Direitos Humanos Rebeliões deixam mais um detento morto e 43 feridos

Publicado em: 20/01/2015 21:26 Atualizado em: 21/01/2015 00:59

Complexo Prisional do Curado. Foto: Alcione Ferreira/DP/D.A Press
Complexo Prisional do Curado. Foto: Alcione Ferreira/DP/D.A Press

As rebeliões simultâneas em dois dos principais presídios do estado, nesta terça-feira (20), aumentaram a lista de mortos e feridos no sistema carcerário pernambucano. De acordo com a Secretaria de Justiça e Direitos Humanos, nas últimas 12 horas, foram contabilizadas mais uma morte por esquartejamento e 16 feridos somente no Complexo do Curado, no Recife. Por sua vez, o Corpo de Bombeiros informou que atendeu outros 27 feridos na Penitenciária Barreto Campelo, em Itamaracá. Os número se somam aos outros 29 feridos e dois mortos, incluindo um sargento da Polícia Militar, nessa segunda (19).

Apesar dos dados dos bombeiros, que realizaram atendimento dentro da penitenciária, a Secretaria de Justiça informou que apenas três internos ficaram feridos na Barreto Campelo. Eles teriam a perna fraturada, uma torção no tornozelo e o deslocamento do maxilar e foram encaminhados para unidades de saúde próximas.

No Complexo do Curado, que tem capacidade para 2.114 e abriga cerca de sete mil, foram registrados 15 feridos no Presídio Frei Damião de Bozzano, dos quais quatro necessitaram de atendimentos médicos fora da unidade, mas apenas um permanece internado no Hospital Otávio de Freitas; no Presídio Juiz Antônio Luiz Lins de Barros, houve o assassinato de Mário Antônio da Silva, que cumpria pena por tráfico de drogas e estava preso desde 2006. O detento Ronaldo Abreu da Silva Junior chegou a ser esfaqueado e foi atendido no local; Já no Marcelo Francisco de Araújo, foram seis feridos na rebelião da segunda, um está no Hospital da Restauração e outros cinco no Otávio de Freitas.

As manifestações estão sendo justificadas pela insatisfação dos presos com os juízes da Vara de Execuções Penais. Segundo os internos, os processos não andam e muitos já deveriam estar soltos. Nas duas unidades carcerárias, os detentos solicitam a saída imediata do juiz titular da 1ª Vara, Luiz Rocha, e do juiz Cícero Bittencourt, da 2ª Vara, que está de férias e foi substituído por Roberto Bivar.

Complexo do Curado

Rebelião no Complexo do Curado deixou três mortos, incluindo um sargento da PM. Foto: Alcione Ferreira/DP/D.A Press
Rebelião no Complexo do Curado deixou três mortos, incluindo um sargento da PM. Foto: Alcione Ferreira/DP/D.A Press


No Complexo Prisional do Curado, as manifestações recomeçaram por volta das 9h, mas a tensão maior foi durante o período da tarde. Pouco depois das 13h, o Batalhão de Choque entrou na unidade e atirou bombas de efeito moral e balas de borracha contra os detentos. Do lado de fora, o barulho dos disparos assustou os familiares que aguardavam por notícias. O helicóptero da Secretaria de Defesa Social (SDS) sobrevoou a área do complexo e bairros vizinhos.

Por causa do tumulto, a produção de carterinhas para organizar as visitas que seriam realizadas nesta terça foi suspensa. De acordo com José Ferreira da Silva, 70 anos, pai de um interno, muitos dos presos que já estão com alvará de soltura assinados ainda permanecem no sistema prisional por descaso da Justiça. O filho de José, o detento Murilo Ferreira, está preso há um ano e 10 meses na unidade, mesmo com o alvará já emitido. Familiares dos internos voltaram a denunciar o tratamento a que são submetidos e as irregularidades durante as visitas dos fins se semana.

Penitenciária Barreto Campelo

Penitenciária Barreto Campelo. Foto: Allan Torres/TV Clube
Penitenciária Barreto Campelo. Foto: Allan Torres/TV Clube

A rebelião na Penitenciária Barreto Campelo, em Itamaracá, também começou por volta das 9h. A unidade tem capacidade para 600 detentos e, atualmente, abriga 1.938 internos. Pela manhã, reeducandos de pelo menos dois pavilhões deram início à movimentação. De forma pacífica, eles subiram nos telhados e, com cartazes e faixas, exigiram a agilidade no julgamento dos processos. Também pediram a presença do juiz da 2ª Vara de Execuções Penais, Cícero Bittencourt, e do promotor de Execuções Penais Marcellus Ugiette. O magistrado está de férias e foi substituído por Roberto Bivar, que adiantou que não há atraso em relação às questões judiciais da Barreto Campelo.



Marcellus Ugiette passou quase sete horas dentro da penitenciária conversando com os detentos e visitando pavilhões. "Quando estávamos entrando no (pavilhão) ‘D’ e ‘E’, fomos recebidos a pedradas”, relatou. Foi quando a situação se agravou. A Polícia Militar precisou intervir e começou a disparar balas de borracha e bombas de efeito moral. Os internos revidaram atirando pedras contra os policiais, que pediram reforço. O confronto durou cerca de uma hora.

