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Geração "influencer" chega à Câmara do Recife

Sem sobrenomes políticos, Thiago Medina (PL) e Kari Santos (PT) conquistaram seus eleitores através das redes sociais

Publicado: 10/02/2025 às 05:30

Vereadores Thiago Medina (PL) e Kari Santos (PT)/Carlos Lima; Pamella Biernaski/Divulgação

Vereadores Thiago Medina (PL) e Kari Santos (PT)/Carlos Lima; Pamella Biernaski/Divulgação

Vereadores Thiago Medina (PL) e Kari Santos (PT)
A comunicação é uma parte essencial da política – o político precisa saber expor o que fez, e o que seus opositores não fizeram. As redes sociais se tornaram a ponte ideal entre eleitores e representantes, mas ainda é dominada por poucos. O prefeito do Recife, João Campos (PSB), conquistou notoriedade pelo perfil “influencer”, e essa geração de políticos chegou à Câmara Municipal da capital em 2025.

A Casa José Mariano está, aos poucos, sendo renovada. Oito dos 37 parlamentares da nova legislatura têm menos de 35 anos, e três deles estão na faixa dos 20 anos, sendo considerados nativos digitais, pertencentes à “Geração Z”. Os caçulas da Câmara – Gilson Machado Filho (PL), 26; Alef Collins (PP), 22; e Thiago Medina (PL), 21 – foram eleitos por partidos de direita, e defendem as tradicionais pautas do conservadorismo cristão nacional.

Medina, em especial, já é um representante da renovação dos quadros da direita organizada digitalmente. Sem familiares políticos, o vereador mais jovem do Recife é parte de uma juventude marcada pela agenda reacionária crescente nas redes desde o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) e da primeira eleição do presidente estadunidense Donald Trump, em 2016.

E ele não é o único. O deputado federal Nikolas Ferreira (PL) é o principal representante da Geração Z bolsonarista, e mostrou ter mais alcance midiático do que a máquina do Estado ao viralizar um vídeo com desinformações sobre a fiscalização do Pix. O Governo Federal optou por voltar atrás com a medida para frear a campanha da oposição.

Na análise de Medina, há uma demanda por novos políticos sem o histórico de escândalos e polêmicas dos medalhões, mas que defendam velhos costumes.

“As pessoas querem encontrar políticos que falam o que elas gostariam de falar, mas não tem oportunidade. Elas são enganadas há muito tempo, só tiveram políticos de esquerda que não cumpriam o que falavam. Usamos a rede social para comunicar a verdade”, afirmou.

Com pouco mais de 60 mil seguidores no Instagram, Medina acredita que pode servir como contraponto ao prefeito João Campos. Apesar da oposição ser minoria na Câmara Municipal, os vereadores podem fazer barulho o bastante para incomodar os socialistas.

“Na rede social, ele era unanimidade. Haviam poucas pessoas na oposição passada ativas nas redes, o que é bem diferente nesta legislatura. Ele já está incomodado. Não à toa, depois que as fiscalizações começaram, a Prefeitura passou a proibir fiscalização sem agendamento. Fiscalização agendada é visita”, disparou.

Mas não foi apenas a juventude bolsonarista que chegou à Câmara neste ano impulsionada pelas redes sociais. Aos 31 anos, Kari Santos (PT) é a vereadora mais jovem da esquerda na Casa, e soma cerca de 257 mil seguidores no Instagram.

Apesar de não ser uma nativa digital, a petista nasceu na periferia recifense e começou sua trajetória política no movimento estudantil. Aprendeu, desde cedo, a se comunicar para lutar por políticas públicas para as mulheres, os trabalhadores, e em prol da educação, e encontrou nas redes sociais um espaço de reivindicação de direitos e defesa de ideais.

“Sou, antes de tudo, uma comunicadora popular. Sempre trabalhei com politica nas redes sociais. Não trabalhei com roupas, maquiagem, ou oferecendo outra coisa à população. A criação do meu conteúdo sempre foi pautada na política, e esse é meu diferencial. Pautar o cotidiano da classe trabalhadora, lutas importantes contra o fascismo e o negacionismo, a defesa do PT e do presidente Lula”, afirmou Kari.

Para a vereadora, a esquerda precisa melhorar sua comunicação a nível nacional para não sofrer uma derrota como em 2018. Kari sente, no entanto, uma resistência da classe política em se adaptar ao novo perfil de eleitor.

“Costumo dizer que existem novas formas de fazer política, e trabalhar com as redes é uma delas. Existe um certo preconceito, ou falta de entendimento, da esquerda sobre a importância de usar essas ferramentas, que hoje são utilizadas pela direita. Acredito que devemos ocupar os mesmos espaços, o que não significa que devemos trabalhar com discurso de ódio e fake news. A esquerda precisa avançar muito na comunicação a nível nacional”, analisou.

Na análise do cientista político Hely Ferreira, os políticos “influencers” ainda são uma moda, e não serão sinônimo de renovação até que a narrativa das redes seja colocada em prática. Até lá, o desgaste é iminente.

“Seja de direita ou de esquerda, isso é um modismo. Chega um momento que o eleitor percebe que o político que não tem o que apresentar, vai entrar no desgaste como qualquer outro. As redes sociais não vão manter alguém por muito tempo, ou alguém se renova, ou alguém se recicla. E realmente demonstra que tem conteúdo ou só o discurso das redes sociais por si só não se sustenta”, avaliou.
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