Diario de Pernambuco
Busca
Villa Ritinha Casarão de 1840 vai dar lugar a café-bar e galeria de arte

Por: Rosália Vasconcelos

Publicado em: 29/02/2016 16:53 Atualizado em:

Foto: Peu Ricardo/DP
Foto: Peu Ricardo/DP
O trecho da Rua da Soledade entre a Manoel Borba e a Rua Barão de São Borja, no bairro da Boa Vista, é quase um cemitério de imóveis em ruínas. Mas foi nesse pedaço da cidade quase esquecido pelos recifenses que o art designer alemão Klaus Meyer enxergou um espaço perfeito para abrigar um café-bar, um bistrô e uma galeria de arte. A Villa Ritinha, como é conhecido o número 35 da Rua da Soledade, recebe os últimos trabalhos de recuperação e restauração. Mais do que um casarão antigo abandonado, o imóvel tem se revelado um baú de memórias sobre o comportamento das famílias recifenses do século XIX e desvendado um legado de afrescos neogóticos e outros detalhes artísticos históricos.

Segundo o arquiteto, restaurador e historiador Fernando Guerra de Souza, o casarão foi construído por volta do ano de 1840 (séc XIX) sob influência do estilo neoclássico. Em 1913, no início do século XX, sua fachada foi reformada com detalhes em estilo eclético, o que na época representava “ares de modernidade”. Essa data está até hoje inscrita no casarão 35. Apesar das camadas de cal jogadas durante os anos de degradação do imóvel, seu interior ainda guarda toda sua essência neoclássica. “Os primeiros donos deram o ar moderno à casa mas decidiram preservar o seu interior”, pontuou Fernando.

Durante o projeto de recuperação, vários segredos da Villa Ritinha vêm sendo descobertos tanto por Klaus quanto pelo restaurador alemão responsável pela obra, Matthias Kjer. Nas paredes e tetos, por debaixo da tinta seca em ruínas, várias obras de arte foram encontradas, a maioria de temáticas religiosas. Pela escada em madeira, uma sequência de pinturas retratam a descoberta do Brasil pelos portugueses. “Muitos dos afrescos trazem a assinatura de Pires, um pintor conhecido de Lisboa na época. E também há obras de artistas da França e da Bélgica”, disse Klaus, que cursou art design ma Escola de Belas Artes de Munique, na Alemanha. Toda a estrutura hidráulica e elétrica também precisou ser recuperada.

A fachada na calçada, apesar de muito bonita, não traduz o ambiente que guarda a Villa Ritinha, na sua senzala, nos jardins e no quintal. Mesmo com a degradação de todos esses anos, é possível observar que nos beirais, portas e janelas, os elementos decorativos ainda resistem ao  tempo, bem como os azulejos portugueses, belgas, ingleses e franceses dos séculos XVIII, XIX e XX. “Há uma capela interna anexa ao casarão. Dentro dela, foi colocado um elevador belga no estilo Art Nouveau que, inclusive, pode ter sido o primeiro elevador instalado no Recife, o que representava glamour e modernidade”, acrescentou o arquiteto Fernando Guerra. Um dos primeiros elevadores do Recife, também belga em estilo art nouveau foi o do Palácio do Campo das Princesas, instalado na década de 1920.

No casarão-museu, como já tem sido chamado a Villa Ritinha, também foi encontrado um jardim de inverno, no segundo andar do casarão, que vai servir como sacada do café-bar. “Quando chegamos ao quintal, outra preciosidade foi descoberta: uma jaula de leão. Muitos nobres de séculos passados tinham o hábito de criar um leão, porque esse bicho era o animal de estimação de reis barrocos e representavam a nobreza”, pontuou o historiador.
Segundo o proprietário Klaus Meyer, a previsão é de que o café fique pronto na segunda quinzena de março, com horário de funcionamento das 7h30 as 19h. “Encontrar essa casa foi puro acidente, pura sorte. Achei na internet para a venda e não a conhecia. Quando fui ver o imóvel, sequer consegui entrar porque corria risco de desabar, assim como outros imóveis do entorno . Quando começamos as reformas, descobrimos esse tesouro que se escondia por trás das ruínas”, conta Klaus.

Antiga casa do barão do açúcar


A Villa Ritinha, que já foi um endereço da ostentação e do glamour recifense, se confunde com a trajetória de auge e decadência do próprio bairro da Boa Vista. Segundo as histórias contadas por antigos vizinhos e proprietários do casarão, o imóvel foi construído por um barão do açúcar de origem portuguesa. “Ritinha era o nome da esposa do barão, que a homenageou, e vamos manter o mesmo nome no café-bar como uma forma de respeito à história da casa”, disse o art designer e proprietário do imóvel Klaus Meyer.

Após o período áureo do palacete, a Villa Ritinha virou um hotel de luxo, na época em que a Boa Vista era o bairro que recebia mais turistas na cidade, assim como hoje acontece com Boa Viagem. Em seguida, o casarão foi transformado em uma pensão de luxo. Com a mudança de perfil de bairro residencial para bairro comercial, o casarão se transformou em uma pensão barata e, com a constante degradação da Boa Vista, a Villa Ritinha teve como última atividade um bordel. Após dois anos fechado, o casarão está sendo resgatado por Klaus. Mais do que um estabelecimento, o alemão quer transformar a Villa Ritinha num espaço para promoção da cultura, da arte, da arquitetura, da história e do patrimônio.

A segunda parte do projeto de recuperação da Villa Ritinha é abrir um salão de festas e, em seguida, uma galeria de arte. “Acho que a restauração da Villa Ritinha vai dar um novo ânimo para a recuperação de outros móveis do entorno. Minha pretensão é de que o povo recifense veja como pode ser mais bonito o coração do Recife. Há tantas construções antigas e degradadas nessa cidade histórica e as pessoas saem do Brasil para a Europa para conhecer e fotografar construções com arquitetura muito semelhantes das que existem aqui. Acho que o Recife precisa valorizar mais sua história”, defendeu o art designer alemão.

Segundo ele, o primeiro artista a expor no espaço será o alemão Mumrey. O salão de festas vai funcionar de 19h às 22h, com cozinha internacional e música ao vivo. “Para os admiradores de arte, cultura e antiguidade, que desejarem frequentar assiduamente o espaço, vamos fazer um esquema de cartão-fidelidade. É uma forma de beneficiar o cliente e angariar fundos para concluir o restauro”, adiantou o proprietário.

Quem já apostou no projeto foi o professor e amante das artes e cultura, Walberto Camará. Ele entrou na restauração do casarão como sócio de Klaus. “A Villa Ritinha, dentro, parece um oásis bem no Centro do Recife. Com as árvores do quintal, não se ouve o buzinaço lá fora. Parece inacreditável mas aqui dentro é possível sentir um clima mais ameno e até ouvir canto de pássaros”, contou Camará.

Saiba mais

Quem quiser saber um pouco mais sobre a Villa Ritinha, pode acessar a fan page www.facebook.com/casaculturalvillaritinharecife ou pelo email: villa-ritinha-membro@outlook.de


MAIS NOTÍCIAS DO CANAL