Lista incômoda Sete situações de sexismo no cotidiano das brasileiras Muitas vezes naturalizada pela sociedade, discriminação baseada no sexo revela uma realidade silenciosa de violência, opressão e abuso. Estereótipos precisam ser desafiados

Publicado em: 02/10/2015 13:00 Atualizado em: 02/10/2015 14:32


Dentro das casas, nos ambientes profissionais, nos espaços públicos e privados, o sexismo é escancarado – e por vezes institucionalizado - no Brasil. De tão naturalizada, no entanto, uma das faces mais aparentes do patriarcado faz-se dissimulada. Por trás das estatísticas que mostram que mulheres ganham, em média, 30% a menos que os homens, que as meninas brasileiras gastam um terço do tempo livre com tarefas domésticas e de preocupantes 500 mil casos de estupro todos os anos, revela-se uma realidade silenciosa de privações diárias, opressão, discriminação e abusos. O Diario conversou com famílias e estudiosos sobre o assunto e listou 7 situações cotidianas em que o sexismo acontece. 

1. Licença paternidade vs Licença maternidade

Nasce um bebê e junto com sua chegada o peso do sexismo: o pai ganha cinco dias para ficar em casa, a mãe tem de quatro a seis meses. Ali determina-se quem é o principal cuidador desta criança. No caso, a principal cuidadora. Regularizada pela legislação, a diferença gritante entre o tempo de afastamento entre pais e mães, acaba por legitimar a ausência dos homens no processo de cuidado dos filho e reforça o papel sexista do provedor que não precisa se envolver na educação das crianças – vivenciado e estimulado há séculos na sociedade. 

“Quando você tem essa diferença tão grande entre as licenças, você não só está incentivando a não responsabilização desse pai, mas está excluindo dele o direito de cuidar do próprio filho e está descartando essa possibilidade. Além disso, há o peso e a consequência para as mulheres, porque o que parece um privilégio do afeto, do cuidado, passa a ser sinônimo de privações, um peso”, reflete um dos coordenadores do Núcleo de Estudos de Gênero e Masculinidades (Gema) da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Jorge Lyra.

Daniel Lima, estudioso sobre saúde do homem e licença paternidade, acredita que a diferença entre as licenças é uma das formas institucionalizadas do sexismo e do machismo. “A lei das licenças reflete o que a gente vive na sociedade. Reflete esse machismo, esse sexismo e a heteronormatividade, porque não prevê casais homossexuais e relações homoafetivas”, aponta. 

“Chegou para a gente a história de um homem, trabalhador de uma empresa privada, que teve um bebê e quando a mãe faleceu ele ficou com os cuidados. Precisou de um processo judicial, porque a empresa se negou. Ele conseguiu, na Justiça, o tempo igual ao da licença maternidade”, conta Jorge Lyra, do Gema. 

Ainda não existe um consenso formado sobre qual seria o modelo mais adequado, mas os movimentos relacionados à maternidade e paternidade ativas, têm defendido a ideia de uma licença parental. Em experiências internacionais, o modelo não apenas tem fortalecido a relação entre as famílias, mas também tem tom de equidade. Presente em países como Canadá, Noruega e Suécia, os modelos que estimulam e possibilitam a participação dos pais nos cuidados dos filhos têm refletido resultados instigantes. “As pesquisas mostram que nos locais onde a licença paternidade é maior o período de amamentação aumenta, o que é fantástico para a criança. É comprovado também que fortalece os vínculos, que tendem a ser mais duradouros quando o homem está presente nos primeiros momentos. Ainda há indícios de que isso promove igualdade de gênero porque quando o homem fica mais em casa ele começa a fazer coisas que não fazia antes, amplia esse contato com o ambiente doméstico, o que reflete numa vida mais compartilhada dentro da família”, explica Daniel Lima. 

Para o estudioso, trata-se de uma possível revolução. “É uma possibilidade dos homens repensarem o universo do trabalho, das relações familiares. Uma revolução dentro da família, dentro de si mesmo, uma possibilidade de expressar seus sentimentos, suas dores, afetos, de maneira livre e também de crescer. A paternidade é muito importante para isso.” 

