Ilhas de calor
Pesquisa inédita mede temperatura em 11 pontos da capital e cria um ranking do calor
Sufocada por prédios da orla, Boa Viagem é campeã
Por: Marcionila Teixeira - Diário de Pernambuco
Publicado em: 04/05/2015 09:05 Atualizado em: 04/05/2015 09:18
A Avenida Antônio Falcão foi considerada uma das áreas mais quentes da capital.Foto: Paulo Paiva/DP/D.A.Press |
Com dados coletados durante 60 dias, em dez bairros, o estudo Recife Ilhas de Calor (Recica), do grupo Tropoclima, revelou um ranking, e Boa Viagem está no topo. A análise também aponta os edifícios do bairro como responsáveis pela pouca ventilação nas ruas próximas da orla e em áreas vizinhas, como o bairro da Imbiribeira, segundo colocado no levantamento.
Em média, a variação de temperatura entre o ponto mais quente e o mais ameno do Recife foi de dois graus. A Antônio Falcão, no entanto, apresentou, no período da manhã, picos de seis graus acima do ponto de referência. A base são 25,9 graus, captados na estação meteorológica do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), na Várzea.
Na avaliação do coordenador da pesquisa, Ranyére Nóbrega, a falta de vegetação e a impermeabilização do solo e a altura dos prédios de Boa Viagem, que forma uma barreira na circulação de ar, contribuem para o clima quente. “Observamos a necessidade de um planejamento para a construção, além de uso de material adequado. Edifícios espelhados, por exemplo, consomem mais energia e refletem o calor para quem está do lado de fora. Existem planos diretores em outras cidades do Nordeste que limitam a altura dos edifícios da orla a seis andares”, reflete.
Um exemplo concreto é a Imbiribeira, afetado diretamente pelos prédios de Boa Viagem. “Se os edifícios promovem sombra para o Parque Dona Lindu à tarde, ao mesmo tempo diminuem a intensidade dos ventos na Imbiribeira, levando mais calor à localidade”, compara.
Célia Batista, 64, mora na Imbiribeira há 44 anos e tem percebido o aumento do calor nos últimos três anos. “Até na varanda do primeiro andar o calor está insuportável. Tem horas que o vento para”, fala. Já no Dona Lindu, terceiro colocado no ranking do calor, o vento que vem do mar ameniza o incômodo. “Aqui é muito quente, mas o vento do mar alivia na hora do esporte”, comenta Zeca Martins, 18 anos, praticante de skate.
Vento
No bairro de São José, na altura da Estação de Tratamento da Compesa, o efeito é o mesmo observado na Imbiribeira, com os prédios de Boa Viagem impedindo a ventilação, segundo avaliação de Nóbrega. Em quinto lugar no ranking, a Avenida Conde da Boa Vista, no Centro do Recife, cercada de concreto e pouco verde, é “salva” exatamente pela ventilação.
“Na primeira parte do estudo não fizemos ranking, mas a Conde da Boa Vista estava em destaque junto com Boa Viagem. Na época, contávamos apenas com imagens de satélite, que não trabalham a questão do vento. Nesta etapa, foi possível perceber, por exemplo, que a Boa Vista tem um canal de vento e o calor se intensifica mais na vizinhança”, explica. O estudo acontece desde 1998 e os primeiros resultados foram divulgados há dois anos.
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