Entrevista O estresse sob controle. Líder humanitária ensina o caminho em cursos no Recife

Por: Anamaria Nascimento

Publicado em: 02/03/2015 09:14 Atualizado em: 02/03/2015 09:29

Curso de Yoga na Arte de Viver Pernambuco no bairro do Recife, de Rajshree Patell em marco de 2015. Foto: Julio Jacobina/DP/D.A Press
Curso de Yoga na Arte de Viver Pernambuco no bairro do Recife, de Rajshree Patell em marco de 2015. Foto: Julio Jacobina/DP/D.A Press
Mudar a forma de respirar é o segredo para diminuir o estresse. É o que ensina a instrutora sênior e embaixadora internacional da Arte de Viver Rajshree Patel. De origem indiana, nascida em Uganda e radicada nos Estados Unidos, a líder humanitária estará de amanhã até sexta-feira no Recife para ministrar cursos, que ela define como “passaporte para o conhecimento das práticas” de respiração. “Mude sua respiração e mudará sua mente. Mudando sua mente, mudará suas emoções” é o mantra repetido pela palestrante, que já levou ensinamentos a 35 países. Em entrevista ao Diario, Rajshree Patel mostra como evitar o estresse por meio da respiração e, assim, melhorar as relações pessoais.

“É inacreditável como respiração, mente e emoções estão relacionadas”

Em comparação com outros países, quais são as principais características dos brasileiros quanto aos relacionamentos?
Uma coisa que notei quando estava na Argentina foi que quando a gente se relaciona com eles, inicialmente, eles são mais fechados, mas não trancados.  Uma vez que você “bate à porta”, eles te deixam entrar e a casa é totalmente aberta para você. Não é do mesmo jeito no Brasil, onde as portas estão sempre abertas desde o começo. No entanto, é difícil “passar da sala de estar”.  Isto é, o resto da “casa” não é aberto. Isso é algo que poderia mudar.

Qual é o conselho que você, considerada a guru dos relacionamentos, dá para quem quer melhorar as relações pessoais?
O mais importante nos relacionamentos atualmente é não se perder no mundo externo, no que você vê do lado de fora. É preciso saber que a experiência de se apaixonar é interna.

Você afirma que valores em grupo, ou seja, o amor, a compaixão e a conexão estão em falta nos dias de hoje. Por quê?  Como isso afeta as relações pessoais dos indivíduos?
Nos relacionamentos, a gente quer ter razão e manter sempre esta posição de certo, criando uma separação entre a pessoa e com quem ela esteja se relacionando. Isso gera distância, e o amor não tolera a distância. O segredo de qualquer relacionamento é saber como se desapegar de suas posições e escolher a harmonia.

E o estresse no trabalho, como ele interfere nos relacionamentos?
Não é fácil abdicar das nossas posições, mas nós precisamos de ferramentas, de suporte. É aí que hábitos conscientes para tomar conta de nós mesmos entram em ação, como a meditação e a respiração. Isso faz com que o nosso nível de energia fique tão alto que a gente fica cada vez mais expandido. Assim, as coisas sem tanta importância não nos afetam mais. Na vida e no trabalho, nossas brigas são sempre em torno de grãos de areia nos olhos, ou seja, coisas pequenas que vão se acumulando no nosso sistema.

