Diario de Pernambuco
Busca

UNIÃO

Planalto e Congresso se unem para tentar estender MPs de Bolsonaro

Por: FolhaNews

Publicado em: 25/03/2020 12:23

 (Foto: Arquivo/Agência Brasil)
Foto: Arquivo/Agência Brasil
Para evitar que MPs (medidas provisórias) caduquem em meio à crise do coronavírus, Planalto e Congresso se juntaram para prorrogar o prazo de validade dos textos, em ação coordenada que conta com o respaldo, ainda que não oficializado, do STF (Supremo Tribunal Federal).
 
Na noite de segunda-feira (23), o governo pediu à corte a suspensão do prazo de validade das MPs editadas pelo presidente Jair Bolsonaro. Integrantes do Executivo afirmam que a medida foi elaborada em consonância com a cúpula do Congresso.
O anúncio foi feito quase uma semana depois de o próprio presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), sugerir que esse deveria ser o caminho adotado pelo governo para evitar que os textos perdessem o efeito.
Uma MP tem força de lei e validade de 60 dias, prorrogável por igual período. Precisa ser validada pelo Congresso –caso contrário, caduca. Há suspensão dos prazos durante o recesso do Legislativo.
 
O pedido inicial do governo é para que a contagem do prazo seja suspensa inicialmente por 30 dias, conforme ocorre no recesso parlamentar.
Além do governo, o PP, um dos partidos do chamado centrão da Câmara, acionou o STF para pedir a suspensão dos prazos. Na justificativa, a legenda diz que as MPs que estão hoje "condenadas à morte" por causa da proximidade do fim de prazo são assuntos que interessam à sociedade.
 
A ação coordenada atinge vários objetivos ao mesmo tempo. Ao público, passa a imagem de que os Três Poderes, que passaram por forte tensão nas últimas semanas em meio a declarações de Bolsonaro, estão unidos no enfrentamento da pandemia. Mas a suspensão também atende a interesses de cada um deles.
Como o Congresso está focado em debater e votar propostas voltadas ao combate à crise do coronavírus, o governo ganha tempo para que a situação se normalize e os parlamentares possam apreciar matérias que o Executivo considera importantes para resolver a situação fiscal do país.
 
Duas dessas MPs caducariam nas próximas semanas: o fim da exclusividade da Casa da Moeda para fabricação de papel-moeda e passaporte, que expira em 14 de abril e abre caminho para privatizar a estatal; e a do emprego Verde e Amarelo, que reduz encargos para empregadores e perde validade em 20 de abril.
Para o Congresso também é interessante suspender o prazo. Se as MPs perdessem a validade, isso poderia ser usado pelo governo em uma narrativa de que o Legislativo engessa o Executivo e impede Bolsonaro de adotar as medidas que julga necessárias. Apoiar a suspensão ajudaria a evitar confrontos com o Executivo.
 
Em paralelo, o Congresso estuda maneira de acelerar o rito das medidas provisórias, afirmou o presidente da Câmara em entrevista à Globonews nesta terça-feira.
Ao citar o texto que muda as regras de atendimento à Lei de Acesso à Informação durante a crise do coronavírus, Maia defendeu a adoção de um rito sumário para MPs, em que as medidas não precisassem passar por comissão mista e fossem direto para o plenário de Câmara e Senado.
 
"É exatamente essa preocupação. [Em] algumas matérias talvez o governo vá além do necessário e a gente precisa, nesse caso, num momento de crise, que a tramitação das MPs seja mais rápida para que a gente coloque logo no plenário e ajuste aquilo que tem de excesso nessa ou em qualquer coisa medida provisória."
A adoção do rito sumário, no entanto, não é consenso. A mudança só poderia ser feita por meio de uma mudança na Constituição, o que pode demorar mais que a própria pandemia. Mas o tempo não é o único fator apontado por quem se opõe à medida.
 
A presidente da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) do Senado, Simone Tebet (MDB-MS), defende que as medidas passem por comissão mista. Segundo ela, é nesse colegiado que os parlamentares retiram trechos estranhos aos textos enviados e que distorções são corrigidas.
Ela apoia a suspensão temporária de prazo por 30 dias e uma flexibilização na quarentena para que parlamentares que não se enquadrem em grupo de risco possam ir ao Congresso votar.
 
Embora ainda não tenha sido apreciada no STF, a suspensão do prazo recebeu sinalização positiva do ministro Dias Toffoli, presidente do STF, em conversa com empresários ligados à Fiesp (federação paulista das indústrias) nesta terça.
Segundo Toffoli, falar em "recesso parlamentar parece que a gente está fechando o Congresso", mas não é disso que se trata. "O pedido que eles apresentam é de considerar os próximos 30 dias para efeito de validade de medida provisória como se fosse um recesso, porque quando há recesso o prazo da MP não conta. Então, é estender o prazo."
Toffoli disse que a pauta deve ser levada ao plenário de maneira célere. O pedido da AGU está nas mãos do ministro Alexandre de Moraes.
 
O presidente do STF sinalizou que outros acordos entre os Poderes estão sendo costurados na crise. Nesta semana, Maia recebeu minuta de proposta de ritos para acelerar a análise de pedidos e ações judiciais relacionados à pandemia. Segundo Toffoli, decisões "desarrazoadas" que suspendam a produção essencial ou o transporte da produção do país devem ser analisadas de forma rápida. 
Os comentários abaixo não representam a opinião do jornal Diario de Pernambuco; a responsabilidade é do autor da mensagem.
MAIS NOTÍCIAS DO CANAL