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Notícia de TECNOLOGIA
Tecnologia As tensões de Mark Zuckerberg no World Mobile Congress Principal convidado do primeiro dia do evento de tecnologia, o presidente do Facebook teve que driblar pressão das operadoras, protesto e falta de carisma

Por: Maria Carolina Santos - Diário de Pernambuco

Publicado em: 03/03/2015 07:01 Atualizado em: 03/03/2015 07:39

Mark Zuckerberg é entrevistado pela jornalista da revista Wired Jessi Hempel. Foto: Carolina Santos/DP/DA Press
Mark Zuckerberg é entrevistado pela jornalista da revista Wired Jessi Hempel. Foto: Carolina Santos/DP/DA Press

Barcelona – Em meio a lançamentos de smartphones e palestras sobre o futuro da vida conectada, o primeiro dia do World Mobile Congress tinha uma estrela maior. Multibilionário, menino prodígio, responsável por rever a forma que as pessoas se relacionam e consomem informações (e, na ladeira, transformar o jornalismo?) Mark Zuckerberg era o nome midiático em meio a conferências e mesas redondas com presidentes de empresas de tecnologia e empreendedores. Uma hora e meia antes de ele subir ao palco do auditório 1 do Hall 4 da Fira Gran Via, a fila já estava formada por uma pequena multidão de engravatados.

Ordenadamente, os portões foram abertos meia hora antes do evento. Era evidente a expectativa na plateia. Cinco minutos antes, correria. O ambiente de ordem vive breves momentos de um início de caos. Não, não é Zuckerberg, mas serve: o jogador Piqué, zagueiro do Barcelona, e marido de Shakira, chega e senta na primeira fila.

Na hora marcada, o pavilhão está lotado até o mezanino. Nas fileiras do meio, executivos que chegaram a desembolsar 5 mil euros para participar da feira e do congresso, um dos mais importantes do mercado de dispositivos móveis no mundo. O telão mostra um clipe do evento com música pop bastante alta. Há burburinho e palmas. Tudo escurece e surge a jornalista ("senior", como ela destaca) da revista Wired Jessi Hempel, que, nos próximos 20 minutos, vai entrevistar Zuckerberg, antes de mais outros 25 minutos em que ele e mais três executivos deveriam conversar sobre a importância dos países mais pobres consumirem (e pagarem) banda larga.

Mark Zuckerberg surge segundos depois na ponta esquerda do palco e, em meio a palmas efusivas e gritinhos discretos, cruza para o outro lado rapidamente e sem se virar para a plateia. Está com sua tradicional camisa acinzentada, calça jeans e sapatos cinza escuro. Parece muito mais jovem do que seus 30 anos. O rosto sem rugas, poucas olheiras e, o mais marcante no rosto, sobrancelhas quase inexistentes.

Zuckerberg se senta na ponta da cadeira, com a coluna reta e a palma dos pés sem pisar no chão, só as pontas – ficariam assim pelo resto do evento, salvo alguns minutos com os pés cruzados. A posição tensa de sentar logo se refletiria em pontos de suor na testa, que subiram para as têmporas mesmo com o ar-condicionado intensamente frio do pavilhão.

Quando Zuckerberg fala, sua voz é projetada e sua dicção é quase perfeita. Ele não parece confortável, mas se esforça. Os movimentos corporais e as falas ensaiadas parecem gritar "media trainning" - versão atualizada dos cursos de etiqueta e oratória. Jessi Hempel pergunta sobre as viagens que ele fez para países como a Zâmbia: O que me marcou foi as distâncias que as pessoas percorrem para se conectar", diz, sem muita convicção.

Na resposta seguinte, esclareceu que o Facebook pode sim trabalhar junto ao Google no futuro, para levar internet onde ainda não tem. "Pesquisar online é algo que as pessoas querem e precisam no mundo todo. Mas vejo que a imprensa dá muita cobertura ao que nós estamos fazendo ou ao que o Google está fazendo para que mais pessoas estejam conectadas, mas a verdade é que quase 90% das pessoas vivem perto de algum lugar com internet. E isso se deve às operadoras", disse, repetindo a importância das companhias de telecomunicação. O público ainda não sabia, mas ali era o início de uma extensa agenda de boa vizinhança que seria colocada em prática nos 45 minutos da conferência.

Enquanto Zuckerberg se esgueirava para parecer simpático e descontraído, na quarta fila do meio uma mulher de meia idade cerrava os olhos, enquanto o executivo indiano atrás dela olhava tediosamente para a tela do celular. Mesmo na primeira fila, Piqué conversava animado ao pé do ouvido com o amigo que o acompanhava. Fora dali, um punhado de ativistas do Femen protestava com os seios nus contra a censura do Facebook ao corpo feminino.

