Saúde Residentes do Hospital das Clínicas da UFPE protestam contra crise no abastecimento Profissionais reclamam a falta de fios cirúrgicos, exames como hemograma e até agulhas para acupuntura

Publicado em: 23/04/2015 08:00 Atualizado em: 24/04/2015 02:09

Pedro Costa/Divulgação
Pedro Costa/Divulgação
Considerado por muitos anos um hospital universitário modelo diante de outras instituições semelhantes no Brasil, o Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) passa por uma crise de abastecimento. A ausência constante de medicamentos básicos para internamento e equipamentos (como luvas e fios cirúrgicos) resultou, no início do ano, em um quadro de cancelamento de cirurgias e internações e descontentamento dos pacientes. Temerosos quanto ao atendimento prestado e também com a qualidade do aprendizado, os residentes da unidade realizaram nesta quinta-feira (23), às 9h, um ato de protesto em frente à unidade.

Desde 2013, a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh) é responsável pela administração dos hospital. Ao longo dos últimos anos, afirmaram médicos e residentes, a situação de falta de material para trabalhar permanece. Na semana passada, os residentes de todas as áreas prepararam uma carta em que relatam a situação da unidade, com uma lista dos medicamentos e equipamentos em ausência, e encaminharam a demanda para o Ministério Público Federal, a superintendência do Hospital e também os respectivos conselhos.

No documento, os estudantes de especialização se colocam frustados diante das condições de trabalho e estabalecem prazos para resolução do problema. Na última segunda-feira, eles voltaram a se reunir com a superintendência do hospital, mas permaneceram insatisfeitos com as justificativas dadas pela administração.

“Colhemos assinaturas de 158 residentes e estabelecemos prazos curtos, médios e longos para os ajustes. Nossa preocupação é com o atendimento ao paciente, não temos as condições mínimas de atender bem. A situação está calamitosa”, afirmou o residente de acupuntura e dor Pedro Costa. No setor dele, faltam periodiacamente agulhas, material base do serviço.

Na cirurgia geral, relatam os profissionais, já houve semanas em que uma dezena de cirurgias precisaram ser canceladas. Inclusive procedimentos oncológicos. Entre os materiais listados pelas faltas constantes na carta dos residentes, estão antibióticos, luvas, quimioterápicos, creatina, ureia, noradrenalina e até exames como hemograma.

“Chega uma coisa, mas falta outra. É comum fazermos cotas do nosso dinheiro para comprar remédio ou para o paciente realizar algum exame. Temos os profissionais mais gabaritados do estado, mas ficamos limitados. Precisamos saber como é o controle de estoque e até quando teremos determinados medicamentos”, reclamou o residente de clínica médica Abel da Costa Neto.

Entrevista

Duas reuniões já foram realizadas entre a superintendência do hospital e os residentes. Outra está marcada para o próximo dia 27. Procurado pela reportagem, o superintendente do HC, Frederico Jorge Ribeiro, admitiu que a unidade passa por uma crise com os profissionais e também no abastecimento dos insumos, mas garantiu que o hospital busca alternativas para sanar os problemas.

Como o hospital justifica a ausência de exames, medicamentos e equipamentos? Há um problema no repasse de recursos?
As principais queixas, na verdade, envolvem laboratório e abastecimento. Não temos orçamento liberado pelo Governo Federal para fazer o conserto, então só poderemos resolver a partir de junho ou julho, quando chegar o dinheiro. Aconteceu que não conseguimos fechar o processo de licitação. O processo é para aquisição anual e precisa ser feito no decorrer do ano anterior. Houve também um problema de atraso no fornecimento das entregas. Estamos apliando as penalidades administrativas e vamos encaminhar isso ao Ministério Público. Hoje temos um orçamento que não é suficiente para um hospital dessa magnitude. Recebemos R$ 3 milhões por mês, mas R$ 2,2 milhões são para pagamento de fornecedores e terceirizadas. Sobram R$ 800 mil para abastecer o hospital. O ideal seria duplicar esse orçamento mensal. São 30 anos de problemas que estamos identificando nesses um ano e quatro meses de gestão.

O que a gestão do hospital tem feito para sanar o problema?
Temos um planejamento de reformar a parte física do laboratório, mas precisamos de reforço orçamentário. Esperamos que, depois de fechadas as propostas, a obra possa ser concluída em seis meses. Estamos também reformulando todo o fluxo do hospital. Com a reestruturação, ocorreram faltas isoladas de determinados medicamentos e materiais, mas hoje temos um hospital relativamente abastecido. Não está ideal, a solução definitiva virá quando remapearmos o fluxo de abastecimento e implantarmos um novo controle. Começamos a fazer isso em janeiro deste ano, em duas frentes: a de adequações físicas e a de análise para elaboração do modelo. Em 2014, conseguimos melhorar a questão das comprar e aquisição. Hoje um processo que levava seis meses leva 90 dias. Esperamos chegar até o fim do ano com tudo resolvido. Em uma das reuniões, no dia 13, firmamos o compromisso de não permitir o cancelamento de cirurgias por falta de insumos e estamos conseguindo cumprir.

Como tem sido os diálogos com os residentes e médicos?
Estive em reunião com os residentes nos dias 6 e 13 de abril e tenho outra programada para a próxima segunda-feira. Fomos pegos de surpresa com a manifestação, pois há um canal de negociação aberto. O problemas de abastecimento não é novo, vez por outra faltam insumos. Como os residentes entraram há pouco tempo, é provável que eles estejam se sentindo afetados.

HC em números

Profissionais

Servidores públicos: 1462
Empregados públicos: 388  (além desses, 75 foram convocados na última sexta-feira. O acolhimento será no próximo dia 04)
Voluntários: 71

Residentes

- Residentes (Medicina):  230
- Residentes (Enfermagem): 20
- Residentes do Programa em Residência Profissional Integrada em Saúde: 30
- Residentes (Nutrição): 18

Atendimentos

Especialidades:  42

Média de quantas consultas por mês em 2014: cerca de 11 mil

Média de cirurgias por mês em 2014: 639

Estrutura

Consultórios: 175 consultórios de atendimento ambulatorial

Leitos: 371, sendo 12 leitos na Unidade de Tratamento Intensivo (adulto), 12 leitos na Unidade de Tratamento Intensivo (neonatal)

Salas Cirúrgicas: 10 salas de centro cirúrgico, 7 salas no centro cirúrgico ambulatorial e 3 salas no centro obstétrico



MAIS NOTÍCIAS DO CANAL