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Pesquisa Pesquisa coloca Recife no ranking das cidades inteligentes Coordenado pela Connected Smart Cities, estudo é contestado por especialistas, que apontam as deficiências da capital pernambucana nos quesitos analisados

Por: Mariana Fabrício - Diario de Pernambuco

Publicado em: 21/01/2016 13:38 Atualizado em: 21/01/2016 13:34

Imagine uma cidade funcionando como um organismo, onde todo trabalho é interligado e há cooperação em cada performace. Sem dificuldade para estacionar, nem esperas longas por ônibus e fácil acesso aos órgãos públicos. Esse parece um lugar dos sonhos, mas pode ser a cidade do futuro. O conceito de cidades inteligentes (smart cities, em inglês) já faz parte das principais metrópoles do mundo e aos poucos tem ocupado a agenda das prefeituras brasileiras.

Com um dos principais polos tecnológicos do país, o Recife não fica de fora dessa discussão, principalmente por iniciativa de acadêmicos, startups e do Porto Digital. Apesar dos entraves em sua infraestrutura, um ranking nacional realizado pela organização Connected Smart Cities colocou a capital pernambucana em décimo lugar como maior potencial de desenvolvimento nas áreas relacionadas ao conceito de cidades inteligentes. Alguns indicadores para chegar ao resuldado foram segurança, mobilidade, saúde, educação, economia, governança, tecnologia e urbanismo.


Segundo o engenheiro de sistemas do Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife (Cesar), Felipe Ferraz, ainda existe muito a se fazer por aqui neste sentido. "Por esses indicadores da pesquisa estamos bem, mas não poderíamos ser colocados como a décima smart city do país", afirma. Para Ferraz, a falta de planejamento é o maior impedimento para a cidade avançar. "Não existe um plano piloto que prevê como a cidade vai estar daqui a dez ou cinquenta anos, por exemplo", diz. Para o engenheiro, uma cidade para ser considerada inteligente precisa estar instrumentada e interconectada.

De acordo com o pesquisador de cidades inteligentes e professor do Centro de Informática da Universidade Federal de Pernambuco, Kiev Gama, alguns pilares essenciais não foram avaliados na pesquisa e outros complicadores dificultam a boa posição da cidade em um ranking como esse. "Um dos pilares de cidades inteligentes é o de governança participativa e transparente. Isso não foi avaliado ali", comenta. Na opinião de Gama, falta investimento na área. "Um entrave é não haver ainda um planejamento formal nem um orçamento para uma estratégia de cidade inteligente na grande maioria das cidades brasileiras", aponta.

Jaques Barcia defende a participação de cidadãos na construção de uma cidade inteligente.
Foto: Rodrigo Silva/DP.
Jaques Barcia defende a participação de cidadãos na construção de uma cidade inteligente. Foto: Rodrigo Silva/DP.

A definição mais difundida sobre cidades inteligentes apresenta uma tendência mundial baseada fortemente em Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) para melhorar a vida das pessoas em centros urbanos. No entanto, o conceito pode ser mais amplo e escapar das ações feitas exclusivamente pela tercnologia. "De forma geral, trazemos sempre um olhar muito tecnológico para cidades inteligentes, mas não devemos nos limitar apenas a TIC. Precisamos pensar em cidades para pessoas, e não só sensores, sistemas e aplicativos: maior acessibilidade, um sistema de transporte coletivo mais eficiente, mais ciclovias, melhor gestão de resíduos, melhor planejamento urbano, dentre vários outros tópicos", completa o professor do Cin.

Desde equipar a cidade com ferramentas para gestão urbana, como controle e monitoramento, até o uso de ferramentas que empoderam o cidadão com transparência e maior participação nas ações de governo, iniciativas públicas e privadas podem tornar um ambiente mais inteligente. "Independentemente de existirem grandes investimentos ou não, o próprio ecossistema de inovação da cidade poderia focar em cidades inteligentes, fomentando-se a criação de empresas centradas nesta problemática, ao invés de apenas comprar soluções estrangeiras", critica Kiev Gama.

A participação popular é apontada também pelo mebro da ONG Leading Cities e fundador da Baumann Consultancy Network, Renato de Castro. "Pessoas conectadas criam uma maior possibilidade de termos cidadãos informados ou pelo menos com acesso a esta informação. O mesmo tem se visto em outros países com extrema desigualdade social como a India e China. Logo, quanto mais cidades inteligentes, mais pessoas inteligentes e por consequência cidadãos com maiores chances de criar uma sociedade mais democrática e igualitária. Pode ser até uma utopia se pensarmos dentro das dimensões globais, mas aos poucos esta revolução já está acontecendo", diz Castro.

Para o fundador da consultoria, o conceito de metrópoles inteligentes está crescendo, mas não pode ser considerado ainda uma realidade nacional. Outro ranking também da Connected Smart Cities, aponta o Rio de Janeiro como a quarta cidade da América do Sul com mais potencial "smart". "O grande segredo do Rio foi ter conseguido viabilizar Parcerias Público Privadas. Este modelo ao meu ver é a grande solução para o investimento em projetos de cidade inteligente no Brasil", explica Renato de Castro.

Soluções locais
Uma das ferramentas de participação popular é a Colab.re, que coleta publicações de problemas urbanos denunciados e promove o contato do cidadão com a Prefeitura responsável. O exemplo de gestão participativa já funciona em todo país. Como uma rede social, o morador pode tirar uma foto, localizar, explicar a reivindicação e esperar o retorno do órgão público responsável. As publicações podem ganhar apoiadores e comentários, além do compartilhamentos para outras redes.

Canal Colab.re ajuda a identificar os problemas da cidade e possibilita a relação com o poder público.
Foto: Divulgação.
Canal Colab.re ajuda a identificar os problemas da cidade e possibilita a relação com o poder público. Foto: Divulgação.

"Está se chegando a um consenso em vários países que os governos não podem dar conta de todas as demandas dos cidadãos, mas podem disponibilizar recursos para as próprias pessoas desenvolverem ferramentas úteis para todos. Seja para melhorar o bairro, criar novos mecanismos de fiscalização, melhorar algum canal do cidadão com o poder público, dentre outras possibilidades", comenta o professor Kiev Gama.

Projeto do Porto Digital para este ano, o Laboratório de Objetos Urbanos Conectados (L.O.U.co), será mais um espaço para a população. Aberto para startups embarcadas, empresas e estudantes discutirem problemas urbanos, o local deve ser inaugurado em março e será equipado de sensores inteligentes.

O objetivo é propor desafios para os moradores. O espaço terá 130 metros quatrados e ficará localizado no polo de economia criativa, Porto Mídia. "Vamos propor soluções em diversas áreas, como saúde, mobilidade e segurança utilizando IOT. Acredito que a cidade precisa ter mais possibilidades que dificuldades", comenta o coordenador de tendências do Porto Digital, Jacques Barcia.

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