Feministas aproveitam presença Mark Zuckerberg no evento para protestar. Foto: Luiz Yassuda/Reprodução
Feministas aproveitam presença Mark Zuckerberg no evento para protestar. Foto: Luiz Yassuda/Reprodução

No WMC, um evento bancado pelas operadoras e fabricantes de celular, Zuckerberg evitou a pergunta sobre o Facebook estar desenvolvendo drones e investindo em satélites. Preferiu seguir o protocolo à risca. Em certo momento a jornalista tentou sem sucesso conter a profusão de reverências às companhias telefônicas: "Vou falar com os representantes das operadoras em breve aqui com você, queria falar de outro assunto agora. O WhatsApp e outros serviços de mensagem fazem com que pessoas como eu não paguem por SMS, o que desafia modelos tradicionais de telecomunicação. Qual sua opinião sobre isso?", questionou.

Mantendo a posição ereta e uma expressão extremamente jovial, Zuckerberg hesita pela primeira vez na noite. "Bem... o que eu tenho ouvido de alguns colegas é que serviços de voz e mensagem ainda são a principal fonte de renda das operadoras, mas isso está mudando para outras áreas, como armazenamento e outras coisas. O que eu ouço de colegas não é 'ah, o WhatsApp é péssimo, parem de usar isso'. Mas que o negócio está evoluindo e há outros serviços que as pessoas vão usar. Eu acho que o desafio é como desenvolver o negócio deles (das operadoras) na velocidade certa, e ter certeza que é o melhor caminho regulatório, garantindo a flexibilidade que eles precisam", explicou, marosamente.

Então começou a fazer pequenas brincadeiras - "não sei muito o que dizer sobre isso, não sou uma agência reguladora" - e a soar cada vez mais como um CEO que tem que ser político. A tensão subliminar no palco – que a plateia teimava em confundir com tédio - não estava somente na postura enrijecida do todo poderoso das redes sociais. Depois da entrevista rápida, a jornalista chamou ao palco três executivos para falar das parcerias do Facebook com as operadoras em lugares pobres. Funciona assim: os consumidores usam o Facebook de graça no celular, mas pagam se saem dele e usam o "resto" da internet. Nos soa familiar. Ganham as operadoras, que conseguem que até 30% desses usuários usem a internet paga, e ganha o Facebook, que tem aumento em popularidade, acessos, recolhimento de informações, penetração em outros mercados, aumento na venda de anúncios, etc e etc.

Executivos presentes na mesa redonda e Zuckerberg no telão do World Mobile Congress. Foto: Carolina Santos/DP/DA Press
Executivos presentes na mesa redonda e Zuckerberg no telão do World Mobile Congress. Foto: Carolina Santos/DP/DA Press

No meio da conversa com os três representantes de telefônicas, ficou bem claro que eles não eram tão fãs assim das redes de Zuckerberg: Facebook e WhatsApp consomem pouca banda e são praticamente autossuficientes, isso sem contar que são os principais concorrentes das operadoras nos mercados emergentes.

Com um braço ao redor da cadeira e o torso virado para Zuckerberg, Jon Frederik Baksaas, 25 anos no topo do mercado corporativo, totalmente à vontade em seu habitat natural, cutucou o Facebook sem cerimônia. "Era como entregar a chave de casa ao inimigo", disse, ao falar sobre o começo da parceria com a rede social.

Neste ponto da conversa, já fazia quase dez minutos que ninguém ouvia a voz de Zuckerberg. Com os braços esticados e as mãos apoiadas no joelho, ele só balançava a cabeça concordando com tudo que era dito. A certa altura, uma cobrança para a jornalista foi disparada da lateral do pavilhão "Ask Mark!". O restante da plateia, porém, parecia resignada. Já havia tirado fotos, já havia visto as sardas e o nariz proeminente de Zuckerberg.

Olho para trás e a mulher de meia idade e o executivo indiano já haviam deixado a conferência. Ainda restavam dez vagarosos minutos para os monólogos de cada executivo sobre a função das operadoras de telefonia celular. Zuckerberg se manteve quase que à parte. Encerrou sua participação de forma simplista, e cheio de palavras repetidas, talvez louco para deixar o palco: "Nós estamos fazendo a nossa parte e ansiosos por trabalhar com todos vocês, ajudando vocês (os 'partners') a fazerem o que vocês fazem um pouco melhor. E a fazer mais dinheiro e conectar as pessoas nesse processo".

Os olhos do público mal tiveram tempo de acompanhar a saída de Zuckerberg. Ali, no corredor, uma outra estrela estava vulnerável. De fininho, Piqué colocava o capuz do moletom para sair despercebido. Não teve como: foi parado para tirar fotos e deixou para trás uma mulher estatelada no chão na ânsia de tocá-lo. Zuckerberg cumprimentou os parceiros das operadoras de telefonia e saiu do palco. Em dois minutos o pavilhão estava vazio e a fila do trem dando voltas. As fotos das garotas de topless no protesto se espalhariam pelo WhatsApp, comprado no ano passado pelo Facebook por US$ 22 bilhões. Ainda que tenso, Zuckerberg está em todo lugar.

*A jornalista viajou a convite da Samsung



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