Sustentabilidade Verticalização compromete abastecimento de água Aumento no número de moradores de uma área, com vários apartamentos no lugar de uma casa, por exemplo, impacta no consumo e na geração de efluentes. A questão é matemática

Por: Tiago Cisneiros

Publicado em: 05/05/2015 15:44 Atualizado em: 05/05/2015 16:04

Em tese, o crescimento demográfico e a verticalização não deveriam afetar o abastecimento, já que seguiriam um "horizonte de alcance", mas não é o que se observa na prática. Foto: Paulo Paiva/DP/D.A Press
Em tese, o crescimento demográfico e a verticalização não deveriam afetar o abastecimento, já que seguiriam um "horizonte de alcance", mas não é o que se observa na prática. Foto: Paulo Paiva/DP/D.A Press
 

Temas de diversos debates nos últimos anos, a verticalização e o crescimento desordenado aparecem entre os principais desafios ao abastecimento urbano de água. A transformação de terrenos e casas em edifícios provoca, segundo especialistas e diretoria da Companhia Pernambucana de Saneamento (Compesa), um aumento nem sempre planejado na demanda, dificultando a distribuição. Nos locais em que esse cenário é agravado com a impermeabilização excessiva dos solos e com o desmatamento, o problema torna-se maior também para a captação de água.


De acordo com a coordenadora do programa de pós-graduação em engenharia civil e ambiental do Campus Caruaru da Universidade Federal de Pernambuco, Sávia Gavazza, em tese, o crescimento demográfico e a verticalização não deveriam afetar o abastecimento. “Quando a gente faz um projeto, ele tem um horizonte de alcance. Trabalha-se para atender à população atual e a futura, daqui a 25 anos”, explica, ressaltando que o aumento no número de moradores de uma área (com vários apartamentos no lugar de uma casa, por exemplo) impacta tanto no consumo de água, quanto na geração de efluentes.


Nem sempre, no entanto, o planejamento relativo às construções anda de mãos dadas com a programação das companhias de abastecimento. O diretor Regional Metropolitano da Compesa, Fernando Lôbo, admite que a companhia enfrenta uma série de dificuldades decorrentes das transformações urbanas. “Se eu vou fazer um projeto para uma área como o Espinheiro ou o Rosarinho, eu irei no Plano Diretor da cidade para ver a altura máxima do prédio. Isso é no mundo ideal. Mas, no dia a dia, a gente tem problemas sérios”, comente. Segundo ele, as obras de setorização em várias vias tiveram que contemplar, também, a ampliação do diâmetro da tubulação. “O abastecimento é pensando sempre no número de pessoas que vão utilizar. Se, em uma rua, aparece um edifício onde iríamos atender uma casa, há mais demanda de vazão. Às vezes, a gente não sabe que aquilo vai se tornar um espigão de 40 andares”.

Diretor Regional Metropolitano da Compesa, Fernando Lôbo, admite que a companhia enfrenta uma série de dificuldades decorrentes das transformações urbanas Foto: Alcione Ferreira/ DP/D.A Press
Diretor Regional Metropolitano da Compesa, Fernando Lôbo, admite que a companhia enfrenta uma série de dificuldades decorrentes das transformações urbanas Foto: Alcione Ferreira/ DP/D.A Press

A rua onde o consultor ambiental Mauro Buarque morava passou por essa mudança. “Havia 15 ou 20 casas por lá e, nos últimos 20 anos, a metade virou prédio. Isso significa que, antes, havia 20 famílias usando, digamos, 100 litros de água por pessoa, por dia. Agora, são mais de 2 mil consumidores. É um problema matemático”, diz. Segundo ele, o crescimento na demanda não é acompanhada pela geração, já que não há novos municípios entrando no processo de produção de água para distribuição. Agravam a situação as alterações no regime de chuvas, que acabam interferindo na disponibilidade de água naquelas cidades.


As variações no regime de chuvas, de acordo com a professora Sávia Gavazza, também são motivadas por ações ligadas ao crescimento desordenado, como a impermeabilização do solo e a destruição da vegetação urbana. “Todo o ciclo hidrológico é interligado. Quando se impermeabiliza, reduz-se a recarga do aquífero, o que significa menor aporte de água nos rios, menor evaporação e menor precipitação”, explica Gavazza, ressaltando que o processo afeta o abastecimento de água, tanto superficial, quanto subterrâneo. “Em relação ao desmatamento, você precisa pensar que a árvore absorve água pelas folhas, pelo caule... Se ela é destruída, a água deixa de ser absorvida e reconduzida para a atmosfera, pela evaporação das plantas, que acontece muito mais rapidamente”, declara.



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