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Deltan Dallagnol se recusou a receber prêmio ao lado de Bolsonaro
Publicado: 14/08/2019 às 08:04

Divulgação/CNMP/
O procurador Deltan Dallagnol rejeitou receber um prêmio ao lado do atual presidente Jair Bolsonaro (PSL) e de "outros radicais de direita". A informação foi obtida através da análise de mensagens enviadas pelo procurador através do aplicativo Telegram, o material foi analisado pelo The Intercept Brasil em parceria com o UOL. De acordo com uma nota enviada à reportagem, Deltan estava evitando se vincular a bandeiras político-ideológicas.
O prêmio foi o Liberdade 2016, concedido no Fórum Liberdade e Democracia, organizado pelo Instituto de Formação de Líderes de São Paulo, em 22 de outubro de 2016 no Transamérica Expo Center.
No dia 5 de outubro o procurador publicou no grupo Filhos do Januário 1 que receberia o prêmio representando a Força Tarefa "Vou receber porque me parece positivo para a LJ, mas vou pedir para ressaltarem de algum modo, preferencialmente oifical, que entregam a mim como símbolo do trabalho da equipe".
Porém, dias antes do evento, Deltan foi aconselhado por um assessor da força-tarefa a não participar da premiação, para que a imagem da Lava Jato não fosse associada à do então deputado federal, Jair Bolsonaro, que estaria presente no evento participando de uma mesa.
"Vc vai mesmo no evento deles neste sábado? com Bolsonaro como palestrante? por favor, repense... por favorzinho... tudo o que vc e a FT não precisam é serem "associados" ao Bolsonaro. é a mesma coisa que receber prêmio do Foro de BSB. estou quase implorando..." enviou o assessor.
Após a conversa, Deltan mudou de opinião e comunicou aos colegas que desistiu de comparecer ao evento, por contar "com Jair Bolsonaro como um dos vários palestrantes e com homenagem a um vereador de SP [Fernando Holiday, do DEM-SP] que foi um dos líderes do impeachment".
O promotor Roberto Livianu, presidente do Instituto Não Aceito Corrupção, foi escolhido para receber o prêmio no lugar de Deltan.
Semanas depois, Dallagnol solicitou que outro assessor do MPF elaborasse uma relação dos prêmios recebidos pela força-tarefa, com detalhes da premiação, mas sem dar tanto destaque para outros, como o do Instituto de Formação de Líderes de São Paulo.
A força-tarefa recebeu outros dois troféus nos dias seguintes,o da Conferência Internacional Anticorrupção, no Panamá, e o Innovare, em Brasília. No dia 7 de dezembro de 2016, o procurador Roberson Pozzobon informou aos colegas que recebeu o prêmio que foi entregue a Roberto Livianu. Deltan então comentou: "Esse é aquele em que ele nos representou quando cancelei a ida para SP porque é um instituto liberal e estariam lá Bolsonaro e outros radicais de direita ... guiness !! Kkkk kkkk".
Ressalvas
O episódio não foi o único em que os procuradores da força-tarefa se mostraram contrários ao presidente Jair Bolsonaro. Em abril de 2017, Deltan enviou um vídeo ao grupo de procuradores questionando se poderia compartilhar, já que alguns políticos apareciam nas filmagens. A procuradora Laura Tessler recomendou que não. Já o procurador Orlando Martello respondeu que o conteúdo tinha a ver com a bandeira da operação, tratando do combate à corrupção. "É bom que os políticos vejam q todos q apoiarem esta causa terão propaganda positiva nossa (...) O importante é a mensagem.", comentou Martello.
O procurador Paulo Galvão questionou então quais políticos apareciam no vídeo. "Quaissão os políticos? Não vai replicar vídeo do bolsonaro pelamor", escreveu. Martello respondeu que estavam nas filmagens o senador Romário (PSB-RJ) e os deputados federais Jean Wyllys (PSOL-RJ) e Tiririca (PL-SP). O vídeo acabou não sendo compartilhado por Deltan.
No último sábado (10), uma postagem feita por uma página de eleitores do presidente Jair Bolsonaro chamou o procurador Deltan Dallagnol de "esquerdista tipo PSOL". A postagem foi compartilhada pelo perfil de Bolsonaro no Facebook.
Premiação
O promotor Roberto Livianu afirmou ao UOL que a premiação aconteceu rapidamente e a presença de Bolsonaro na plateia não foi notada por ele.
Nota
A Lava Jato disse ao UOL que evita a "participação direta de seus membros em eventos que possam gerar, ainda que indevidamente, a vinculação do trabalho técnico feito na Lava Jato a bandeiras ideológicas e político-partidárias".
"No caso do evento indicado, a força-tarefa se fez representar por um promotor de justiça de São Paulo, que ali reside e compareceu com o restrito objetivo de receber o prêmio em nome da força-tarefa", afirmou o texto.
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