2. Coisa de mulher 

Sílvio Damião, 40, trabalhava com venda de materiais de construção quando resolveu, há 15 anos, largar tudo para virar cabeleireiro. Casado com uma mulher há 24 anos, ele passou a ser rotulado como homossexual desde que trocou o ambiente totalmente masculino pelo universo feminino.
 
Sílvio Damião convive com o rótulo de homossexual desde que trocou o ambiente masculino de um armazém de construção pelo universo feminino de um salão de beleza. Foto: Rafael Martins/ Esp. DP/ D. A. Press
Sílvio Damião convive com o rótulo de homossexual desde que trocou o ambiente masculino de um armazém de construção pelo universo feminino de um salão de beleza. Foto: Rafael Martins/ Esp. DP/ D. A. Press

“Tenho uma cliente muito antiga e uma vez nos encontramos no banco e ofereci uma carona. Conversamos o caminho inteiro, inclusive sobre nossos filhos, e quando paramos ela disse que só aceitou a carona porque sabia que eu era gay. Tem sempre essa suspeita”, conta Damião, que diz não se incomodar. “Eu até acho engraçado, porque não me afeta e lido com outros preconceitos mais pesados, já que sou negro e tatuado”, explica. 

A divisão dos papeis de meninas e meninos começa na infância e o momento da escola evidencia bastante isso. Desde cedo se aprende que os meninos jogam futebol e as meninas fazem dança, por exemplo, e quem não se permite ser enquadrado nestes papéis polarizados tende a ser discriminado. 

Para um dos coordenadores do Gema (Núcleo de Estudos em Gênero e Masculinidades) da UFPE, Jorge Lyra, trata-se de uma expressão forte e insistente do sexismo. “Essa ideia é muito comum. Mesmo quando a gente é esclarecido, ainda causa um estranhamento ver meninas e mulheres em algumas posições, isso é naturalizado”, critica Lyra. 

3. Mercado de trabalho 

Estima-se que as brasileiras recebam salários, em média, 30% menores do que os dos homens. A taxa de desemprego também é maior entre elas, que ainda correspondem a 90% do total de empregados domésticos no país. Atraídas por setores menos privilegiados da economia, como comércio e serviços, ainda são minoria na indústria e na construção civil. 
Brasileiras recebam salários em média 30% menores do que os dos homens e correspondem a maior parcela de desempregados do país. Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado
Brasileiras recebam salários em média 30% menores do que os dos homens e correspondem a maior parcela de desempregados do país. Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado

Na administração pública, onde o acesso é garantido através de seleções públicas, a presença feminina é um pouco maior, já que as vagas são disputadas em termos de igualdade, mas nem neste setor o sexismo dá trégua. “É onde a diferença de rendimentos é menor, mas ainda existe porque, em geral, os homens vão ocupando cargos por indicação, com mais gratificações, como gerências. Porque mesmo sendo servidora de carreira, a mulher é menos indicada”, aponta a analista do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Milena Prado. 

A presença massiva na educação e na saúde – onde os salários também tendem a ser menores -  reforça a ideia de que mulheres são mais indicadas para lidar com crianças e cuidados. “Na saúde, por exemplo, elas são mais presentes como técnicas ou enfermeiras, mas nem tanto como médicas ou em alguma função da gestão”, explica Prado. “Na indústria o rendimento da mulher ainda é menor, mas é menos desigual do que, por exemplo, no serviço e no comércio”, avalia. 

Para a analista, a má divisão das responsabilidades domésticas e familiares também é um aspecto da cultura que enxerga o trabalho da mulher como menos valioso. “Quando você não libera o homem para que saia para cuidar de um filho doente ou algo do tipo, você reforça esses papéis e isso precisa ser incorporado, porque o mercado de trabalho é um espaço significativo da nossa vivência na sociedade e ela ainda é marcada, em tempos como hoje, por desigualdade de rendimento e acesso a oportunidades”, critica Prado, que afirma ainda que no caso da mulher negra há uma dupla discriminação. 

