Celebração aconteceu na Matriz de São Sebastião, com a presença de fieis locais e do entorno. Foto: Luis Francisco Prates/Esp. DP

 

A história da Festa de São Sebastião se mistura com a história de Limoeiro, cidade do Agreste pernambucano. A celebração é mais antiga até do que a emancipação política do município: 125 e 122 anos, respectivamente – em abril, a emancipação completa 123 anos. As homenagens prestadas ao santo (protetor dos que sofrem com a peste, a fome e as guerras) começaram em 1891, de acordo com documentos da Paróquia de Nossa Senhora da Apresentação. A festa nasceu da promessa de cura de uma epidemia de varíola, que assolava a então vila de Limoeiro. A doença cessou e a promessa virou tradição.

A festa religiosa tem 10 dias: um novenário e a celebração de encerramento. O encerramento aconteceu ontem com homenagens ao co-padroeiro da cidade – a padroeira é Nossa Senhora da Apresentação. Uma grande procissão que saiu da Igreja Matriz da Paróquia de São Sebastião, no Alto de São Sebastião, com destino à Igreja Matriz da Paróquia de Nossa Senhora da Apresentação, no centro, durou cerca de duas horas e reuniu em torno de 20 mil pessoas, segundo a Guarda Municipal.

O dinheiro arrecadado pela paróquia durante a Festa de São Sebastião deste ano será utilizado na pintura da Matriz de Nossa Senhora da Apresentação, orçada em R$ 110 mil, de acordo com o pároco Marcos Henrique Pontes. O trabalho deve começar já no fim deste mês e deve ser concluído em dois meses. Depois disso, a igreja será fechada para a pintura interna. Durante o período, as missas serão celebradas na Igreja de Santo Antônio.

Fé no sagrado e nas histórias de luta
A maioria dos fieis presentes à festa estava pagando promessa. Caso de Márcia Andrea, de 40 anos, que fez todo o percurso descalça junto à filha Aline Maria, de 13 anos. “Tenho chikungunya já faz alguns meses e estou melhorando. Também estou pagando pela minha filha, que está melhorando nos estudos”, comentou. Aline quer cursar ciência da computação e garante: “Vou pagar promessa se passar no vestibular”.

Todos os anos a procissão sai da Matriz de São Sebastião. Foto: Luis Francisco Prates/Esp. DP

A devoção a São Sebastião também está presente na vida de Damião Gomes, de 73 anos. Ele presta serviços à Paróquia de Nossa Senhora da Apresentação há 45 anos. “Sempre agradeço a Deus por me conceder mais uma oportunidade para viver a festa. É tudo como há 45 anos. A fé do povo permanece e mostra que quando o povo quer ou acredita, Deus aceita”. Ele recorda que a mãe não perdia uma festa e levava todos os filhos.

Da mesma forma, Maria Zilma Burégio, 70, que também presta serviços à Paróquia, acredita que a mística das celebrações está na fé das pessoas. “A cada ano a nossa fé se renova. O número de pessoas que participam aumenta a cada ano, e daí vem a certeza de que a devoção e o agradecimento a São Sebastião também aumentam”, declarou.

 

Pároco da Paróquia de São Sebastião, o Padre Raimundo Araújo recorda um dos maiores colabores da festa: o padre Luís Cecchin, italiano que fez missão na cidade, onde foi pároco das duas paróquias e instituiu cursos profissionalizantes para pessoas carentes através do antigo Centro de Formação de Menores, atual Instituto Padre Luís Cecchin.

A fé também passa pelos mais jovens, como destacam Hortência Manuella Aragão e Emerson Marques, ambos de 24 anos. "Ver todas as graças dadas por Deus através do intermédio do santo me fazem acreditar que há alguém lá nos céus, junto a Deus, com quem eu posso contar", diz Hortência. "Desde criança vi meus parentes e muitos devotos de São Sebastião pedirem algo a Deus pela intercessão do santo e vi todos eles alcançarem milagres. Se você pede algo a Deus e roga a intercessão de anjos e santos, é só confiar", destaca Emerson.

Falecido em 2010, o padre está sepultado na Matriz de São Sebastião, igreja que ele próprio ajudou a modernizar – antes, o lugar era apenas uma capela. O local do seu túmulo recebe visita de fiéis diariamente. “Padre Luís expressa para nós a vontade de mostrar o lado bom da vida. Ele sempre esteve do lado do mais fraco e mais pobre. Para ele, São Sebastião falava no lugar do indefeso e do injustiçado e trazia a coragem de lutar pela vida”, explicou o padre Raimundo.

Vigário da Paróquia de Nossa Senhora da Apresentação, o padre Anael Figueiredo define a procissão de São Sebastião como “um momento para renovar a fé e as esperanças em um mundo melhor e em uma sociedade mais justa, humana e fraterna”. O religioso ressalta a alegria de ver uma multidão enfrentando o sol e calor para seguir a procissão.

“A história de São Sebastião é uma história de luta e de combates. Combate em defesa da fé, dos oprimidos e dos injustiçados. Ele lutou para preservar sua identidade cristã e sua fé, então nós também devemos lutar a cada dia para preservarmos a nossa fé, defendermos a nossa identidade e não nos submetermos ao materialismo, ao consumismo”, afirmou.

 

Economia aquecida em janeiro

O prefeito Thiago Cavalcanti se mostrou entusiasmado com as festividades. “Fico muito feliz por ver visitantes do Brasil todo aqui. Isso atrai o turismo religioso para a cidade. São Sebastião é padroeiro de mais de 600 cidades no nosso país, e Limoeiro tem uma das maiores procissões dedicadas ao santo no Brasil”, declarou.

O prefeito ressalta a importância da festa para a economia da cidade. “Quando chega o mês de janeiro, o comércio de Limoeiro se aquece. Os turistas geralmente vêm das cidades vizinhas do Agreste e da Zona da Mata. Também vem muita gente da Paraíba e do Rio Grande do Norte”, explica. Thiago Cavalcanti promete movimentar ainda mais o município construindo uma imagem gigante de São Sebastião: “No Brasil não tem isso”. O filho do ex-governador Eduardo Campos, João Campos, foi um dos convidados da festa, atendendo um convite do presidente do PSB em Limoeiro, o ex-vereador Joãozinho,