a festa. “O carnaval, apesar de ser esse espaço tido como democrático, é um espaço de reprodução de muito machismo, muita violência e da desigualdade de gênero de maneira geral, a discriminação, a homofobia. A violência está acontecendo todo o tempo, apesar da folia”, complementa.
Durante o desfile do bloco, materiais educativos, em formato de leque e de cartão de crédito, serão distribuídos conscientizando a população sobre a Lei do Amor Livre e sensibilizando sobre o tema
Bloco Político Nem Com Uma Flor
Homenagens e conscientização No seu 15° desfile, o Bloco Político Nem Com Uma Flor homenageia a escritora Clarice Lispector e a carnavalesca Alzira Dantas, presidente da Troça Carnavalesca Abanadores do Arruda. O maracatu Baque Mulher, a Orquestra 100% Mulher e o grupo Conxitas animam o cortejo do bloco, que busca conscientizar os filiões sobre o fim da violência contra a mulher.
Tem Bloco carnavalesco feminista Bovoá com Elas
O bloco carnavalesco femininsta Bovoá com Elas se identifica como uma “homenagem-gréia” a escritora e filósofa francesa ícone do feminismo, Simone de Beauvoir.
Serviço | |
Bloco carnavalesco feminista Amor Livre | Quinta-feira (4), 16h Rua da Moeda, Bairro do Recife |
Bloco carnavalesco feminista Bovoá com Elas | Quinta-feira (4), 16h Rua da Moeda, Bairro do Recife |
Bloco Político Nem Com Uma Flor | Quinta-feira (4), 14h (concentração); 17h (saída) Praça do Arsenal, Bairro do Recife |
Levianas | Sábado (6), 12h Rua da Bertioga, na concentração do Bloco Sobrecú%u200B |
Grêmio Anárquico Feminazi Essa Fada | Segunda-feira (8), 10h Rua da Boa Hora, Olinda |
Floco Feminino Anarquista Vaca Profana | Segunda-feira (8), 11h (concentração);12h30 (saída) Av. Doutor Joaquim Nabuco, Varadouro, Olinda |

