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PL expulsa deputado que posou com Lula e 'fez o L'

Publicado: 21/07/2023 às 09:07

/Foto: Reproduções/Redes sociais

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O presidente do PL, Valdemar Costa Neto, recebeu, nesta quinta-feira, o deputado federal Yury do Paredão (CE) e informou-o de que será expulso da agremiação. O pedido de abertura do processo, a fim de colocá-lo para fora do partido, foi feito na segunda-feira ao Diretório do PL no Ceará, por causa do apoio que o parlamentar licenciado vem dando ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Mas o chefe da seccional cearense devolveu o pedido à direção nacional para que tomasse a decisão.

"Recebi, na sede do PL Nacional, o deputado Yury do Paredão, do Ceará, a quem reafirmei que será expulso do partido por não comungar dos ideais de nossa legenda. A lei tem de ser cumprida e tem de ser igual para todos", tuitou Costa Neto.

Desde que Lula chegou à Presidência da República, em janeiro, Yury do Paredão assumiu uma postura de apoio ao governo, votando com a base aliada matérias de interesse do Planalto. Após a reunião, o parlamentar confirmou que será expulso do PL, mas que "respeita" a decisão da cúpula da legenda. Também pelo Twitter, ele anunciou que deixará a bancada.

"Estive com o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, o qual me afirmou que serei expulso do partido. Respeito a decisão do presidente e agradeço a oportunidade dada na eleição de 2022. Sigo como deputado federal defendendo a democracia, fazendo política com diálogo, respeito, sem radicalismo, com tolerância, e defendendo as ações dos governos que tragam melhorias para o povo brasileiro", anunciou.

O parlamentar cearense conseguiu irritar a direção do PL por causa de suas constantes postagens em redes sociais ao lado de Lula e de ministros do governo, inclusive fazendo o "L" com a mão. Ele também costuma compartilhar tuítes de Lula e seus auxiliares.

A crise, porém, foi deflagrada em maio, quando Yury postou uma foto dele ao lado do presidente e do ministro da Educação, Camilo Santana, que já foi governador do Ceará. "Juntos, podemos construir um Ceará mais forte e justo para todos", publicou o deputado no comentário sobre a foto.

Morto-vivo
Na semana passada, o parlamentar voltou a desafiar a legenda ao participar, no município pernambucano de Salgueiro, da cerimônia de entrega de uma estação de bombeamento do projeto de transposição do Rio São Francisco, ao lado dos ministros Paulo Pimenta (Secom) e Waldez Góes (Integração e Desenvolvimento Regional). O líder da oposição na Câmara, Carlos Jordy (PL-RJ), cobrou que Yury renunciasse, porque, com a expulsão, o ex-colega de bancada não só manteria o mandato como levaria para a nova legenda as prerrogativas de acesso a recursos dos fundos eleitoral e partidário.

"Ele quer ser expulso para poder levar o mandato dele. A melhor alternativa seria deixá-lo no sal: sem comissões, sem fundo e sem diretórios. Um morto-vivo no PL. Se ele tentar sair do partido, perderá o mandato", disse o bolsonarista, no início da semana, nas redes sociais.

Decisão de expulsar deputado expõe fratura do PL

A expulsão do deputado Yury do Paredão joga luz sobre a fratura que existe, hoje, no PL. Isso porque ele não é o único parlamentar do partido a demonstrar simpatias a Luiz Inácio Lula da Silva. Se nenhum deputado da legenda foi tão longe ao ponto de "fazer o L" com membros do governo ou cumprimentar efusivamente o presidente da República, outros correligionários têm entregado, na Câmara, votos ao Palácio do Planalto em questões que lhe interessam.

A avaliação de políticos e especialistas, além de relatos de integrantes do próprio partido, é de que o PL pode estar iniciando um processo de fragmentação. Isso porque há um choque entre duas alas: os pragmáticos/fisiológicos contra os bolsonaristas radicais. Prova disso é que, no projeto de lei do arcabouço fiscal, 30 deputados votaram favoravelmente à matéria, dos até então 99 integrantes da legenda. Já na medida provisória (MP) da Esplanada, apesar de o presidente Valdemar Costa Neto fechar questão contra o texto, oito deputados — posteriormente punidos com suspensão de cadeiras em comissões — votaram pela reestruturação ministerial de Lula.

Na reforma tributária, o ex-presidente Jair Bolsonaro entrou no circuito para, novamente, forçar o PL a votar em peso contrariamente. Mas fracassou: dos 382 votos no primeiro turno a favor da proposta de emenda constitucional (PEC)da medida, 20 foram do PL.

A maior resistência à oposição visceral ao governo é da bancada do Nordeste, que pela força de Lula na região não vê com maus olhos a aproximação com o Planalto. Sobretudo porque, como 2024 é ano de eleição municipal, vários pretendem pegar carona nos projetos do governo. À ideologia, falam mais alto os votos e o instinto de sobrevivência política.

Indignação
A adesão de parte expressiva do PL à reforma tributária indignou os bolsonaristas. Em um grupo de WhatsApp, cobraram explicações daqueles que acompanharam o governo. O líder Altineu Côrtes (RJ) chegou a suspender, segundo ele por alguns minutos, as conversas para que a poeira baixasse.

Da mesma forma, os "pragmáticos" se irritaram com as punições impostas aos oito deputados que votaram a favor da MP da Esplanada. "Acho normal dentro de um partido que teve uma reformulação gigantesca em pouco tempo. Há figuras ainda dentro do partido que têm um pensamento mais fisiológico e que, naturalmente, vão resistir em manter um comportamento vinculado com o eleitorado conservador. Não é o melhor dos cenários, mas não vejo grandes problemas para o partido", amenizou o deputado Junio Amaral (PL-MG).

Apesar da distância da janela partidária — que será às vésperas das eleições de 2026 —, partidos como Republicanos e PP já trabalham para atrair os insatisfeitos do PL. De acordo com Marcus Ianoni, cientista político, professor da Universidade Federal Fluminense (UFF), os "pragmáticos" podem se aproximar de outras legendas com o mesmo perfil.

"O governo Lula tem diálogo com as forças do centro. O bolsonarismo está em crise e eles não podem se aprisionar à causa ideológica. Eles têm interesses e também prestam conta para suas bases eleitorais", disse.

O próprio Costa Neto busca o precário equilíbrio entre as duas alas do PL. Com a expulsão de Yury do Paredão, acenou aos radicais e mostrou que não pretende abrir mão do capital de votos da extrema direita. Mas isso não o impediu de, em recente entrevista, ter admitido uma conversa com Lula no período em que o partido se aproximou de Bolsonaro. E afirmou que "sempre se deu bem" com o atual presidente da República.

Confira a matéria no site do Correio Braziliense.
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