Tatuagem após os 60 anos de idade ainda é incomum, mas já tem adeptos
Pernambucanos que já passaram dos 60 anos mostram que a beleza e a liberdade representada pelas tatuagens são para todas as idades
Publicado: 17/01/2016 às 10:43

Fotógrafo Wilson Campos, de 60 anos, fez a primeira tattoo aos 40 e ainda pretende cobrir os dois braços. "Tem gente que ainda hoje me olha de forma atravessada". Foto: Hesíodo Goes/DP Foto: Hesiodo Goes/
Maria Cecília Oliveira se prepara para fazer a quarta tatuagem. Será um pássaro, na altura do ombro direito. Um desenho da artista pernambucana Joana Lira, a quem Cecília pediu autorização para imprimir para sempre na própria pele. Os pássaros estão em outras duas tatuagens da servidora pública aposentada. Representam, entre outras coisas, o espírito de liberdade. Aos 62 anos, Cecília espera nunca mais parar de se tatuar. Desejo ainda incomum entre pessoas de sua mesma faixa etária. No círculo de amigas e amigos de Cecília, por exemplo, apenas ela tem tatuagem.
Antes de ficar viúva, a aposentada nunca imaginou decorar de tal jeito o corpo. “Era casada e achava bonito nos outros, mas pensava que era preciso ser mais jovem para ter tatuagem. Meu marido também não gostava”, lembra. A decisão de ser tatuada termina provocando o preconceito velado nas pessoas com quem ela convive e até mesmo entre estranhos. “Ainda escuto comentários do tipo: e quando você ficar mais velha? Ora, a vida vai pintando a gente com manchas surgidas ao longo do tempo. Por que não posso me pintar do jeito que quero?”, questiona.
Tatuador há oito anos, Henrique Brandão já tatuou cerca de oito pessoas com mais de 60 anos nesse período, ou seja, uma média de uma pessoa por ano. “Realmente ainda não é comum a tatuagem na terceira idade. Geralmente quem me procura é inspirado nos filhos que já fizeram tatuagem comigo. Acho que no futuro vai existir uma geração onde incomum vai ser aquela pessoa que não tem tatuagem”, prevê.
Wilson Campos, 60 anos, começou a se tatuar por volta dos 40. Tem um dos braços todo tatuado e o outro com dois desenhos menores. “Minha ideia é fechar o outro braço”, diz, referindo-se a tatuar todo o membro. Wilson é fotógrafo e trabalha com informática. Por conta da tatuagem, diz ter sido vítima de preconceito a ponto de perder uma cliente. “Tem gente que ainda hoje me olha de forma atravessada”, diz.
Para Henrique Brandão, o preconceito ainda é o grande empecilho para as pessoas mais velhas aceitarem seus corpos tatuados. “Muitos querem fazer um desenho, mas ficam presos ao preconceito do passado ou o que a família vai dizer”, lembra o tatuador.
Cuidados
O médico geriatra Alexandre Mattos, diretor do Instituto de Medicina do Idoso, ressalta que os cuidados da pessoa acima dos 60 anos são basicamente os mesmos dos mais jovens na hora de fazer a tatuagem. Para não adquirir doenças como hepatite ou o vírus HIV, é preciso observar a higiene do ambiente e dos instrumentos, além do uso de equipamentos de segurança do tatuador, por exemplo.
A diferença, ressalta o médico, é quando a pessoa idosa a ser tatuada tem alguma doença crônica não tratada ou tratada de forma inadequada. “De forma geral, o idoso tem uma quantidade maior de doenças crônicas, como as cardiovasculares, as neurológicas e o diabetes. No quadro de diabetes não cuidado, por exemplo, qualquer procedimento, mesmo o minimamente invasivo como a tatuagem, o processo de cicatrização precisa ser observado”, explica. Uma dica, diz Mattos, é fazer um check up antes da tatuagem.

