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Notícia de Turismo
Tendência Viajar sozinho(a) é descobrir o prazer da própria companhia. Experimente A experiência que pode proporcionar autoconhecimento e o desenvolvimento de aptidões como confiança e independência. Conheça histórias inspiradoras e aventure-se também

Por: Laisa Queiroz

Publicado em: 23/10/2015 10:56 Atualizado em: 19/10/2015 19:13

 (Mariana Henriques/Arquivo pessoal)

Com rotinas cada vez mais atribuladas e o aumento do nível de estresse em quase toda parte do mundo, as tradicionais viagens de férias em família começaram a dar espaço a outros tipos de passeio. Nos últimos anos, viajar sozinho se tornou popular. Não depender de ninguém para escolher o que fazer, quando e para onde ir, descansar de verdade (sem ter que conciliar gostos distintos em um mesmo roteiro), refletir sobre a vida e - quem sabe? - conhecer gente nova pelo caminho são os principais ingredientes desse tipo de experiência que deixou de ser vista como falta de opção e passou a ser uma escolha com muitos adeptos.

Mas eis a questão: viajar sem companhia é para todos? Segundo a psicóloga Andrea Pavlovitsch, sim. "Não recomendo para quem vive situações emocionais muito graves, como depressão profunda e síndrome do pânico. Mas, se você goza de boa saúde, por que não? É ótimo, inclusive, para pessoas tímidas, que podem mudar seu padrão em uma experiência como essa". Foi o caso da estudante Camila Marques, 24 anos. "Eu tinha dificuldade de socializar, mas precisei me virar, conversando com desconhecidos e acabei vencendo a timidez".

Andrea explica que quando estamos sós, tendemos a nos comunicar melhor e a ficar mais abertos para o mundo. "Mas você pode tentar aos poucos: vá ao cinema sozinho, depois a um restaurante, a uma festa, e, por fim, encare uma viagem", indica. A também psicóloga Thirza Reis ressalta que a pessoa não deve se sentir obrigada a fazer uma jornada desse modo, mas que se essa for a escolha, há uma série de benefícios. "É um processo de autoconhecimento que passa pela desconstrução de si. Quando estamos sozinhos em lugares onde ninguém nos conhece, perdemos a vergonha de fazer o que queremos e a obrigação de agradar aos outros, então somos mais espontâneos. Expomos nossas fragilidades e também descobrimos que somos capazes de fazer muito sem a ajuda de ninguém. Isso é empoderador".

Habilidades
Uma das habilidades desenvolvidas em viagens mais solitárias, segundo Andrea, é a autoconfiança. "Temos que resolver os problemas que aparecem sozinhos, como a possível dificuldade com uma língua diferente, sem ninguém para nos ajudar o tempo todo, e percebemos o quanto somos capazes", defende. Para ela, isso faz com que a autoestima também aumente, assim como o senso de sobrevivência.

"Melhora muito a nossa capacidade de tomar decisões, principalmente em viagens para lugares distantes, pois o contato com outras culturas pode nos fazer confrontar nossas crenças e ter que fazer escolhas difíceis", afirma Andrea. Por fim, segundo Thirza, o medo da solidão, um grande mal deste século, deixa de ser um fantasma.

O ideal, para a psicóloga, é que as pessoas tragam para o cotidiano tudo o que aprenderam na viagem. "Se em outros lugares você se sente à vontade de ir a um restaurante sozinho, por que não fazer o mesmo em Brasília, onde muita gente é solteira e mora só, e deixar de se preocupar com os outros?", questiona Thirza.

Riscos
Para o gerente de Produtos da seguradora Assist Card, Volnei Veronese, escolher um seguro-viagem que se adeque ao seu perfil é importante. "Temos planos em que mandamos um médico no hotel, caso a pessoa não tenha condições de sair, e monitoramos o atendimento. Também, em caso de internações, há a opção de deslocar um parente para o local, com passagens e hospedagem sem custo adicional, o que é muito interessante para quem viaja sozinho". Aos que planejam praticar esportes radicais, também é interessante fazer um seguro específico, que inclua a cobertura de acidentes para essas atividades. "Pela nova regulamentação dos seguros viagem, que entra em vigor em março de 2016, esse item vai ser obrigatório, mas, por enquanto, os planos assistenciais mais básicos normalmente não cobrem esportes", diz.

A psicóloga Thirza Reis sugere que, para se manter em segurança, o ideal é sempre deixar alguém avisado dos seus planos. "Pode ser o recepcionista do hotel ou hostel onde você se hospeda ou mesmo parentes e amigos que ficaram na sua cidade. Caso você não volte por algum motivo, alguém vai saber, pelo menos, onde você esteve por último". A blogueira de viagens Roberta Martins lembra que os brasileiros, normalmente, saem na frente quando o assunto é cuidados com a segurança. "Somos mais atentos. Sabemos que não é legal ficar com o celular ou a câmera expostos em qualquer lugar e que é sempre bom andar com um documento", opina.