Fazer o que você gosta profissionalmente interfere na forma como você vê a vida? Como foi para você deixar de ser advogada para se tornar a “guru dos relacionamentos”?
Eu não sabia o que um advogado fazia até chegar ao terceiro ano. Então alguém me disse: “os advogados podem fazer o que quiserem, podem ter seu próprio negócio, podem fazer contratos”. O que ficou gravado em minha cabeça foi que eu podia fazer o que quisesse sendo advogada. Foi essa promessa de variedade que me estimulou. Tornei-me advogada federal e trabalhei na Procuradoria Geral dos EUA e também na Procuradoria Geral do estado de Los Angeles. Eu gostava do meu emprego. Era uma profissão muito social. Não havia muito tempo para pensar. Eu entrava no escritório, e eles entregavam vários arquivos. No caminho para o tribunal, eu lia os documentos do caso. Muitos casos violentos apareciam, com elementos como drogas, abuso e assassinatos. No meu tempo livre, eu costumava frequentar uma livraria de Los Angeles chamada Bodhi Tree. Lá, havia várias fotos de diversos santos na parede. Eu olhava para as imagens e, em minha mente, discutia com os santos e os perguntava: “Qual o propósito de estar pendurado em uma parede? Se pelo menos você tivesse estado em minha vida, talvez tivesse feito alguma diferença”. Certo dia, eu estava no trabalho quando eu vi uma revista com as páginas manchadas de café caída no chão. Peguei-a para colocar no lixo quando vi um anúncio de um evento com Pundit Ravi Shankar, mestre védico. Em retrospectiva, a revista talvez tenha sido uma resposta às minhas preces. Liguei para os organizadores para reservar um assento, pensando que ele era um músico. Eu não tinha ideia do que o sistema védico significava. Pensei que era um tipo de música. No telefone, me disseram que ele era um mestre iluminado. A iluminação, para mim, significava que ele era um expert. Fui ao evento, mas não me lembro de muita coisa desta palestra. Toda vez que eu sentia o gurují (“estimado professor”) olhando para mim, me escondia atrás de alguém. Eu pensava: “E se ele for de uma das fotografias nas paredes da Bhodi Tree”. Depois, fiz um curso e tive uma experiência com o Kriya (prática que incorpora ritmos naturais específicos de respiração que harmonizam o corpo, a mente e as emoções), que pode ser chamada de uma experiência metafísica. A experiência concreta se traduziu num trabalho de três semanas. Depois de fazer o curso, eu conseguia processar os arquivos em meu trabalho muito mais rápido. Logo depois, compareci ao curso avançado e foi mágico. Aprendi a simples tese: “Mude sua respiração, mude a sua mente. Mude a sua mente, mude as suas emoções”. Senti que se pudéssemos disseminar isso, o universo seria um lugar diferente. É inacreditável como respiração, mente e emoções estão relacionadas. A jornada para ser uma instrutora teve início no Reino Unido. Em seguida, fui à Índia. No entanto, ensinar foi um processo de aprendizado: aprendi a abandonar minhas inibições, expandir meus limites e a me aproximar de ser incondicional.

Como diminuir o estresse por meio da respiração?
Estresse é quando as nossas demandas são maiores do que a nossa capacidade de realizá-las. Quando as emoções negativas aparecem, elas drenam nossa energia vital e nós não aprendemos a lidar com essas emoções. Se você observar com cautela, quando nós estamos com raiva, nossa respiração tem um ritmo bem específico. O ritmo respiratório da alegria e o da tristeza são diferentes do da raiva, por exemplo. A vida, no sentido de alegria, amor, entusiasmo, energia, foco, clareza e liberdade, ou seja, tudo que a gente realmente procura, está escondida no segredo da respiração. A respiração pode trazer a mente que oscila constantemente do passado ao futuro de volta ao momento presente. Essa é a única coisa na vida que nós realmente temos, mas que o estresse nos tira.Nunca vamos ser felizes verdadeiramente se continuarmos trazendo o estresse do trabalho para casa e vice-versa. Ninguém nunca nos ensinou a nos libertarmos do estresse e é aí que entra o segredo da respiração.

Saiba mais

De família indiana, Rajshree nasceu em Uganda e foi para os Estados Unidos aos 10 anos

Nos Estados Unidos, formou-se em direito e trabalhou como promotora federal até 1989

Largou o direito quando conheceu o fundador da Arte de Viver, o indiano Sri Sri Ravi Shankar

Fundada em 1981 por Sri Sri Ravi Shankar, a Arte de Viver é uma organização internacional educacional, social, humanitária sem fins lucrativos

Serviço

Palestra O segredo dos relacionamentos
Quando: Amanhã
Local: Teatro do Imip, Rua dos Coelhos, 300, Boa Vista, Recife
Horário: Das 19h30 às 22h

Curso Arte de Viver - Happiness Program
Quando: De 4 a 6 de março
Local: Villa Ponte Uchôa, Avenida Rui Barbosa, 1345, Graças, Recife
Horário: Das 19h30 às 23h

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