Entrevista Especial Fernando Basto: uma referência no transplante capilar

Por: Anamaria Nascimento

Publicado em: 26/01/2015 10:12 Atualizado em:

 (Foto: Julio Jacobina/DP/D.A Press)

Estima-se que 10% dos homens entre 20 e 30 anos estejam perdendo os cabelos. Oito a cada dez pessoas do sexo masculino com menos de 70 anos apresentam predisposição à calvície como fator hereditário. A Organização Mundial de Saúde (OMS) revela que metade dessas pessoas terá algum grau da disfunção
capilar até os 50 anos. Aproximadamente 42 milhões de brasileiros são calvos,
de acordo com a Sociedade Brasileira para Estudo do Cabelo (SBEC). A procura
por médicos especialistas em cirurgia de transplante capilar aumenta
exponencialmente, e Pernambuco é referência no assunto. O médico Fernando
Basto, primeiro da América do Sul a receber certificação da disputada
instituição norte-americana American Board of Hair Restoration Surgery, é um
dos responsáveis por colocar o Recife na rota desse segmento. Em entrevista ao
Diario, ele revelou o que pode ser feito para evitar a queda dos fios e mostrou os caminhos que uma pessoa incomodada com a calvície pode seguir para tratar o problema.


“O impacto da calvície na mulher é muito maior”


A calvície é um problema exclusivamente masculino? Qual é o perfil do paciente
que busca a cirurgia capilar?

A calvície ainda é predominantemente masculina. Cerca de 70% dos pacientes
calvos que me procuram são homens e 30% são mulheres. As crianças nem entram nessa conta porque quando vêm para fazer uma cirurgia é um caso de lesão,acidente, ou seja, é uma exceção. A busca das mulheres pelo tratamento tem crescido nos últimos anos, pois elas têm percebido o avanço nessa área. Hoje, o resultado não é mais artificial, com aquele aspecto de cabelo de boneca,
como antigamente. Essa procura feminina começou no início dos anos 1990. O
impacto da calvície na mulher é muito maior porque o cabelo é, para ela, como
uma joia, sempre bonito, penteado. Quando ela perde essa “ferramenta”, ela
fica muito angustiada. A calvície, tanto para o homem como para a mulher, mexe
não só com a vaidade, mas também com aspectos psicológicos. Com relação à
idade, a faixa etária média dos pacientes é de 30 a 45 anos. Os jovens e
idosos são exceções, mas também nos procuram.

O que leva à queda significativa de cabelo?
Vários fatores podem causar a calvície. A principal causa é, sem dúvidas, a
hereditária. Doenças autoimunes, como o lúpus, podem levar à queda dos fios.
Outras doenças, como as que provocam alterações hormonais e da tireóide também são possíveis fatores. Químicas para o cabelo devem ser usadas com cautela, pois podem levar à calvície. Já recebi pacientes que perderam todo o cabelo por conta de técnicas malsucedidas em salões de beleza. Para evitar casos como esse, é importante fazer o teste da mecha antes de aplicar o produto em todos os fios. Por fim, há ainda o estresse acentuado, associado a um trauma. Essa causa é mais comum entre as mulheres.
 (Foto: Julio Jacobina/DP/D.A Press)

Quando uma pessoa começa a perceber que está perdendo o cabelo, o que ela deve fazer?
Normalmente, quando uma pessoa começa a perceber que está perdendo o cabelo, já perdeu cerca de 30% dos fios. A primeira medida deve ser procurar um
especialista, que pode ser um dermatologista ou um cirurgião plástico
especialista em cirurgia capilar. Hoje, temos muitos produtos que controlam
clinicamente a queda de cabelo, como vitaminas e remédios. É importante
ressaltar, no entanto, que esses produtos controlam, mas não tratam o
problema. É uma forma de a pessoa conseguir manter o cabelo por mais tempo.
Outra dica é evitar o uso de condicionador no couro cabeludo. Ele foi
fabricado para ser usado do pescoço para baixo, para facilitar o penteado. O
uso no couro cabeludo só vai prejudicar quem já tem a tendência. Já o xampu
medicinal de qualidade, à base de zinco, não vai controlar a queda de cabelo,
mas, combinado com a vitamina ou o remédio, ajuda. É algo complementar.

