tensão
Declaração de improviso de Bolsonaro acirra os ânimos na PF
Por: Correio Braziliense
Publicado em: 16/08/2019 07:44
A surpresa foi geral. Primeiro, porque a troca de comando estava programada para os próximos dias, a partir de um acerto entre Valeixo e Moro. A substituição de Ricardo Saadi, atual chefe, por Carlos Henrique Oliveira, lotado em Pernambuco, era um pedido dos dois delegados. Enquanto Saadi pretendia atuar em Brasília, Oliveira queria a transferência para a superintendência fluminense. Depois, e daí o constrangimento, não há registro de um presidente se envolvendo diretamente na substituição de policiais, algo de atribuição exclusiva do diretor-geral da PF, ainda por cima criticando a “produtividade” de um delegado e expondo a categoria em público.
Ao longo do dia, várias notas foram distribuídas à imprensa na tentativa de explicar o episódio. A própria assessoria da PF, ligada ao Ministério da Justiça, citou que Saadi havia manifestado o desejo de se transferir para Brasília. “Não guardando qualquer relação com o desempenho do atual ocupante do cargo. A substituição de superintendentes regionais é normal em um cenário de novo governo. De janeiro para cá, a PF já promoveu a troca de 11 superintendentes.” O Sindicato dos Delegados de Polícia Federal no Estado de São Paulo (SINDPF-SP) manifestou “repúdio” às declarações de Bolsonaro. “A escolha de superintendentes compete ao diretor-geral da Polícia Federal, e a fala do presidente, mais que desrespeitosa, atenta contra a autonomia da Polícia Federal.”
Ao Correio, o presidente da Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal, Edvandir Paiva, disse que a instituição é de Estado. “Não é usual que o presidente da República se envolva em tais questões, afinal, a Polícia Federal é uma instituição de Estado, não de governo. Isso não faz sentido, é uma atribuição do diretor-geral, esse, sim, indicado pelo presidente”, afirmou Paiva. Na corporação, a declaração de Bolsonaro é mais um episódio para desconforto e irritação. “Primeiro, foi a história da investigação envolvendo Adélio (Bispo), depois a reforma da Previdência”, afirmou um investigador do Rio de Janeiro.
Ele se refere à pressão que o presidente exerceu sobre a PF para que chegasse a uma conclusão diferente da que apareceu nos dois inquéritos abertos sobre a facada. Enquanto os policiais mostraram que Adélio agiu sozinho, Bolsonaro se mostrou insatisfeito com o resultado, que, segundo ele, deveria apontar uma ação orquestrada por terceiros. O outro fato é que a categoria, mesmo com o presidente fazendo acenos de última hora, se irritou com a reforma da Previdência aprovada na Câmara, que, segundo a corporação, prejudicou os integrantes da PF, ao contrário dos militares, que tiveram projeto próprio.
MAIS NOTÍCIAS DO CANAL
MAIS LIDAS
ÚLTIMAS