Após Morte
Pesqueira com medo do Aedes aegypti
Sem estrutura para a demanda de pacientes com sintomas de doenças transmitidas pelo mosquito, Pesqueira vive dias de apreensão após morte de adolescente
Por: Rosália Vasconcelos
Publicado em: 08/01/2016 08:17 Atualizado em: 08/01/2016 12:32
Antes de chegar a Pesqueira, a 213km do Recife, o visitante que falar com algum morador da cidade por telefone já é alertado: “Não deixe de passar em uma farmácia no caminho para comprar repelente. Aqui está faltando e é bom tomar cuidado”. A população do município situado no Agreste, que já sofria com as arboviroses transmitidas pelo Aedes aegypti, está com medo após a morte da índia Danielle Marques de Santana, 17 anos, que apresentou os sintomas de chikungunya e contraiu a síndrome de Guillain-Barré, problema neurológico relacionado ao vírus.
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Nas padarias, mercadinhos e praças, sempre há alguém relatando uma história que incluiu sintomas como febre, dores nas articulações e na cabeça e inchaço. Daniella, que pertencia à tribo Xukuru e morreu na manhã da quarta-feira, no Hospital da Restauração, Recife, também é assunto, inclusive no Hospital Lídio Paraíba. Lá, o Diario testemunhou a chegada de pessoas de diferentes idades e classes sociais buscando atendimento.
Alguns não conseguem andar, choram de dor. “Cheguei às 12h. São 15h30 e não fui atendida. E nem há previsão. De lá pra cá só foram chamadas três pessoas e há 20 na minha frente”, contou a cabeleireira Viviane de Melo Vieira, 35.
A Secretaria Estadual de Saúde afirmou que ainda não é possível confirmar o quadro de chikungunya da paciente. Mesmo assim, a 4ª Gerência Regional de Saúde realizará uma investigação de casos suspeitos na região.
O objetivo é ter um diagnóstico rápido da situação para atuar com um bloqueio espacial. O órgão também está identificando os pacientes que tiveram sintomas recentes para saber qual o sorotipo de dengue está circulando na área e também se o chikungunya circula no município. A coordenadora de Controle da Dengue e Febre Chikungunya da SES, Claudenice Pontes, disse ainda que as ações de controle serão intensificadas.
Os serviços de saúde deficitários não são o único problema, segundo prefeito de Pesqueira, Evandro Chacon. Ele aponta a escassez no abastecimento de água, que leva a população a armazenar em baldes e cisternas, sem cuidado. “Há bairros que só recebem água a cada 21 dias. Outros sequer recebem.”
Outro problema é o lixo destinado de forma errada, que retém água. “Decretamos estado de emergência, mas ainda não apareceu o Exército”, justificou Chacon. O prefeito reconhece que o atendimento no Lídio Paraíba não é suficiente para a demanda. Com 35 médicos no quadro, o hospital tem capacidade diária para 120 pacientes, mas vem recebendo 400. “Vale ressaltar que o HLP está atendendo cidades vizinhas. Desde 1983, quando a unidade foi municipalizada, não recebemos recursos externos.”
Saiba Mais
Síndrome Guillain-Barré (SGB)
Doença autoimune que surge após infecção por alguns tipos de vírus e bactérias. Ela acontece quando há a produção errada de anticorpos, que atacam uma substância que recobre os nervos periféricos.
Pode surgir também depois de cirurgias, linfomas, vacinas , HIV
e traumas
Sintomas
g Fraqueza muscular
g Paralisia muscular
g Retenção urinária
g Constipação intestinal
g Taquicardia
g Queda ou aumento da pressão arterial
g Dor nos membros inferiores e superiores
Atinge 1 em cada 100 mil pessoas
5% dos pacientes morrem
Pesqueira
Dengue
l 789 casos notificados
l 739 confirmados
l 11 descartados
l 39 em investigação
Zika
l 4 casos notificados
Chikungunya
l 28 casos notificados
l 1 caso confirmado
l 7 descartados
l 20 em investigação
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