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Notícia de Turismo
Turismo religioso As relíquias cristãs de Roma e arredores As igrejas, catedrais, basílicas e afins resgatam a história da religião, mas também são peças do quebra-cabeça que reconta a vida e a produção cultural de uma época

Por: Alice de Souza - Diario de Pernambuco

Publicado em: 18/06/2017 13:45 Atualizado em: 19/06/2017 17:14

Alice de Souza/DP  (Alice de Souza/DP )
Alice de Souza/DP
Um olhar desatento pode incorrer no erro de conferir igualdade visual a todo templo religioso, mas essa é uma das maiores “heresias turísticas” que se pode cometer. As igrejas, catedrais, basílicas e afins resgatam a história da religião, mas também são peças do quebra-cabeça que reconta a vida e a produção cultural de uma época. Não à toa, por ano, o turismo religioso movimenta 600 milhões de viagens e 330 milhões de pessoas no mundo. Boa parte desse público tem como destino a Itália, com mais precisão Roma e o Vaticano. Visitar a sede do cristianismo católico é melhor forma de compreender a singularidade das construções edificadas na fé.

Quarenta milhões de pessoas vão à Itália todos os anos para praticar turismo religioso. Os peregrinos modernos remetem a uma tradição iniciada em meados do século 2 d.C, mas que só ganhou força com a oficialização do cristianismo no Império Romano, pelo então imperador Constantino. Ao longo dos séculos, visitar locais santos tornou-se um nicho de turismo em constante crescimento que atrai não só aqueles que buscam a renovação da fé. Há 30 anos o Conselho da Europa reconheceu a importância dos caminhos religiosos como veículos culturais primordiais.

A Itália, com suas 30 mil basílicas e igrejas, segue fazendo jus de ser o berço desse costume. Parte dessa culpa está no Vaticano. A Santa Sé atrai todos os anos quase 6 milhões de visitantes. Basta colocar os pés nos corredores do Museu do Vaticano, cheios de obras de arte dos mais renomados pintores e escultores, para entender essa multidão. A riqueza financeira e cultural agregada ao complexo, do qual fazem parte a praça de São Pedro, Capela Sistina, necrópoles e a Basílica de São Pedro, é incalculável. A dica é apenas chegar cedo e tentar antecipar a compra dos ingressos (necessários para visitar o museu) pela internet. Furar fila desse jeito não é pecado.

Todo caso, as relíquias sagradas e endereços religiosos estão pulverizados para além das cercanias do Vaticano. Em todo o território romano, seja dentro ou fora das antigas muralhas aurelianas, há templos e monumentos a espera de peregrinos. Só de basílicas maiores papais, aquelas nas quais existem portas santas e tronos do papa, são quatro. É visitando todas, por exemplo, que se descobre que São Pedro não é a basílica oficial do Santo Padre e que não existe só uma Capela Sistina.

Uma viagem religiosa por Roma não se atém somente aos templos maiores. São 900 igrejas para percorrer, “escondendo” obras de Michelangelo, Rafael, Bernini entre outros. Vale destacar os belíssimos jardins e intringantes corredores das Catabumbas de Calixto, com 15 hectares e uma rede de galerias subterrâneas de 20km, onde foram sepultadas 500 mil pessoas, sendo 16 papas. E ainda a Basílica de Santa Maria dos Anjos e Mártires, com sua impressionante fachada em pedras, da qual parte dos tijolos tem quase 2 mil anos.

Para encontrar os sagrados tesouros perdidos atrás das impressionantes construções romanas, é preciso ter disposição e vontade de vencer os medos, como o de entrar em lugares claustrofóbicos. E se todas essas basílicas e igrejas forem pouco para você, a duas horas da capital italiana estão outras cidades referência para o turismo religiosos, como Assis…

Os peregrinos brasileiros

O Brasil é considerado estratégico para a Itália quando o assunto é turismo religioso, em função da sua população de quase 120 milhões de católicos. Durante as celebrações do Jubileu de Ouro da Renovação Carismática Católica (RCC), realizadas no começo do mês em Roma e no Vaticano, bandeiras verde e amarela se multiplicavam. O Brasil foi responsável pela segunda maior delegação do evento, com 4,7 mil fiéis, ficando atrás apenas da própria Itália. Por ano, para se ter uma ideia, a Obra de Maria em seu braço de turismo envia 8 mil viajantes a roteiros religiosos em todo o mundo. Desses, a metade segue para a Itália, enquanto o restante vai a Jerusalém, estima a empresa, que começou a fazer o serviço em 1993.

Dos 8 mil, 2 mil peregrinos são pernambucanos. A comunidade mantém um quadro fixo de 40 guias. Somente para o jubileu foi preciso enviar 60. Um deles foi o missionário Severino Souza Júnior, 32 anos. Guia há nove anos, ele já conheceu 22 países em peregrinações. “O desafio dessas viagens é promover um verdadeiro encontro com Deus. É impressionante, tem gente que vende comida, passa dois, três anos pagando para vir”, conta ele, cujo trabalho é voluntário.



Alice de Souza/DP  (Alice de Souza/DP )
Alice de Souza/DP

O berço de São Francisco e Santa Clara


São duas horas e vinte minutos de distância entre Roma e a cidade de Assis, contudo cruzar a divisa entre as regiões de Lazio e da Úmbria é fazer uma nova viagem no tempo. As ruínas milenares saem de cena para dar lugar às sacadas floridas dos imóveis medievais. Entre uma planície e o monte SubÁsio, Assis é um convite à contemplação da simplicidade. Tal qual a história do seu mais célebre filho, faz-se um bate-volta imperdível mesmo abrindo mão de luxo em sua arquitetura e sem ceder às tentações da vida moderna. Assis não almeja figurar no Instagram dos visitantes, está mais preocupada em preservar os princípios.