A especialista também destaca uma prática comum no setor privado, para camuflar a discriminação, com a criação de cargos para justificar salários maiores para as mesmas funções. “Você muda o nome da função e garante que o homem ganhe mais”, explica Prado, que comemora o aumento da inserção das mulheres no mercado de trabalho, mas pondera: “Elas entraram mais em ocupações que pagam até dois salários mínimos, em média. Ainda somos absorvidas por ocupações que pagam menos e na situação de crise somos as primeiras a irem embora”. 

4. Só as mulheres cuidam das crianças

Na casa do casal Laura Melo, 29, e Fel Viana, 31, pais de Azuh, dois anos e meio, e do recém-nascido Ita, é quase sempre do pai a função de trocar as fraldas. A dinâmica, criada para facilitar a divisão das tarefas, funciona pouco na rua, onde os trocadores e fraldários são quase sempre dentro dos banheiros femininos.
 
"A gente vê  incentivo à paternidade, mas na prática o trocador é no banheiro feminino e a licença paternidade, uma piada sem graça", reclama Laura, ao lado do marido e dos filhos. Foto: Hesiodo Goes/Esp. DP/D.A
"A gente vê incentivo à paternidade, mas na prática o trocador é no banheiro feminino e a licença paternidade, uma piada sem graça", reclama Laura, ao lado do marido e dos filhos. Foto: Hesiodo Goes/Esp. DP/D.A

Semana passada o casal estava em uma loja, no Recife, quando o primogênito fez cocô. A estrutura só exista no banheiro das mulheres e foi da mãe a responsabilidade de trocar o pequeno. Na saída, o caçula também precisou trocar a fralda e o pai, apesar da disposição, não tinha onde cuidar do filho. Laura lamenta que não seja algo pontual. "Sempre acontece e em todas as vezes Fel quer entrar. Mas também acho desconfortável para outras mulheres que usam banheiro e não têm nada a ver com a falta de estrutura das empresas", pondera. 

Fel, que antes ficava com raiva, diz que hoje se sente triste. “A própria sociedade e, fundamentalmente, as crianças perdem com isso, com essa relação unilateral”, critica o professor, que vê a situação como paradoxal. “A gente vê campanhas e incentivos sobre a participação do pai, incentivo à paternidade, mas na prática o trocador é no banheiro feminino e a licença paternidade uma piada sem graça”, critica. 

Jorge Lyra aponta que as mulheres são sempre as cuidadores exclusivas, não apenas das crianças, mas dos idosos e dos doentes também. Ele acredita que os espaços deveriam ser pensados para quem precisa do cuidado, que vai conseguir receber assistência do seu cuidador, seja ele quem for.  O coordenador do Gema frisa ainda que não é apenas no fraldário que o sexismo se apresenta quando assunto é o cuidado com as crianças. “Nesse mesmo circuito entram os espaços como berçários, creches, pré-escolas. São poucos os homens na situação de cuidado. Isso mostra como as relações de gênero vão se construindo.  É sexista porque entende que esse homem não poder ser capaz de cuidar de uma criança e pela paranoia de que ele pode ser um abusador”, aponta. 

5. Garanhão vs Puta 

Falar sobre liberdade sexual é escancarar sexismo. A sexualidade é um dos fatores principais que embasam o sistema de dominação das mulheres através de seus corpos, e enquanto os homens são criados para serem garanhões, terem diferentes parceiras, as mulheres que desfrutam da mesma autonomia são taxadas como putas e constantemente desvalorizadas. 

Para a educadora e pesquisadora do SOS Corpo, Carmen Silva, a liberdade sexual é uma luta feminista das mais importantes. “Hoje não é diferente do começo do século passado quando os homens, inclusive casados, tinham várias relações e isso era aceito, embora velado, enquanto as mulheres casavam e mantinham os mesmos parceiros por muitos anos. Isso porque o valor conferido aos homens é maior. Quando você fala, por exemplo, em 'homem público', você pensa numa figura respeitada, mas a 'mulher pública' é uma puta”, aponta.
A sexualidade é um dos fatores principais que embasam o sistema de dominação das mulheres por meio de seus corpos. Foto: Léo Pinheiro/ FP
A sexualidade é um dos fatores principais que embasam o sistema de dominação das mulheres por meio de seus corpos. Foto: Léo Pinheiro/ FP

A pesquisadora acredita que é uma estrutura consolidada na nossa cultura, mas não imutável, e lembra que as mulheres divorciadas, por exemplo, já sofreram muito preconceito, algo que hoje é entendido de outra forma. “Antes filhos de mães solteiras sofriam muito nas escolas, por exemplo. Hoje em uma turma de 20 alunos, 10 são filhos de pais divorciados. Mas a luta é muita intensa”, explica. 