Depoimentos
 (Arquivo pessoal)

"A primeira viagem sozinho foi em 2009, e eu tinha medo, mas logo perdi, principalmente depois que fiz inglês fora e rompi a barreira da língua. Fui até no velório do Mandela sozinho. Para mim, viajar é uma escola dinâmica e, quando você sai da sua zona de conforto só, você pensa mais sobre a vida e tem experiências mais intensas. A imersão no ambiente, tanto com locais quanto com outros viajantes, é bem maior, e eu acho que somente quando a gente se choca com culturas diferentes é que percebemos, realmente, a nossa. Nas Filipinas, por exemplo, brinquei com centenas de crianças como se fosse uma delas, o que seria difícil se eu estivesse acompanhado. Nós nos tornamos, também, mais autoconfiantes. A maior vantagem é não depender de ninguém para tomar decisões. A parte negativa é lidar com coisas do cotidiano, como alguém olhar sua mochila enquanto vai ao banheiro, tirar fotos ou dividir um quarto de hotel em cidades que não têm hostel para ficar mais barato. E, no caso de viagens longas, a saudade, a vontade de conversar com alguém que te conhece há muito tempo e não ter que repetir toda hora de onde é, quantos anos tem etc".
Rafael Pops Barbosa,
36 anos, cientista político, oficialmente mora em Brasília, mas está há oito meses viajando pelo mundo, sem endereço

 (Arquivo pessoal)

"Quando larguei meu emprego para fazer intercâmbio, acabei fazendo um mochilão de cinco meses pela Oceania e Sudeste Asiático (Austrália, Nova Zelândia, Malásia, Cingapura, Indonésia, Vietnã, Laos e Tailândia). Desde que voltei para o Brasil, tenho tentando explorar mais o meu próprio país. Gosto da liberdade de montar meu próprio roteiro, visitar as atrações que mais me interessam e fazer tudo no meu próprio tempo, sem falar no aprendizado libertador que isso traz. Somos obrigados a aprimorar nossas habilidades de convívio social e a aprender a nos virar sozinhos, enfrentando perrengues e solucionando problemas. Somos obrigados a aceitar nossa própria companhia e passamos a gostar disso. Certa vez, minha Campervan (uma espécie de minimotorhome) alugada atolou em uma estrada de terra com pouquíssimo movimento e sem qualquer sinal de telefone. Quando eu estava perdendo as esperanças, apareceu um rapaz com um trator e uma corda, tirou meu carro de lá e ficou feliz em ter ajudado. Quanto aos pontos negativos, os custos da viagem acabam sendo maiores. Pegar algum táxi, alugar um carro e fazer algum passeio são exemplos de coisas que saem mais baratas quando se tem companhia. Também é chato pedir o tempo todo para algum desconhecido tirar foto e, quando pedimos, geralmente elas saem péssimas. E uma vez fiquei gripada no Camboja e, por estar sozinha, precisei criar forças para sair da cama e providenciar alguma comida. Sobre a segurança, é importante sempre pesquisar sobre o país ou a cidade e sobre os costumes e a cultura locais antes de se aventurar. Eu tenho o sonho de conhecer Papua Nova-Guiné, mas ao pesquisar, descobri que é uma região com alto índice de violência contra mulheres, então, optei por não viajar sozinha para lá".
Mariana Peixoto Henriques,
27 anos, advogada, Brasília

 (Arquivo pessoal)

"A princípio, não era um plano. Eu passei a viajar sozinho por necessidade, por perceber que nem sempre os outros teriam tempo, dinheiro ou interesse para se juntar a mim, e eu não queria deixar de viajar por falta de companhia. A primeira experiência foi aos 18 anos, em um intercâmbio, mas, depois que me divorciei, acelerei as viagens e o plano de conhecer o mundo. Nos últimos dois anos, fui para Escócia, Espanha, Marrocos, Canadá, Alemanha, República Tcheca e Rússia. Gosto de lugares menos óbvios e que poucas pessoas topariam visitar comigo, justamente por preconceito, pelas informações parciais a que temos acesso. As melhores viagens que fiz foram para Cuba, Israel e Rússia, países estigmatizados. Você acaba conhecendo muita gente que está vivendo uma experiência semelhante, o que pode virar uma amizade e até uma futura viagem, seja para visitar esse novo amigo, seja uma companhia para outro destino. Para quem gosta de usar aplicativos, como o Tinder, as possibilidades aumentam. Só é preciso ter muita paciência para conseguir uma foto boa quando está sozinho. Geralmente, eu peço para japoneses, que são ótimos para tirar fotos (risos)".
Ricardo Lucas,
29 anos, empresário, Brasília


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