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RONALDO FILHO

Indicado de Bolsonaro para ONU diz que crítica internacional a queimadas tem viés econômico

Por: FolhaPress

Publicado em: 12/09/2019 14:00

Foto: Agência Senado
O diplomata Ronaldo Costa Filho, indicado pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL) para comandar a missão do Brasil na ONU, disse nesta quinta-feira (12) que as críticas de países europeus às queimadas na Amazônia foram motivadas por interesses econômicos.

Em sabatina na CRE (Comissão de Relações Exteriores) do Senado, Costa Filho afirmou que queimadas não estão fora do padrão, acontecem também na África e na Sibéria, e que, por sua experiência como negociador-chefe do acordo entre Mercosul e União Europeia, as manifestações de países como a França são por causa da concorrência econômica com o Brasil.

"Ao longo desses anos todos, não foi uma vez, não foram duas, foram inúmeras vezes que, em qualquer sinal de progresso da negociação, de que a coisa parecia que ia avançar, surgia uma crise ou uma denúncia de desmatamento da Amazônia, de que a soja, de que o gado, está derrubando a floresta amazônica por agricultores inescrupulosos no Brasil", afirmou o diplomata.

"Isso é uma reação natural, ninguém gosta de concorrência. A agricultura europeia teme com grande vigor o potencial da agricultura brasileira. Este é um dado. O temor é grande", insistiu Costa Filho.

O diplomata disse que as denúncias na área ambiental por parte dos europeus sempre existiram, mas que agora, por ter se transformado numa discussão entre dos presidentes -o do Brasil, Jair Bolsonaro, e o da França, Emmanuel Macron- , o debate tomou outra proporção.

"A qualquer momento, esta denúncia ia surgir. Foram N vezes. Nós sempre reagimos ignorando. Desta vez, a coisa foi um pouco mais intensa porque surgiu em nível de chefe de Estado, e aí não é algo que se possa varrer para debaixo do tapete", afirmou.

Costa Filho disse que o papel da diplomacia agora é contribuir para serenar os ânimos.

"Não entendo que seja uma crise intransponível na relação do Brasil com outros países. Temos que, e as Nações Unidas são foro para isso, levar a informação, levar os documentos, comprovação de que é um fato, estimular a cooperação para ajudar, como está sendo feito agora."

Sobre a oferta de ajuda financeira internacional para coibir as queimadas, o diplomata afirmou que já existem fundos nas Nações Unidas para este fim e que "não há necessidade de grandes novidades".

"Pode ser politicamente útil, criar-se algo novo dá mais manchete do que contribuir para um fundo já existente", afirmou.

Ronaldo Costa Filho foi aprovado em votação secreta pelos integrantes da CRE, mas seu nome ainda precisa passar pelo plenário do Senado. Ele não é considerado claramente vinculado a Bolsonaro, e sua chegada não deve causar mal-estar entre diplomatas que representam o Brasil na ONU.

A Folha mostrou no sábado (7) que o governo Jair Bolsonaro queria tirar o diplomata Mauro Vieira do comando da missão do Brasil na ONU antes da viagem do presidente para a abertura da Assembleia-Geral do órgão.

Vieira foi ministro das Relações Exteriores no segundo mandato de Dilma Rousseff (PT), e sua presença durante a passagem de Bolsonaro por Nova York -prevista para 22 a 25 de setembro- é considerada incômoda por integrantes do Planalto.

O chefe da missão em Nova York trata de assuntos ligados principalmente a paz, segurança, desenvolvimento sustentável e direitos humanos.

Para a abertura da Assembleia-Geral, a expectativa é que Bolsonaro faça um discurso que se descole desses temas e reforce a marca ideológica de seu governo. O presidente deve usar parte da fala para ecoar a ideia de que a Amazônia é um território brasileiro e que nenhuma intervenção será tolerada.

  No início do ano, o Itamaraty já havia decidido transferir o diplomata para a embaixada na Croácia, mas a indicação não fora oficializada. Com a proximidade da viagem, o governo acelerou o processo e o relatório favorável à transferência já foi lido na CRE. A sabatina de Mauro Vieira está prevista para a próxima semana.

Bolsonaro faz o discurso de abertura da Assembleia-Geral da ONU no dia 24 -é tradição que o presidente do Brasil o faça–, e o Planalto não queria o ex-chanceler do governo petista ao lado da comitiva na agenda oficial.
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