Dentro da discussão sobre liberdade sexual, um aspecto tem ganho espaço no debate virtual sobre feminismo e machismo. A especulação de que as mulheres fingem orgasmo e de que, por tanto, não seriam tão livres, entrou na pauta, e cai como uma provocação para homens e mulheres. Carmen Silva diz que não existem elementos, estudos, que fundamentem essa afirmativa. 

Ela diz, no entanto, que é possível que isso aconteça justo pela situação de dominação que também se expressa no ato sexual. Neste entendimento, a mulher finge prazer para não deixar o parceiro descontente, porque ela é subordinada ao prazer dele. 

“As vezes o discurso de liberdade sexual não corresponde a prática, mas esse discurso é sempre cerceado pelos condicionantes da realidade social. Então, a mulher que tem esse discurso também vive sua prática a partir do condicionamentos que a sociedade impõe. Que entre as amigas vai conversar abertamente, mas entre os pais não. Ou que é lésbica e vive um relacionamento, mas no seu trabalho não pode falar sob o risco de perder o emprego. Não é só uma decisão pessoal, está condicionada ao contexto”, defende a especialista, que pondera com uma provocação. “Acho que cabe perguntar se toda ejaculação masculina significa orgasmo. Acho que não, mas como saber? Mas é claro que a posição faz com que ele tenha menos necessidade de fingir e não se colocar preocupado com o prazer de sua parceira”, diz. 

A construção desses papéis também é danosa para os próprios homens, que não podem declinar dos rótulos que lhe foram impostos, segundo a reflexão do coordenador do Gema, Jorge Lyra. “Ao mesmo tempo que as mulheres se tornam putas pelo julgamento da sociedade, os homens ficam na posição de quem não pode negar. A gente é obrigado a responder, precisa se mostrar viril, um sujeito incontrolável, já que os hormônios regem nossa vida, nosso pênis”, aponta. 

6. Banheiros binários 

Com o aumento da visibilidade das questões trans, o banheiro virou uma zona de conflito. Afinal, numa sociedade que define espaços a partir de esteriótipos, onde e como enquadrar corpos que não se permitem caber em tais rótulos? As dúvidas sobre que corpos são esses e quem está por trás, ou melhor, neles, acaba gerando desconforto para mulheres e homens cisgêneros. Para resolver o embate, há quem defenda banheiros unissex e quem acredite que o terceiro banheiro seria a solução.
 
Com o aumento da visibilidade das questões trans, o banheiro público virou uma zona de conflito, com defensores até de um terceiro ambiente, além do binário  masculino X feminino. Foto: Blenda Souto Maior/Arquivo DP/D.A Press
Com o aumento da visibilidade das questões trans, o banheiro público virou uma zona de conflito, com defensores até de um terceiro ambiente, além do binário masculino X feminino. Foto: Blenda Souto Maior/Arquivo DP/D.A Press

Na polarização entre macho e fêmea, pênis e vagina, qualquer variação que fique fora das plaquinhas indicativas da porta não cabem naquele espaço de convivência. Humilhadas em banheiros femininos e agredidas nos banheiros masculinos, as mulheres trans, por exemplo, são excluídas desse espaço. “Só que na hora que essa pessoa precisa usar o banheiro, é apenas um cidadão, que não é isento de impostos, que tem os mesmos deveres mas não os mesmos direitos que todo mundo. Quantos banheiros a gente precisa criar ou como conseguir ter uma convivência mais harmoniosa independentemente de qualquer coisa?”,  aponta o coordenador do Gema, Jorge Lyra. 

Coordenador de projetos de diversidade sexual do Instituo Papai, Thiago Rocha não defende a criação do terceiro banheiro e acredita que o melhor caminho é a aproximação e não o contrário. “Fico pensando, se em casa a gente usa o mesmo banheiro, tanto homens quanto mulheres, por que não ter um banheiro só nos espaços públicos?", questiona Rocha, que afirma compreender, no entanto, o problema de segurança enfrentado pelas mulheres. "Entendo o risco, mas não defendo terceiro banheiro porque se cria essa ferramenta, qualquer LGBT vai ser colocado lá. Não acredito nessa separação", diz. 

