População reclama da diminuição das atividades culturais no Pátio de São Pedro Há 14 anos fazendo parte da programação cultural do Recife, as apresentações da Terça Negra não acontecem desde o carnaval

Por: Mariana Fabrício - Diario de Pernambuco

Publicado em: 22/04/2015 16:54 Atualizado em: 22/04/2015 18:49

A boemia do Pátio deu lugar ao funcionamento comercial de almoço e jantar. Foto: Ricardo Fernandes/DP/D.A Press.
A boemia do Pátio deu lugar ao funcionamento comercial de almoço e jantar. Foto: Ricardo Fernandes/DP/D.A Press.

O movimento apressado do comércio durante o dia no Pátio de São Pedro contrasta com a noite que tem se tornado pacata depois da diminuição das programações culturais no espaço localizado no bairro de São José. Um dos eventos de mais sucesso, a Terça Negra, não acontece com a mesma frequência desde o carnaval. Os comerciantes reclamam que a diminuição das atrações está prejudicando o lucro e os moradores afirmam que a falta de atividades reflete na segurança e deixa o local mais vulnerável a assaltos.

"Acabou-se o Pátio. Antes a gente via dança, ciranda, muita gente por aqui e agora está esse esquisito. Um breu. Antes a gente passava aqui e só via alegria, hoje em dia está abandonado. Não tem mais festa, nem polícia passa por aqui", lamenta o aposentado Édson da Silva, de 62 anos. Ele lembra o espaço mudou desde o ano passado. "Eu passo por aqui todos os dias porque moro perto e gosto de andar para ver o movimento. De dia tem muita gente andando, mas quando começa a entardecer fica escuro. Muito diferente do que se via ano passado ou antes mesmo. Tinha vida. Um lugar tão bonito desse não pode continuar assim", reclama.

A vida no Pátio, antes noturna, agora precisou ser adiantada ao horário de mais movimento no local e a boemia deu lugar ao funcionamento comercial de almoço e jantar. Quem tem bar por lá já pensa em diminuir a quantidade de funcionários. Alberto Moreira, dono do bar O Buraquinho, diz que já conta com o movimento durante o dia, mas alerta que se a clientela não aumentar também durante a noite, vai precisar reduzir o quadro de funcionários. "Tenho seis pessoas trabalhando comigo aqui e já tivemos uma reunião para conversar sobre a situação. Precisei avisar que se a coisa não melhorar alguém vai precisar sair. Infelizmente a gente só tem movimento na sexta-feira ou em época de festa agora", lamenta.

Alberto também reclama da falta de divulgação, o que facilitaria a programação do comércio durante a noite. "Quando tinha alguma festa a gente não era avisado. E com a diminuição do movimento a gente precisa saber se vai haver alguma atração ou não. Já pagamos no sufoco o aluguel dessas casas que são locadas, então precisamos de mais divulgação para ajudar nosso trabalho também", explica.

Os bares do local mudaram o horário de funcionamento para aproveitar o movimento durante o dia. Foto: Inês Campelo/DP/D.A Press.
Os bares do local mudaram o horário de funcionamento para aproveitar o movimento durante o dia. Foto: Inês Campelo/DP/D.A Press.

O proprietário do bar Buraco do Sargento, Paulo Roberto lamenta que em anos anteriores não tinha horário fixo por causa do movimento maior durante a noite. "Abro mais cedo porque de noite já está muito esquisito. A gente começa às 10 horas e vai até às nove, no máximo. Se tivesse evento a gente não tinha nem hora para fechar", lembra Roberto.

Quem vive no local pode afirmar que a Terça Negra, que levava movimento para o Pátio, acabou depois do carnaval. "A Prefeitura deve ter esquecido daqui. Não tem mais movimento nenhum. Trabalho no mesmo lugar há mais de 20 anos e posso dizer que o movimento piorou 90%. Se a gente olhar para o que estava no ano passado e ver agora parece até outro lugar. Depois do carnaval não teve mais nada", conta o garçom Josenildo de França.

Há 14 anos fazendo parte da programação cultural do Recife, o Projeto Terça Negra é uma iniciativa do Movimento Negro Unificado (MNU), realizado pela Prefeitura do Recife (PCR), através da Secretaria de Cultura e Fundação de Cultura da Cidade do Recife. A realização do evento acontece com a programação divulgada pelo MNU através de um projeto entregue à Prefeitura, que contrata os serviços de som.

O coordenador estadual do MNU e diretor da Terça Negra, Almir Gandhi, contou que após reunião com o órgão, o projeto passa a acontecer apenas uma vez ao mês. "No dia 11 de março nos reunirmos com a Prefeitura e nos passaram que por dificuldade nas finanças iria reduzir a frequência do evento. Mas nós entregamos um projeto com a programação de maio a dezembro".

De acordo com a PCR, "o movimento ainda não apresentou o projeto (com custos) para a realização do evento para o ano de 2015, mesmo depois de reunião realizada no dia 11, onde o material foi mais uma vez solicitado", explicou em nota. A PCR ainda disse que até que o projeto seja entregue, só será disponibilizada uma terça-feira por mês. Em abril ela aconteceu apenas no dia 21.

Quem passa pelo Pátio todos os dias reclamam da falta de segurança e iluminação. Foto: Osmario Marques/DP/D.A Press.
Quem passa pelo Pátio todos os dias reclamam da falta de segurança e iluminação. Foto: Osmario Marques/DP/D.A Press.

Entretanto, Gandhi afirma que a negociação costuma complicar após o carnaval. "A última terça que tivemos foi antes do carnaval e depois sempre é a mesma dificuldade porque se trata de outra licitação. Nós entregamos um primeiro projeto com programação até o fim do ano, mas com a mudança, refizemos apenas com os meses de abril e julho para nos reunirmos novamente durante esse período", diz.

A proposta do Movimento Negro Unificado é realizar ensaios nas terças-feiras que não houver a programação que se costumava. "A mudança prejudica porque existe um público que está acostumado com a regularidade que ela tem nesses 15 anos. Mas vamos tentar mais uma vez para que alguma programação seja feita mesmo quando não tiver o evento que se costumava", defende.


O Pátio ainda conta com quatro importantes espaços culturais, como o Museu de Arte Popular, a Casa do Carnaval e os Memoriais Chico Science e Luiz Gonzaga. Todos funcionam até às 17h. Além do Projeto do MNU, acontecem no Pátio a Ciranda da Gente, em parceria com o Sesc, na última sexta-feira de cada mês. A PCR confirmou que o evento no próximo dia 24 será realizado normalmente.

Para a população que frequenta o local, resta o desejo de que o Pátio renasça culturalmente, como entoa os versos do poeta pernambucano Romero Amorim, sobre o espaço construído no século 18: "Nesse canteiro de pedras / Renascem rosas e raízes / Das culturas populares / Aqui a crença é boêmia / Arte e magia são gêmeas / Aqui o povo é poesia".



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