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Assistência humanizada é fundamental em tempos de pandemia

Publicado em: 24/05/2021 08:00 | Atualizado em: 24/05/2021 08:45

 (Rômulo Chico/ DP.)
Rômulo Chico/ DP.
A chegada da pandemia da Covid-19 ressignificou algumas formas de comunicação dentro das relações interpessoais. O afeto transmitido através de um abraço ou um sorriso em forma de cumprimento deram espaço ao que ainda hoje é ocupado pelo medo e as exigências necessárias de distanciamento social. Dentro dos hospitais, esse sentimento, de início, se torna ainda mais intenso, uma vez que os pacientes temem a exposição ao vírus. É nesse momento que a assistência humanizada cumpre seu papel fundamental. 

Em meio a grandes avanços tecnológicos, observou-se o crescimento de práticas individualistas e da mercantilização da saúde, quando a relação entre médicos e pacientes ficou cada vez mais distante e baseada no rápido atendimento. Por outro lado, no momento em que o Brasil ultrapassou 444 mil óbitos pela Covid-19, a medicina passa por um processo de retomada de valores que estão intrinsecamente ligados ao ofício, como atesta o infectologista do Real Hospital Português, Eduardo Faria. Entre eles, o principal é o atendimento humanizado, que ele viu diluir-se na medicina, mas agora mostrando necessidade de ser adotado por conta de uma doença que obriga as pessoas a estarem mais distantes umas das outras.

"Existem experiências positivas na pandemia. Por pior que possamos imaginar, ganhamos tecnologias, e uma delas é o atendimento humanizado ser considerado fundamental, é uma tendência que nós médicos fomos perdendo ao longo dos anos, uma volta ao passado. Antes existia o médico de família. Depois, o médico passou a ser uma figura muito mais distante, tecnológica, e pouco humanizada", disse, antes de citar a importância do atendimento personalizado em tempos de distanciamento social. "A pandemia veio fazer com que a importância desse atendimento passasse a ser uma coisa fundamental na condução dos pacientes com Covid". 

De acordo com o médico, isso também acontece por conta de fatores externos encarados pelo paciente acometido com o novo coronavírus. A ansiedade, o medo e a solidão são alguns dos sentimentos que mais acompanham esse paciente e seus familiares, o que pode acabar desestabilizando o período de tratamento da doença. Por outro lado, é também em meio a esse turbilhão de sentimentos que a assistência humanizada ganha forma, atuando no acolhimento do enfermo. 

"Os pacientes com Covid-19 chegam ao hospital desolados, porque além da própria doença, existe a distância da família. Um comportamento derrotista vai invariavelmente levar o paciente a um mal resultado, por isso o equilíbrio emocional do paciente que contrai a doença é fundamental. Daí também a importância de ser feito um atendimento mais próximo, humanizado, colocando, se possível, alguns aspectos positivos da pandemia", explica o infectologista.


Sensibilização com a condição do paciente

A sensibilização e cuidado por parte da equipe profissional também são aspectos considerados fundamentais para a efetivação do tratamento humanizado nas unidades de saúde. Para Faria, o acolhimento deve funcionar considerando as subjetividades do paciente, numa relação que deve ser construída a base da confiança mútua. Para ele, não se trata apenas de o paciente confiar no médico, mas o médico também construir um elo de confiança com quem está do outro lado da mesa. 

"As pessoas não podem ser atendidas como números, mas, sim, dentro de suas particularidades. Nós estamos vivendo uma impessoalidade muito grande na assistência médica. Quando o médico ganha a confiança, o paciente se sente em casa dentro daquela estrutura hospitalar. Não é só o paciente que tem que confiar no médico. Também é o médico que deve confiar no paciente. E quando isso acontece, o diálogo flui mais fácil, porque eu não posso ter dúvida de que aquilo que vou recomendar será seguido", argumenta o infectologista do RHP. 

Apesar dos protocolos e uma série de orientações para o tratamento da doença, o médico lembra que não se trata de um vírus, mas de pessoas. E como tal, elas são diferentes umas das outras, têm histórias de vidas diferentes e reagem cada uma de uma maneira a algo tão novo, que tem o agravante de colocar vidas em risco.

"O paciente que se trata de Covid-19 de uma forma não é igual a outro que tem outra doença, o tratamento é diferente, seja no ambiente de internado ou antes dele". Por isso, é imprescindível que os pacientes com Covid-19 se sintam parte central do atendimento médico, perante tempos em que o distanciamento social virou sinônimo de segurança. 

Faria complementa, lembrando que a humanização na medicina clínica é uma necessidade. Inclusive, essa forma de atendimento já é adotada em larga escala em países mais desenvolvidos. "A medicina clínica, hoje, passa necessariamente por essa humanização. Os países mais desenvolvidos tentam fazer uma assistência personalizada e nós no Brasil temos que seguir essa linha. Não pode ser uma medicina mais tecnológica e menos humanizada. Tem que ter um equilíbrio para as duas coisas".
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