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Política
MUDANÇA

Após discurso de Lira, Bolsonaro, em tom apaziguador, descarta problemas

Publicado: 25/03/2021 às 20:38

/Evaristo Sá/AFP

/Evaristo Sá/AFP

Após o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), ter dito ontem, durante pronunciamento no Plenário, que o Legislativo não irá tolerar mais erros no combate à pandemia e que “os remédios políticos no Parlamento são conhecidos e são todos amargos", os comentários surtiram como um alerta direcionado ao presidente da República. Buscando afastar qualquer sinal de insatisfação, Jair Bolsonaro (sem partido) afirmou, nesta quinta-feira, que entre ele e Lira está tudo bem. "Não tem problemas entre nós", destacou. 

Um ano após o início da pandemia do novo coronavírus no Brasil, o paí
s encara a pior fase da doença, quebrando recordes diários de mortes e novos casos da Covid-19. Em meio a esse cenário, Arthur Lira afirmou ontem, na Câmara, que não há tempo para erros e que estes não serão mais tolerados. Levando em consideração as polêmicas que envolvem o governo federal no enfrentamento à pandemia, como a indicação de tratamentos precoces isentos de respaldos científicos e os discursos negacionistas, as palavras de Arthur Lira soaram como um alerta direcionado ao presidente Jair Bolsonaro. “Os remédios políticos no Parlamento são conhecidos e são todos amargos. Alguns, fatais. Muitas vezes são aplicados quando a espiral de erros de avaliação se torna uma escala geométrica incontrolável”, assinalou, não mencionando a possibilidade de impeachment. 
 
Em entrevista a jornalistas nesta quinta-feira, Bolsonaro buscou apaziguar a situação e disse que "nunca teve nada errado entre nós. Sou um velho amigo de parlamento, torci por ele e o governo continua tudo normal", disse. E destacando o trabalho conjunto entre Executivo e Legislativo completou: "o que nós queremos, juntos, é buscar maneira de contratarmos mais vacinas. E, na ponta da linha, fazer que cheguem as informações de que as vacinas estão sendo realmente aplicadas. É isso que nós queremos". 

Entraves
Nome escolhido pelo presidente Bolsonaro para concorrer a presidência da Câmara, em fevereiro, Arthur Lira, após quase dois meses da eleição da Mesa Diretora, já soma alguns percalços com a gestão do presidente Bolsonaro, uma delas envolvendo o Ministério da Saúde. 

Com a nomeação do ministro Marcelo Queiroga para a pasta houve uma estremecida na relação entre o Centrão e Bolsonaro. Isso porque nomes como o de Arthur Lira simpatizavam com a indicação da médica cardiologista Ludhmila Hajjar, Lira chegou a manifestar apoio pelas redes sociais. “Espero e torço para que, caso nomeada ministra da Saúde, consiga desempenhar bem as novas funções. Pelo bem do país e do povo brasileiro, nesta hora de enorme apreensão e gravidade. Como ministra, se confirmada, estarei à inteira disposição”, escreveu o presidente da Câmara em publicação no Twitter.

Mas o movimento não foi suficiente. Com posicionamentos contrários ao de Bolsonaro, a cardiologista, um dia após a publicação de Lira, negou o convite feito pelo presidente da República, alegando não ter havido “convergência técnica” entre ela e o governo federal. 
Quarto nome a comandar a pasta durante a pandemia, Marcelo Queiroga, presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia, é o atual ministro da Saúde. Apesar dos discursos em defesa da ciência, Queiroga chegou a afirmar que sua atuação será baseada em uma dinâmica de continuidade aos trabalhos do general Eduardo Pazuello. 

Ainda que exista descontentamento, Lira tem buscado manter o equilíbrio entre os Poderes no enfrentamento à pandemia e, ontem, durante seu pronunciamento chegou a afirmar que não é justo direcionar todos os erros cometidos ao governo federal. “Precisamos, primeiro, de forma bem intencionada e de alma leve, abrir nossos corações e buscar a união de todos”, destacou.
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