Secretaria de Justiça e Direitos Humanos

Secretário de Justiça e Direitos Humanos, Pedro Eurico. Foto: Ivan Melo/Esp. DP/D.A Press
Secretário de Justiça e Direitos Humanos, Pedro Eurico. Foto: Ivan Melo/Esp. DP/D.A Press
Em meio ao caos estabelecido por rebeliões simultâneas em dois dos principais presídios do estado, o secretário de Justiça e Direitos Humanos de Pernambuco, Pedro Eurico, anunciou medidas emergenciais para conter a revolta dos detentos. Ele se comprometeu a melhorar o acesso das famílias ao Complexo Prisional do Curado, no Recife, dando início à construção de um galpão já nesta quarta, e complementou garantindo a contratação de 20 advogados para ajudar no andamento de processos dos detentos.

Pedro Eurico também informou que marcará uma audiência com o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, para solicitar repasse de verbas do Fundo Penitenciário para construir novas unidades carcerárias no estado. E, até sexta-feira (23), será feita uma reunião com o Tribunal de Justiça para elaboração de medidas conjuntas para agilizar os processos dos detentos do Curado.

Déficit de agentes penitenciários alcança marca de 4,7 mil servidores


Confrontos nos presídios terminou com mais um morto e 43 feridos. Foto: Alcione Ferreira/DP/D.A Press
Confrontos nos presídios terminou com mais um morto e 43 feridos. Foto: Alcione Ferreira/DP/D.A Press

A Associação dos Agentes e Servidores do Sistema Penitenciário de Pernambuco notificou o Estado para que sejam tomadas medidas emergenciais para melhorar as condições de trabalho da categoria. De acordo com o presidente da entidade, João Carvalho, o documento pede contratação de efetivo e fornecimento de equipamentos novos para o exercício das funções. Atualmente, há um déficit de 4,7 mil agentes nas unidades carcerárias pernambucanas. Nesta quinta-feira (22), haverá uma reunião para agendamento da assembleia.

A notificação foi entregue para a Secretaria de Ressocialização, de Justiça e Direitos Humanos, de Defesa Social, Casa Civil, Ministério Público e Tribunal de Justiça. João Carvalho ainda adiantou que, se as medidas não forem tomadas em dez dias, haverá uma assembleia da categoria para deliberar sobre possíveis paralisações.

Sepultamento do sargento morto no Complexo do Curado

Sargento Carlos Siveira, morto durante a rebelião na segunda-feira. Foto: Facebook/Reprodução
Sargento Carlos Siveira, morto durante a rebelião na segunda-feira. Foto: Facebook/Reprodução
O luto pela morte do sargento da Polícia Militar Carlos Silveira do Carmo, de 44 anos, só não foi maior que a indignação e o desejo por Justiça durante o sepultamento , na tarde desta terça-feira (20), no Cemitério Parque das Flores, na Avenida Liberdade, próximo ao Complexo Prisional do Curado, onde o militar foi assassinado durante uma rebelião de detentos, na segunda.

Familiares do sargento, que deixou três filhos, preferiram não conversar com a imprensa. No entanto, o cunhado da vítima, o agente socioeducativo da Fundação de Atendimento Socioeducativo (Funase) Adalberto Evaristo, disse que a família pede Justiça. Ainda segundo o agente, nenhuma das entidades de defesa dos Direitos Humanos compareceu ao enterro.

O sargento Carlos Silveira foi atingido por um tiro durante a inspeção na guarita central que liga os três presídios do complexo. Além dele, um detento também morreu e outros 21 ficaram feridos, somente na rebelião da segunda. De acordo com a Polícia Militar, o sargento estava na corporação há 24 anos. Foi lotado há seis meses no Batalhão de Guardas e atualmente exercia as atividades no Curado.

Greve e protesto da Polícia Militar

Policiais militares não descartam possibilidade de greve e protestam na Zona Norte. Foto: WhatsApp/Cortesia
Policiais militares não descartam possibilidade de greve e protestam na Zona Norte. Foto: WhatsApp/Cortesia

Nesta quarta (22), às 14h, policiais militares se reunirão com o deputado Joel da Harpa, um dos líderes do movimento grevista, para deliberar sobre uma possível paralisação da categoria. Os trabalhadores em segurança estão insatisfeitos com a gestão estadual e querem melhores condições de trabalho e reajuste salarial.
Ao longo do dia, militares do 6º Batalhão ficaram aquartelados.

Durante a tarde desta terça-feira, cerca de 15 viaturas do 11º Batalhão da Polícia Militar (BPM) se reuniram no cruzamento da Avenida Norte com a Rua Padre Lemos, em Casa Amarela, em mobilização contra a morte do sargento da PM Carlos Silveira. Os militares fizeram uma carreata em baixa velocidade e com as sirenes ligadas, durante 15 minutos, por diversas ruas da Zona Norte do Recife.


Com informações dos repórteres Raphael Guerra, Lenne Ferreira, Marcionila Teixeira e Rebeca Silva, do Diario de Pernambuco

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