Recentemente, o implante capilar do ator Paulo Vilhena tornou-se público e foi
bastante criticado por conta da cicatriz aparente. O que deu errado nesse caso?
O erro do implante do ator foi o refinamento da cicatriz. Possivelmente, o
cirurgião imaginou que ela ficaria escondida e não se preocupou com o
acabamento. Como ele raspou o cabelo para o personagem, a cicatriz grosseira
ficou aparente.

Da antiga técnica que deixava o cabelo com aparência artificial aos métodos
usados hoje, quais foram as principais mudanças nesse segmento que o senhor
acompanhou de perto?

Fiz um estágio na clínica do doutor Munir Curi, em São Paulo, no começo da
minha carreira. Naquela época, ele usava a técnica dos microenxertos
capilares. Era o que havia de mais moderno na época e não deixava o cabelo com
o aspecto de cabelo de boneca. Nessa ocasião, encontrei uma dificuldade muito
grande aqui no Recife, quando voltei do estágio, pois essa cirurgia era feita
apenas com anestesia local. O paciente sentia dores na hora da cirurgia e,
como era apenas anestesia local, a cirurgia era muito curta e durava cerca de
três horas. Era necessário fazer cinco ou seis sessões. Comecei, então, a usar
uma sedação leve para realizar as cirurgias aqui no Recife, o que me
possibilitou aumentar o tempo de cirurgia para aproximadamente sete horas.
Assim, era possível colocar três vezes mais cabelo do que se fazia em São
Paulo. Foi quando surgiu o interesse de pessoas que queriam fazer transplante
capilar por Pernambuco. Essa mudança de abordagem causou uma inversão de
fluxo. Quem saia do estado para passar pelo procedimento no Sudeste começou a ficar e quem era de outros estados começou a viajar para o Recife. Depois
disso, criei a técnica da linha anterior quebrada. Isso significa que o cabelo
não fica alinhado uniformemente na testa. Entre os homens, o ponto A (ponto do
meio) é mais alto, deixando a testa mais larga. Já a testa da mulher é mais
curta. As mulheres costumam ter curva descendente. Essa técnica deixou o
implante menos artificial, e o conceito de linha quebrada colocou o Nordeste
como referência nacional.

E Pernambuco, como o estado se encontra diante do país na área de cirurgia
capilar?

Quando comecei a atuar nessa área, não imaginei onde chegaríamos. Hoje, somos referência nacionalmente. Esse segmento ajudou a criar o diferencial do polo médico de Pernambuco, que é o segundo do país. Em meu consultório, por
exemplo, 60% dos pacientes vêm de outros estados e até de outros países, e 40% são pernambucanos. Recebo pessoas da Itália, Portugal e de estados de Norte ao Sul do país.

O senhor já percebeu alguma diferença entre os pacientes europeus e os
brasileiros já que também atende em Portugal?

Faço atendimentos em Portugal duas vezes por ano, em maio e outubro. Antes, eu ia mensalmente para lá, mas acabei diminuindo a frequência. Nesse tempo, foi interessante observar que há uma diferença entre os europeus e os brasileiros.
O conservadorismo europeu com relação a essa assunto ainda é muito grande. O
brasileiro já chega no consultório dedicido a fazer a cirurgia, sem pudores.
Em Portugal, por outro lado, muitos se mostram inseguros, conservadores. Não
há a mesma facilidade de diálogo que tenho com o paciente brasileiro. É uma
questão de cultura e estilo.


Saiba Mais

Natural do Recife, Fernando Basto tem 57 anos e é formado pela Universidade de
Pernambuco (UPE)

Foi o primeiro cirurgião no Norte e Nordeste a realizar a cirurgia do
transplante capilar

Primeiro médico a descrever e publicar em revistas científicas a técnica da
Linha Anterior Irregular

A técnica criada por ele em 1993 é replicada nos grandes centros de
transplante capilar do Brasil e do mundo

Realiza cerca de 20 cirurgias por mês. Já fez 5,8 mil cirurgias durante os
anos de carreira

Pós-graduado em
cirurgia plástica com residência no Hospital das Clínicas da UFPE

Primeiro médico da América do Sul a conquistar o título da American Board of
Hair Restoration Surgery

Fundador da Associação Brasileira de Cirurgia da Restauração Capilar (ABCRC),
que existe
desde 2003

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