MINISTÉRIO DA JUSTIÇA

Ao anunciar demissão, Moro denuncia interferência política na Polícia Federal

Publicado em: 24/04/2020 11:48 | Atualizado em: 24/04/2020 12:16

 (EVARISTO SA / AFP)
EVARISTO SA / AFP
O ministro da Justiça, Sergio Moro, anunciou sua demissão do governo federal nesta sexta-feira (24). Durante o pronunciamente, o juiz comentou a "insistência" do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) para a troca do comando da Polícia Federal, sem apresentar causas que fossem consideradas aceitáveis pelo ministro. 

Ao falar sobre a possiblidade de troca de comando da PF, Moro declarou que "Bolsonaro queria ter pessoa do contato pessoal, que ele pudesse colher relatório de informação, que pudesse ligar, e realmente não é o papel prestar esse tipo de informação. Imagine se na Lava Jato a então presidente Dilma, o ex-presidente ligassem para colher informações".

Citando uma "violação de uma promessa que me foi feita inicialmente de que eu teria uma carta branca" e um "abalo na credibilidade do governo com a lei", Moro destacou que "não são aceitáveis indicações políticas." O juiz destacou seu papel na busca pela autonomia da Polícia Federal, destacou essa característica da corporação durante os governos dos ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, ambos do PT. Moro destacou a autonomia da Polícia Federal nas gestões federais do PT, mesmo com "inúmeros defeitos" e envolvimentos em casos de corrupção. 

Moro afirmou que não assinou a exoneração de Mauricio Valeixo e que o então diretor-geral da Polícia Federal não possuía o desejo de deixar o cargo, mas teria cogitado a saída após pressão externa. Segundo o ministro, Valeixo teria dito que "talvez fosse melhor eu sair para diminuir essa pressão". Moro também negou que o pedido de exoneração tenha sido apresentado de maneira formal e declarou ter ficado surpreso com a publicação no Diário Oficial que indicava que a demissão teria sido feita a pedido e continha a assinatura de Sergio Moro. 

O ex-juiz da Lava Jato negou ter aceitado o cargo de ministro tendo como condição uma indicação para uma vaga de ministro do STF (Supremo Tribunal Federal). A ideia, segundo Moro, era buscar um nível de formulação de políticas públicas, de aprofundar o combate à corrupção e levar maior efetividade em relação à criminalidade violenta e ao crime organizado. Moro diz que somente colocou uma condição a Bolsonaro para que assumisse o cargo. "Se algo me acontecesse, uma pensão para a família." No cargo, Moro cuidava também da segurança pública. "Me via, estando no governo, como um garantidor da lei e da imparcialidade e autonomia destas instituições", afirmou o ministro, em seu pronunciamento.

A saída em meio à pandemia do coronavírus, com centenas de mortes no país, foi lamentada por Moro que enalteceu sua carreira como juiz federal com atuação na Operação Lava-Jato de Curitiba.

Com o pedido de demissão de Moro do governo, o chefe da Secretaria-Geral, Jorge Oliveira, passou a ser um dos mais cotados para substituí-lo. Num cenário ainda incerto, um dos desenhos no Palácio do Planalto é de que haja a cisão de Justiça e Segurança Pública, desejo antigo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Se isso se confirmar, a probabilidade maior é que Jorge assuma Segurança Pública por ser policial militar da reserva do Distrito Federal. Há, contudo, uma possibilidade e que ele vá para Justiça, mas considerada menor.

Já para a Justiça, o nome mais forte é o do secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, Anderson França, que tem se aproximado de Bolsonaro. Lateralmente, há uma possibilidade de o ex-deputado Alberto Fraga (DEM-DF) ser escolhido. Fraga, que é amigo pessoal do presidente, poderia ainda ser indicado para a Secretaria-Geral, no lugar de Jorge. Com isso, o governo ganha um político no Planalto para auxiliar na articulação com o Congresso. Hoje, há apenas militares nas quatro pastas que ficam no prédio da Presidência. Essas mudanças foram tratadas pelo presidente com o governo do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), que esteve no Planalto na última quarta-feira (22).
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