A bancada de oposição da Câmara do Recife ganhou notoriedade na última semana, após a recomendação do Ministério Público de Pernambuco (MPPE) contra fiscalizações em postos de saúde e hospitais públicos sem agendamento ou a presença do secretário, prática comum entre os vereadores nos primeiros 100 dias da nova legislatura. Ao apontarem suas câmeras para os problemas da gestão, os parlamentares levam o debate para um território até então monopolizado pelo prefeito João Campos (PSB) – a internet.
A pressão nas redes sociais é uma estratégia dos vereadores para fazer barulho e sobressair à maioria aliada de João Campos na Casa José Mariano, que domina a votação de projetos. Na avaliação de Felipe Alecrim (Novo), líder da oposição na Câmara Municipal, a Prefeitura do Recife “ignora o diálogo com o poder legislativo, a população e os servidores públicos” e “se esconde atrás de publicidade”.
“As fiscalizações e as proposições aprovadas na Câmara Municipal tem demonstrado as inúmeras carências na nossa cidade e, consequentemente, a ineficiência da Prefeitura em realizar políticas públicas estruturantes, que transformem de fato a vida das pessoas. O retrato atual da saúde, da educação, o número de pessoas que vivem em situação de rua, a condição das áreas de morros e a quantidade de obras inacabadas têm ganhado destaque neste trabalho intenso que a oposição vem realizando”, disse, ao Diario de Pernambuco.
Hoje, a bancada de oposição do Recife é composta por apenas sete vereadores: Eduardo Moura (Novo), Davi Muniz (PSD), Alef Collins (PP), Gilson Machado Filho (PL), Tiago Medina (PL), Fred Ferreira (PL) e Paulo Muniz (PL), além de Alecrim. A Câmara Municipal conta, ao todo, com 37 parlamentares.
Na análise do cientista político Hely Ferreira, mesmo uma oposição em minoria ainda pode fazer pressão nos governantes se atuarem com qualidade.
“A bancada de oposição pode ser pequena. É a qualidade dos membros que vai definir se ela é boa ou não. Uma oposição bem feita incomoda qualquer governante e, ao mesmo tempo, o governante tem que ter humildade de aprender com a oposição e tirar lições positivas para o seu mandato”, afirmou.
“A oposição ao prefeito tem sido, neste segundo mandato, mais competente até o momento”, acrescentou, comparando com a atuação da legislatura que encerrou em 2024.
Oposição na Alepe
O cientista político Hely Ferreira analisa que as atenções estarão voltadas para a atuação dos deputados estaduais até o próximo ano. Com a aproximação da eleição para o Governo do Estado, o cientista político avalia que a atuação da bancada de oposição pode ser decisiva – e lá, ao contrário da Câmara do Recife, eles são maioria e têm causado incômodos no governo Raquel Lyra.
O deputado Diogo Moraes (PSB), líder da oposição, diz que a bancada está "vigilante diante das movimentações do Governo". Citou embates recentes, como as cobranças sobre os episódios de violência entre torcidas organizadas; a audiência pública com o secretário de Educação, para que prestasse esclarecimentos sobre problemas nas escolas e programas oferecidos pela pasta; a concessão da Companhia Pernambucana de Saneamento (Compesa); a ausência de administrador no Arquipélago de Fernando de Noronha; entre outros.
“A oposição preside os principais colegiados da Casa e está atenta aos projetos em tramitação, sempre com responsabilidade e foco no interesse público. Seguiremos unidos e vigilantes, sempre em defesa do que é melhor para Pernambuco”, afirmou.
Diferente da Câmara, a Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe) faz um trabalho de oposição mais político e menos midiático. É através de articulações e negociações que os deputados garantem posições importantes nas principais comissões permanentes, influenciando a tramitação dos projetos da governadora Raquel Lyra (PSD), e votos para alterar ou travar textos.
Segundo Hely Ferreira, a atuação dos deputados evidencia “falta de habilidade” de Raquel Lyra e dificulta a aprovação das pautas de interesse do governo. “O trabalho que eles fazem na Assembleia Legislativa tem demonstrado que falta, muitas vezes, habilidade da governadora em conviver com a oposição. Não é por acaso que há situações em que os próprios deputados ligados à governadora votam contra ela”, analisou.