Sou do Bem no Trânsito Exemplo dos pais é fundamental para educar os filhos no trânsito Na sétima reportagem da campanha Sou do Bem no Trânsito, a ser publicada até o próximo dia 25, o Diario explica porque é importante repensar as atitudes ao volante.

Por: Alice de Souza - Diario de Pernambuco

Publicado em: 07/09/2015 14:00 Atualizado em: 07/09/2015 15:07

Casal Anderson e Carleana Alves alterna transporte para levar os filhos à escola. Quando vão de bicicleta, fazem questão de alertar os filhos para os cuidados no trânsito e mostrar o ganho de tempo.  (Rodrigo Silva/Esp DP/D.A Press)
Casal Anderson e Carleana Alves alterna transporte para levar os filhos à escola. Quando vão de bicicleta, fazem questão de alertar os filhos para os cuidados no trânsito e mostrar o ganho de tempo.
Passageiros de uma geração impaciente e acelerada, as crianças têm sido a cada ano mais vítimas de acidentes de trânsito. A cada três horas, uma menino ou menina de até 14 anos sofre no mínimo escoriações decorrentes de uma colisão em Pernambuco. Tirar o pé do acelerador não significa somente proteger os pequenos, mas transformar a dinâmica do trânsito, a médio e longo prazo, usando uma arma simples e potente: o exemplo.

“Dar exemplo é fundamental, é coerência. Obrigar-me a seguir as leis mostra às minhas filhas que outro comportamento é possível e melhor para todo mundo. É pensar para o coletivo.” O raciocínio é do designer gráfico Cláudio Tavares de Mello, 50 anos. Pelo menos três vezes por semana, ele leva as filhas à escola, nas Graças. Dentro do carro, faz questão de observar a sinalização. “Jamais” para em fila dupla ou em cima da faixa de pedestres. Se for preciso, estaciona no próximo quarteirão para cumprir a legislação.

Na sétima reportagem da campanha Sou do Bem no Trânsito, a ser publicada até o próximo dia 25, o Diario explica porque é tão importante pensar como Cláudio, apesar de raro. “As pessoas vão buscar os filhos no colégio e precisam parar na porta. Muitas vezes, só para mostrar o automóvel bom que têm. É um resquício da época colonial, na qual só quem andava a pé eram os escravos”, contextualiza o antropólogo Roberto DaMatta.

Enquanto se esforça para manter a coerência, Cláudio contabiliza as infrações alheias. “O discussão é levantada em sala de aula, mas os próprios pais deseducam. É impressionante.” Situações lembradas por ele, como estacionar na faixa de pedestres, pode ser a mola propulsora para  formar um motorista infrator.
“A criança e o adolescente são super observadores. Se o adulto continua insitindo na conduta e nunca é punido, eles concluem que não há problema em infringir as leis”, acrescenta o consultor em educação de trânsito e sociólogo Eduardo Biavati.

Via de mão dupla

Quando a educação para o trânsito é descontruída em casa, muitas vezes é pela vigilância infantil que ocorre a reeducação paterna. Depois de somatizar uma sequência de brigas entre pais na frente da escola, o Colégio Fazer Crescer iniciou uma campanha de conscientização. Há 10 anos, começou com fichas circulares, depois reuniões e eventos. Solicitou apoio do município, mudou o sentido da via e até implantou uma faixa de pedestres em nível. Nada adiantava.

A última tentativa consistiu em pedir aos alunos para conscientizar os pais. Então, tudo começou a mudar. “Não foi fácil. A educação se dá muitas vezes pela insistência. Houve um trabalho de corpo a corpo e há mais três anos começamos a observar os resultados, uma comunidade mais polída”, pontua Gláucia Lira, diretora de Marketing e Novos Projetos do Cfc.

Educação deve continuar na adolescência

O trabalho bem feito na infância não significa que a criança levará os conhecimentos de trânsito para a vida adulta. Entre 2009 e 2013, 199 pessoas entre 10 a 14 anos morreram vítimas de acidentes de trânsito em Pernambuco. Com a proximidade da permissão para dirigir e nos anos seguintes, esse número tende a crescer. Em todo o mundo, os acidentes já são a maior causa de morte entre os jovens. No Brasil, eles só perdem para os homicídios quando o recorte é na faixa etária de 18 a 24 anos.

“Não temos sido competentes em preparar as crianças para chegar à adolescência. Educação para o trânsito é uma conversa que deve acontecer em vários momentos. A criança é passageira e assume outros papéis ao longo da vida, sofre outras influências”, lembra Eduardo Biavati.

Para evitar que o conhecimento obtido em sala de aula se perca, a psicóloga Carleana Alves, 32, e o empresário Anderson Alves, 39, começaram a alternar as idas à escola entre carro e bicicleta. Além de evidenciar a diferença de tempo, lembram da questão da saúde. “Temos dois guardas de trânsito em casa, que regulam tudo o que fazemos, mas sabemos da necessidade de manter isso”, ressalta Carleana.

Neste ano, a Companhia de Trânsito e Transporte Urbano do Recife (CTTU) incluiu pela primeira vez as universidades nas atividades de educação para o trânsito na volta as aulas. O órgão estuda criar um projeto permanente com jovens. “O alerta da Organização Mundial de Saúde (OMS) para a epidemia de morte de adolescentes em acidentes de trânsito chamou a nossa atenção. Era um vácuo, pois trabalhávamos apenas com as crianças”, admitiu Francisco Irineu.
 



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