Anomalia Ministério da Saúde investiga aumento de casos de microcefalia em Pernambuco A condição neurológica é rara e já alcançou 90 casos no estado somente neste ano

Por: Adaíra Sene

Publicado em: 04/11/2015 21:00 Atualizado em: 04/11/2015 22:06

O Hospital Oswaldo Cruz é um dos hospitais considerados referência no tratamento da microcefalia. Foto: Helder Tavares/DP/D.A Press
O Hospital Oswaldo Cruz é um dos hospitais considerados referência no tratamento da microcefalia. Foto: Helder Tavares/DP/D.A Press

Por conta do aumento surpreendente das ocorrências de bebês nascidos vivos com microcefalia em Pernambuco, a Secretaria Estadual de Saúde deve divulgar até sexta-feira um protocolo clínico de atuação para os profissionais da área. Somente este ano, já foram registrados 90 casos. A média anual era de nove. O Ministério da Saúde foi alertado e uma equipe está na capital para investigar diretamente nas unidades de saúde.

A microcefalia é uma condição neurológica que se caracteriza quando a cabeça do feto ou do bebê é menor do que a de outros com a mesma idade e sexo. A doença afeta diretamente o desenvolvimento cognitivo e motor dos pacientes. Até o momento, no estado, ainda não há informações sobre mortes em virtude da microcefalia.

A maioria dos nascimentos foi registrada nos últimos três meses. Os casos se concentram no Hospital Barão de Lucena, no Instituto de Medicina Integral Fernando Figueira e no Hospital Universitário Oswaldo Cruz, no Recife. Foram essas unidades que notaram o aumento na incidência e acionaram a Secretaria Estadual de Saúde.

O Imip e o Huoc são considerados referência no tratamento. "Foi visto um padrão inicial e solicitamos a notificação imediata. Até então, através do Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos, só tínhamos conhecimento de 22 casos. Com a notificação obrigatória através de fichas, ligações, formulários online e outros sistemas, o número subiu para 90", esclareceu a secretaria executiva de Vigilância em Saúde, Luciana Albuquerque.

Investigação
O protocolo de investigação epidemiológica que deve apontar os motivos do aumento no índice ainda não tem previsão para ficar pronto. Especialistas do Ministério da Saúde estão investigando os prontuários e entrevistando as mães dos pacientes. "Montamos um Comitê de Operações de Emergência em Saúde, procedimento padrão devido ao evento inusitado. Nos reunimos quase diariamente. Enquanto isso, o protocolo clínico está em fase final e deverá orientar os profissionais sobre como receber e atender esses pacientes", complementou Luciana Albuquerque.

O documento é voltado para infectologistas, pediatras, neurologistas, técnicos de laboratório, entre outros profissionais. Além das equipes da Secretaria Estadual de Saúde e do Ministério da Saúde, profissionais da Universidade Federal de Pernambuco, do Centro de Pesquisa Aggeu Magalhães e da FioCruz também participam da força-tarefa.

Situação incomum em Pernambuco

Em condições normais, a microcefalia é causada, na maioria dos casos, por infecções congênitas, passadas de mãe para filho durante a gestação, como o citomegalovírus, a rubéola e a toxoplasmose. No entanto, em Pernambuco, a situação é diferente. "Notamos características peculiares nos achados da tomografia. Não foi nada relacionado aos tamanhos das cabeças, mas percebemos calcificações e lisencefalia (cérebro com aspecto liso) nos pacientes".

Apesar de não ser possível, por enquanto, definir as reais causas, algumas mães informaram ter apresentado exantema (manchas avermelhadas na pele) durante a gestação. O sintoma está diretamente relacionado à dengue, zika e chikungunya. "É irresponsável dizer que essas doenças são culpadas pela microcefalia. A dengue, inclusive, é a menos provável. Estamos investigando. Pelos achados da tomografia, realmente acreditamos que a causa seja infecciosa, mas é cedo para falar", concluiu a secretaria de Vigilância em Saúde.



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