Ainda na planície, antes mesmo de cruzar os oito pórticos abertos entre a muralha que circunda o centro histórico, os visitantes são convidados de forma implícita a dar os três nós franciscanos. Pobreza no sentido de desapego voluntário da ostentação: a melhor forma de conhecer Assis é subindo e descendo ladeira com os próprios pés, já que a entrada de carro na parte história é limitada; Obediência para abaixar as câmeras ao entrar no templos religiosos: fotografias só das partes externas; e pureza de coração para, ainda que não seja católico, sair admirando a história que circunda o povoado.

Assis é a terra de dois santos. Francisco, jovem filho de ricos comerciantes de tecido, que abriu mão da riqueza e saiu em peregrinação por várias cidades italianas, dentre as quais Roma. E Clara, filha da nobreza que vendeu até os dotes do casamento para doar aos pobres e seguir os preceitos de São Francisco.

É uma cidade romântica. De um lado, está a Basílica de Santa Clara. Do outro, a de São Francisco. Entre elas, corredores estreitos de lojas e comerciantes informais - único momento em que o voto de pobreza parece ser quebrado -, além de outros atrativos. O Museu do Foro Romano, o Templo de Minerva, a praça e a Torre da Comuna. Antes disso, a viagem começa pela cidade plana, onde está a basílica de Santa Maria dos Anjos.

Por ano, 5 milhões de pessoas visitam a cidade. Há quem diga que um dia é suficiente para conhecer a cidade, classificada como Patrimônio Mundial pela Unesco, mas passar uma noite por lá talvez não seja uma má ideia. Saindo de Roma, é possível chegar ao povoado de carro e ônibus, em uma rota de cerca de 195km, ou trem, saindo da estação Termini e chegando a Assis duas horas depois, por uma média de 13 euros.


Foto: Alice de Souza/DP
Foto: Alice de Souza/DP

Basílica de Santa Maria dos Anjos

É a primeira parada turística de Assis, a poucos metros do local onde estacionam os ônibus e com certeza a primeira imagem impactante das tantas que a cidade deixa na memória dos visitantes. A cúpula do templo, vista ao longe, junto ao casario de pedras, chama atenção. Mas para entender o verdadeiro significado dessa basílica é preciso entrar. Dentro dela, segue erguida uma pequena capela, local predileto e para onde São Francisco de Assis ia nos momentos de refúgio. Na porcíuncula, como é chamado o lugar, São Francisco e Santo Antônio se encontraram pela primeira vez. Também foi onde Santa Clara se consagrou ao senhor e para onde Francisco pediu para ser levado em leito de morte. O nome dessa basílica deu origem ao batismo da cidade de Los Angeles, nos Estados Unidos.

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Por trás da basílica, em local acessado pelo lado direito próximo ao altar, há um roseiral com obras de arte, no qual estão rosas sem espinhos em referência a uma passagem da vida de Franscisco; a capela de passagem na qual ele passou os últimos dias de vid; um museu; e também uma loja.

Basílica de Santa Clara

Segunda parada dentro do roteiro religiosos por Assis, a Basílica de Santa Clara é uma bela forma de receber as boas-vindas à cidade alta. De construção iniciada em meados de 1257, o santuário está próximo a um dos oito pórtico de entrada e faz fronteira lateral com um dos mirantes do município. O local dedicado à santa que abandonou a vida confortável para seguir Francisco tem uma fachada simples comparada ao seu interior, do qual se destaca o deslumbrante teto azul estrelado. Além de obras de arte contando a trajetória de Clara, a basílica guarda relíquias da santa, como cabelos, roupas e sapatos usados por ela. No subsolo, estão os restos mortais de Clara, em local que pode ser visitado.

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A basílica de Santa Clara também é local de repouso do crucifixo de São Damião, obra sobre a qual o então jovem Francisco se prostrou a rezar em momento de angústia espiritual e ouviu de Cristo: “Francisco, vai e repara minha casa que está em ruína”, dando início à conversão do santo. A obra, do século 12, retrata ainda um Cristo vivo diante da cruz, diferente das que viriam nos séculos seguintes.

Alice de Souza/DP  (Alice de Souza/DP )
Alice de Souza/DP

Basílica de São Francisco

Depois de percorrer a pequena Assis alta, deixando-se perder pelos corredores e admirar pelas sacadas floridas, a Basílica de São Francisco surge como um grand finale do passeio. É recomenado dedicar tempo para conhecer o santuário, dividido entre a basílica inferior e a superior. A parte debaixo, sob o altar-mor, é onde está o túmulo de São Francisco, circundado por um paredes de pedra. Ao redor de Francisco, estão sepultados companheiros do Santo. A basílica superior, por sua vez, divide espaço ainda com uma biblioteca que durante dois séculos foi uma das três mais importantes da Europa, e um museu. Do lado externo, o visitante se despede da cidade admirando um jardim onde está desenhada a Cruz de Tau, adotada pelos franciscanos como simbologia da conversão.

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Dentro da basílica superior, está o ciclo de frescos do pintor italiano Giotto de Bondone. Dividido entre 28 cenas, ele remonta a passagens importantes da vida de São Francisco, desde o momento em que o santo é honrado por um homem humilde até quando ele liberta um preso.

*A repórter viajou a convite da Obra de Maria



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