Pesquisador do Gema, o psicólogo Tiago Corrêa lembra que o problema vai além da questão LGBT. "Tenho uma amiga que perdeu a mãe com quatro anos e foi criada pelo pai. Essa questão do banheiro foi importante e às vezes era preciso pedir ajuda de uma estranha. Pensamentos muito na questão das trans e travestis, mas o binarismo está implicado a todo mundo", aponta. 

Destacando o quanto a discussão é delicada, Corrêa pontua a vulnerabilidade das mulheres nos banheiros unissex e o medo de abusos, mas questiona o esteriótipo do homem abusador. "Que tipo de homem está no imaginário coletivo, que não pode resistir, como se todo homem fosse um abusador? Isso é necessário problematizar, inclusive porque é bastante heteronormativo você achar que nos banheiros femininos não vá ter desejo sexual", critica o psicólogo, que se intriga com a criação de categorias de pessoas humanas. "Tem a ver com o modo como encaram sexualidade, construções de gênero e o terceiro banheiro não vai dissolver isso. Quantos banheiros precisaríamos criar?"

7. Publicidade

Toda propaganda de cerveja é quase sempre a mesma coisa: mulheres seminuas, trocadilhos e muita sensualidade. O público alvo: homens. Já as propagandas de produtos de limpeza, temperos ou eletrodomésticos, sempre destinadas às mulheres. A mudança lenta, porém real, de conceitos e entendimento sobre as questões de gênero, no entanto, acaba provocando também o setor e outras formas de discurso estão sendo incentivadas.
 
Mercado publicitário começa a sentir a pressão de grupos incomodados com clichês machistas, como os usados para vender cerveja. Foto: Reprodução/Internet
Mercado publicitário começa a sentir a pressão de grupos incomodados com clichês machistas, como os usados para vender cerveja. Foto: Reprodução/Internet

Responsável pela área digital da agência recifense CASA Comunicação, o publicitário Ricardo Mello, 25, faz parte de uma geração formada no olho deste furacão. Ele explica que o setor sempre foi muito pautado pelas mídias de massa e usou dos esteriótipos para se comunicar, o que começa a mudar com a internet e sua possibilidade de voz. "O discurso está caminhando para algo mais realista e menos idealista", aponta Mello, que pondera, não é algo para agora. "A publicidade acaba sendo uma das últimas formas de comunicação a se mexer sobre essas questões, principalmente quando falamos de TV. Não tenho dúvida de que vamos continuar assistindo propagandas com tom machista, sexista. Da mesma forma como não tenho dúvida de que as pessoas vão reclamar e vão reclamar cada vez mais. Existe o CONAR para isso. Existem as redes sociais pra isso. Não gostou? Se sentiu incomodado? Reclame. Quanto mais as pessoas reclamarem, mais rápido o discurso publicitário se adequará." 

No Dia dos Namorados, a marca de cosméticos O Boticário resolveu sair da zona de conforto e mostrou casais gays em sua campanha comemorativa. No caso, a repercussão  começou com um boicote e terminou com um aumento de vendas dos produtos da marca, mas adotar o discurso de igualdade ainda não é garantia de sucesso. Para Mello, são “passos importantes e que não têm volta.” 

Em casos polêmicos, a própria repercussão é uma forma de provocação. A CASA Comunicação, por exemplo, convidou este ano a transativista Maria Clara Araújo para um debate sobre identidade de gênero e machismo dentro da agência. “"A conversa foi muito produtiva, pedimos para ela analisar alguns cases de campanhas que sofreram críticas por possuírem um discurso machista ou preconceituoso", conta Mello, que diz acreditar mais nos publicitários do que na publicidade para romper a lógica e os esteriótipos sexistas. "Acredito mais ainda nas mulheres, nos gays, nos negros, que estão ocupando cada vez mais cargos criativos nas agências e vão mudar essa lógica de um jeito ou de outro.” 



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