Sem condições A difícil mobilidade dos pedestres Ocupação indevida das calçadas, buracos, lixo e até lama fazem dos deslocamentos diários no Recife um tormento. Assunto é tema de MBA

Por: Larissa Rodrigues - Diario de Pernambuco

Publicado em: 22/08/2015 09:00 Atualizado em: 21/08/2015 21:51

Buracos e desnível no piso atrapalham o caminhar do pedestre (Joao Velozo/Esp. DP/D. A Press)
Buracos e desnível no piso atrapalham o caminhar do pedestre
Andar a pé é uma atitude simples e que, em geral, faz bem à saúde e facilita a mobilidade urbana. Mas no Recife acaba sendo uma das tarefas mais complicadas, apesar de um terço da população da Região Metropolitana - 1,5 milhão de pessoas - se deslocar a pé. Entre as maiores queixas dos pedestres está a obstrução das calçadas pelo comércio informal, lixo e buracos, problemas não exclusivos das periferias. Na Rua do Espinheiro, uma das mais famosas do bairro de mesmo nome, na Zona Norte, simplesmente não há por onde caminhar. Além das calçadas estreitas, as árvores ocupam parte do espaço do passeio.

Os problemas da mobilidade do pedestre e a falta de políticas públicas permanentes estão ocupando cada vez mais as discussões e chegou ao meio acadêmico. Neste sábado (21), será realizada a aula inaugural do MBA em Gestão da Mobilidade Urbana, na Faculdade IBGM, Boa Vista. O gestor institucional da pós-graduação da IBGM, Airton Vasconcelos, destacou que a ideia surgiu com a nova necessidade da sociedade. “Tudo atualmente é voltado para a mobilidade urbana. Um dos objetivos é formar especialistas para contribuir com o setor no Recife a médio prazo”, comentou.
 (Allan Torres/Esp/DP/D.A Press)


Se agora a sociedade se voltou para a mobilidade é porque o tema foi negligenciado e ignorado por anos. Os problemas começaram bem lá atrás. É o que aponta a arquiteta especialista em acessibilidade e assessora técnica do Conselho de Arquitetura e Urbanismo Ângela Cunha. “O Recife, como todas as grandes cidades do Brasil, não passou por um processo de planejamento e cresceu desordenadamente”, afirmou.

Por isso, que pessoas como a aposentada Marival de Queiroz Amaral, 77 anos, sofrem hoje em dia as consequências do descaso do passado. Moradora da Rua do Espinheiro há dois anos, ela gosta de andar a pé e fazer bem à saúde. Mas seu hábito virou um tormento. “Os carros estacionam nas calçadas, que já são pequenas por causa das árvores, e tenho que andar pelo meio da rua, ficando sujeita a ser atropelada”, lamentou.

Coordenador do MBA da Mobilidade, Ivan Cunha pontuou que há soluções. “Algumas cidades fizeram esforços para utilizar calçadas de forma mais adequada, com a divisão de responsabilidade entre poder público e moradores. São José dos Campos, em São Paulo, é um exemplo.”

No Recife, já se cogitou essa parceria por meio de um estudo de 2014 do Instituto Pelópidas Silveira. A ideia era que condomínios devolvessem espaços às calçadas fazendo um recuo no muro do imóvel e em troca o município bancaria a obra. Mas não chegou a ser implementado. De acordo com a Secretaria Municipal de Planejamento, o estudo está sendo revisado para ser incorporado ao Plano de Mobilidade do Recife, sem data para ser anunciado.
 (Nando Chiappetta/Esp.DP/D.A Press)


Ações para desobstruir passeios


Há dois anos a Secretaria de Mobilidade e Controle Urbano iniciou a Operação Bairro Legal, que começou por Boa Viagem, na Zona Sul, mas tem sido intensificada em vias da Zona Norte, como Estrada dos Remédios e Avenidas Beberibe, Norte e Abdias de Carvalho. O trabalho consiste, basicamente, na retirada de obstáculos para os pedestres, como pinos de ferro, barracas de comércio irregular, entre outros.

De acordo com a Semoc, desde o início de 2013 até agosto deste ano, os fiscais da secretaria retiraram das calçadas 1422 pinos de ferro e 478 barracas ilegais, entre outros empecilhosa. Além disso, 3.500 notificações por uso indevido do passeio público foram emitidas pela pasta no período. E em maio de 2013, a Prefeitura do Recife anunciou investimento de R$ 20 milhões para recuperar calçadas e construir rampas de acessibilidade. Até agora 40 quilômetros de calçadas foram recuperadas.

A Semoc também tem trabalhado no reordenamento do comércio informal no Centro do Recife. Ao todo, cerca de 500 ambulantes não cadastrados deixaram de ocupar irregularmente o passeio público do centro da cidade. Além disso, os ambulantes cadastrados autorizados a comercializar nas vias, adequaram seus equipamentos de venda e utilizam bancas de um metro quadrado, com o intuito de causar menos danos à mobilidade.

Saiba mais:


Obstáculos retirados das calçadas do Recife desde 2013
1422 pinos de ferro
478 barracas ilegais
494 cavaletes e cones
76 jardineiras/caqueiras
3.500 notificações por uso indevido do passeio público foram emitidas
500 ambulantes não cadastrados deixaram de ocupar irregularmente o passeio público do centro da cidade.

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