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EX-PRESIDENTE

Bolsonaro quer descredibilizar as acusações, avalia cientista político

Para especialista, narrativa de perseguição política, reforçada pelo ex-presidente em mídias e eventos, busca mobilizar apoiadores

Publicado em: 29/03/2025 12:44 | Atualizado em: 29/03/2025 13:42

Atos do 8 de janeiro levaram ex-presidente e mais sete aliados a serem réus no STF   (foto: Lula Marques/Agência Brasil)
Atos do 8 de janeiro levaram ex-presidente e mais sete aliados a serem réus no STF (foto: Lula Marques/Agência Brasil)

Logo após se tornar réu por decisão unânime do Supremo Tribunal Federal (STF) de receber a denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) contra o “núcleo crucial” da trama golpista, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) voltou a afirmar que estava sendo perseguido politicamente pelo Judiciário brasileiro. Na análise do cientista político Sandro Prado, a narrativa já é parte de uma estratégia para descredibilizar as acusações e uma possível condenação.

“Bolsonaro tende a adotar uma estratégia de mobilização de apoiadores, utilizando a mídia e eventos públicos para reforçar sua narrativa de perseguição política visando deslegitimar as instituições judiciais e apresentar-se como vítima de um sistema supostamente parcial. A construção dessa narrativa é crucial para manter sua relevância política e influenciar a opinião pública”, avaliou Prado.

O ex-presidente e sete aliados foram acusados de cinco crimes: golpe de Estado, abolição violenta do Estado Democrático de Direito, organização criminosa armada, dano qualificado e deterioração de patrimônio tombado. Apesar de já estar inelegível até 2030, a narrativa emplacada por Bolsonaro gira em torno de se lançar como candidato à presidência da República em 2026.

Em diversas oportunidades, ele chegou a dizer que uma eleição sem a sua participação seria um atentado à democracia brasileira. Para Prado, o discurso é uma estratégia para manter seus aliados articulados e pressionar as instituições, também minando o processo eleitoral. 

 

Papel de liderança está ameaçado

 

A estratégia de adotar a narrativa de presidenciável, no entanto, pode levar o ex-presidente Jair Bolsonaro a perder o papel de liderança dentro do seu grupo político ao longo do trâmite do processo, fragmentando a base. Uma solução poderia ser a indicação de um sucessor, algo que não deve acontecer.

“Manter o discurso de candidatura em 2026, apesar da inelegibilidade, serve para manter a base mobilizada e pressionar o Judiciário. No entanto, essa estratégia pode ser arriscada a longo prazo. Anunciar um sucessor permitiria a construção de uma alternativa viável dentro de seu espectro político, evitando o risco de fragmentação. Contudo, Bolsonaro parece relutante em apontar um substituto, indicando que pretende ser o principal nome da ultradireita conservadora”, afirmou.

Além disso, pautas como a anistia para os condenados pelo 8 de Janeiro cumprem um papel de manter a base articulada. “A militância bolsonarista pode reforçar a narrativa de que há excessos na condução dos processos e que as punições são desproporcionais. Isso pode intensificar os protestos pela anistia e aumentar a pressão sobre as instituições judiciais, buscando deslegitimar as decisões e angariar simpatia pública para os envolvidos”, analisou Prado.

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