O batuque que nasce do silêncio Com alfaias, os músicos surdos tocam ritmos tradicionais como o maracatu guiados por luzes e vibrações. A banda Batuqueiros do Silêncio é uma das atividades da Associação dos Surdos de PE

Por: Thais Arruda - Diario de Pernambuco

Publicado em: 01/08/2015 18:12 Atualizado em:

Para tocar na banda os surdos são guiados por luzes e vibrações. Fotos: Brenda Alcântara/Esp DP/D.A.Press
Para tocar na banda os surdos são guiados por luzes e vibrações. Fotos: Brenda Alcântara/Esp DP/D.A.Press
Nas esquinas e bancos da Avenida Conde da Boa Vista, no Recife, um grupo de pessoas surdas se reunia para conversar. Pouco antes de 1985, o grupo ainda improvisava um espaço de convivência, sonhando com o dia em que poderiam ter um lugar próprio. E conseguiram. Há 30 anos era criada a A Associação de Surdos de Pernambuco (ASSPE), além das conversas eles aproveitaram o espaço para atividades culturais. Umas delas é uma espécie de xodó de quem não ouve, mas enxerga a música. A banda Batuqueiros do Silêncio, não faz apenas barulho, mas também realiza sonhos.

O grupo musical trouxe uma nova maneira de mobilizar a comunidade surda. A iniciativa de trazer a música para surdos partiu de Irton Silva, 42 anos, mais conhecido como Batman. “O resto é silêncio”, curta metragem brasileiro que inspirou a criação de projetos de música para surdos recifenses, também foi essencial para a base do grupo de batuqueiros.

“Em abril de 2009, eu não sabia nada de libras, mas aceitei o desafio. Quando cheguei com a proposta de levar música para surdos, percebi uma reação negativa das pessoas e uma superproteção com quem é surdo. Após aulas de teoria musical fiz o teste com o metrônomo visual”, relatou Irton Silva.

O metrônomo visual é um aparelho de madeira semelhante a uma extensão elétrica que funciona com diversas lâmpadas. Cada lâmpada tem uma cor ou intensidade diferente, o que determina a intensidade da nota musical.

Com alfaias, os músicos tocam ritmos tradicionais como o maracatu guiados por luzes e vibrações. “Eu tinha vontade de participar de um coral de libras, mas muitas pessoas diziam que não faria sentido um surdo participar de um coral, já que não tinha som. Apesar de ter sido desmotivada eu encontrei no Batuqueiros do Silêncio meu caminho”, afirmou Karina Guimarães, 30 anos, membro do grupo.

Hoje, cerca de 1,5 mil surdos usam o espaço para ajudar a superar as adversidades do dia a dia. “Convivendo com ouvintes eu só me comunicava através da leitura labial. Após passar um tempo na Alemanha um amigo me falou sobre a ASSPE e eu decidi conhecê-la. Ao voltar para Pernambuco fui apresentado a uma linguagem própria e a um amplo convívio social”, contou René Ribeiro, 38 anos, presidente da associação.



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