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Suspeita de lavagem, cervejaria é alvo da Lava Jato

Publicado: 31/07/2019 às 23:09

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil/Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil/Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

A Polícia Federal prendeu nesta quarta-feira (31) seis pessoas investigadas na 62ª fase da Operação Lava Jato, que teve como alvo principal o Grupo Petrópolis, empresa fabricante de bebidas.

O empresário Walter Faria, controlador do grupo, é considerado foragido.

A Lava Jato investiga o envolvimento de executivos na lavagem de R$ 329 milhões de 2006 a 2014, no interesse da Odebrecht. O dinheiro seria proveniente de contratos com a Petrobras.

Segundo o Ministério Público Federal do Paraná, Faria tentou repatriar para o Brasil quase R$ 1,4 bilhão que guardava em contas em ao menos oito países pelo mundo, somente em 2017. O valor, que despertou suspeitas de ilicitude, representa 1% de toda a quantia repatriada pelo Brasil naquele ano, de acordo com a Procuradoria.

Há indícios de que a tentativa de regularização foi irregular e teria origem em um esquema de sonegação com a burla de medidores de produção de cerveja.

O produto seria vendido diretamente a pequenos comerciantes, em espécie, mas os valores eram entregues a operadores ligados a empreiteira Odebrecht, que utilizava a Petrópolis para lavar dinheiro.

Segundo o procurador da Lava Jato Roberson Pozzobon, quebra de sigilo de emails dos investigados apontam movimentações recentes na tentativa de transferir parte do dinheiro de um país para outro, o que motivou as ordens de prisão. "Existe e ainda está em curso tentativa de dissimulação do patrimônio auferido em práticas criminosas", afirmou.

Na residência de um advogado, que atuava como contador do grupo, foram encontrados R$ 250 mil em espécie, segundo o delegado da PF, Thiago Giavarotti.

De acordo com a Procuradoria, os executivos da empresa eram grandes operadores de propina, pois lavavam dinheiro em contas no exterior.

Uma das formas de lavagem ocorria por meio de doações eleitorais, de acordo com as investigações. Os pagamentos somariam R$ 121,5 milhões de 2008 a 2014, em operações conhecidas como caixa três, em que se ocultam os verdadeiros doadores.

"Como o grupo Odebrecht não queria aparecer, se valia de empresas satélite, algumas delas ligadas ao grupo investigado nesta fase [Petrópolis]. Esses valores eram entregues a empresas que faziam doações que são consideradas legítimas, mas oriundas de caixa três", disse o delegado Giavarotti.

Faria, de acordo com os investigadores, usou uma conta na Suíça para intermediar o repasse de mais de US$ 3 milhões de propina relacionada aos contratos envolvendo dois navios-sonda da Petrobras. Essa quantia teria beneficiado políticos do MDB.

Essa fase da operação tem como foco apurar como foi feita a lavagem do dinheiro para que a quantia chegasse às legendas.

O procurador Pozzobon ressaltou que a competência da investigação, que estava com o Ministério Público Eleitoral de São Paulo, foi transferida para Curitiba, já que o caso está relacionado ao esquema de propinas da Petrobras. Além disso, não envolve caixa dois - que seria de competência da Justiça Eleitoral -, e sim doações lícitas de dinheiro para partidos, mas com dinheiro obtido ilicitamente.

"A gente está falando aqui de ilícitos de corrupção e lavagem de dinheiro conectados com o macroesquema de corrupção na Petrobras. O dinheiro foi empregado em diversas finalidades, inclusive pagamento de propina", disse.

Ainda segundo a investigação, três offshores foram utilizadas para a lavagem do dinheiro da Odebrecht, somando quase US$ 107 milhões de março de 2007 a outubro de 2014. Paralelamente, o Grupo Petrópolis teria disponibilizado pelo menos R$ 208 milhões em espécie à Odebrecht no Brasil, entre junho de 2007 a fevereiro de 2011.

De acordo com a Procuradoria, em troca da lavagem de dinheiro e da transferência de propina para agentes públicos, Walter Faria recebia dólares no exterior e investimentos em suas empresas.

Para justificar as trocas, a Odebrecht realizava operações subfaturadas com a Petrópolis, como a ampliação de fábricas e venda e aluguel de equipamentos.

A 62ª fase da Lava Jato foi batizada de Rock City ("cidade de pedra", em inglês), que remete ao nome do grupo investigado.

Em nota, o Grupo Petrópolis afirmou que os executivos da empresa já prestaram anteriormente esclarecimentos sobre o assunto aos órgãos competentes. "Sempre esteve e continua à disposição das autoridades para o esclarecimento dos fatos", diz o texto.
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