Ganhe o Mundo Livro e dicionário diretos do lixo Junto com o marido, Edileuza Trajano selecionava os livros em meio à sujeira até construir em casa uma minibiblioteca

Por: Anamaria Nascimento

Publicado em: 27/06/2015 13:40 Atualizado em:

Catadora Edileuza da Silva Trajano ganha a vida catando latas e lixo reciclável. Crédito: Nando Chiappetta/DP/D.A Press.
Catadora Edileuza da Silva Trajano ganha a vida catando latas e lixo reciclável. Crédito: Nando Chiappetta/DP/D.A Press.
O sustento na casa de Edileuza da Silva Trajano, 38 anos, veio do que os moradores de bairros nobres do Recife descartam no lixo e das festas e eventos da cidade. Catadora de materiais recicláveis, ela sai de casa diariamente numa jornada exaustiva à procura do que para muitos não têm mais valor. Foi do lixo que ela tirou os livros e dicionários usados na escola pelas três filhas e os dois filhos.
Edileuza escolheu ser catadora de resíduos recicláveis, apesar de a atividade ser insalubre, por um motivo: acompanhar a educação das filhas de perto. “Meus horários são flexíveis sendo catadora. Outras atividades me cobrariam rigidez de horário. Com meu trabalho, conseguia levá-las diariamente na escola, participar de reuniões com os professores e orientar na realização das tarefas”, explica.

A mãe de Stella Roseno, que viajou aos Estados Unidos pelo Programa Ganhe o Mundo, só estudou até a 4ª série do ensino fundamental. “Esse é mais um motivo para eu ter incentivado tanto os estudos. Queria que elas aprendessem a lição de que é possível ter uma vida melhor estudando”, diz.
O marido, carroceiro, ajudava a mulher a selecionar os livros em meio à sujeira. “Livros didáticos, infantis, de literatura. Tudo isso eu conseguia e levava para elas quando voltava para casa. Acabou virando um hábito e todas gostam de ler. Temos uma minibiblioteca em casa”, conta.
Das três filhas, só Stella tinha a ambição de ler em inglês.
“Desde pequena ela falava que queria falar inglês, que gostava da língua. No curso do Ganhe o Mundo, ela ficou muito angustiada com as notas e disse que estava precisando de um dicionário. Penso que foi providência divina, mas encontrei um dicionário português-inglês-português nesse mesmo dia”, lembra.

A filha se orgulha da trajetória da mãe e reconhece que, sem ela, não teria feito o intercâmbio. “Meus amigos a chamavam de catadora de lixo e me hostilizavam por isso. Nunca fiquei triste ou com vergonha. Pelo contrário, sempre defendi minha mãe. Ela lutou muito por mim e eu só tenho a agradecer”, afirma a filha, orgulhosa. “Eu nunca teria condições de proporcionar essa experiência a ela, mas fiz o que estava dentro das minhas condições e sei que ela reconhece isso”, completa a mãe.

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