Câmara

Deputado recorrerá a órgão internacional por "comemoração" do golpe de 64

Publicado em: 26/03/2019 19:46

Deputado Alexandre Padilha, do PT de São Paulo
(foto: Elza Fiuza/Agência Brasil
A decisão do presidente de "comemorar" o golpe de 1964 tem sido um dos assuntos mais comentados na Câmara, nesta terça-feira (26/3). O deputado Alexandre Padilha (PT-SP) anunciou que recorrerá à Corte Interamericana de Direitos Humanos para questionar o pedido do presidente Jair Bolsonaro para que o Ministério da Defesa comemore a data. 

O órgão internacional é "claro em questionar os Estados que promovem e difundem a ditadura", explicou o parlamentar, em discurso no plenário. Padilha disse que já apresentou um requerimento de informações à Presidência da República para que detalhe as sugestões e orientações dadas pelo presidente ao Ministério da Defesa quanto à comemoração da data. O objetivo é "saber que sugestões foram dadas, qual ordem, qual órgão, quais os custos envolvidos nessa comemoração".

"Não só o Brasil, mas o mundo quer saber quais são essas orientações do presidente da República anunciadas pelo seu porta-voz para comemorações do dia do golpe militar no Brasil e da ditadura militar no Brasil", afirmou Padilha.  Para finalizar o discurso, feito no plenário da Câmara, o deputado disse que "quem defende ditadura não tem moral para criticar Maduro e a Venezuela".

Debates
Ao longo da sessão, outros deputados condenaram a ideia do presidente e mencionaram os abusos da época da ditadura militar. Mas alguns aliados do governo defenderam a comemoração da data e até negaram que existiu ditadura. 

A maioria dos defensores faz parte do partido de Bolsonaro, o PSL. A deputada Bia Kicis (PSL-DF) afirmou que os militares "nos salvaram" de "nos transformar em um país comunista, de pessoas tristes". "Quero celebrar o 31 de março", declarou.

O Coronel Christóstomo (PSL-RO) fez um dos discursos mais inflamados em defesa da ditadura, que considera ter sido apenas um "governo militar". Ele considera o período "uma guinada para que o Brasil hoje tivesse uma democracia". "Não vivi esse tempo, mas meu pai viveu. O que queriam naquele período, até 1964, era transformar este país com paredão: mandando matar, mandando fazer qualquer coisa que não fosse democracia", disse o deputado.

"Nós vamos ter que disponibilizar aqui vários livros que definem o que é comunismo, o que é democracia e o que é ditadura, porque há pessoas que não sabem o que é ditadura. Foi o governo militar. Não foi ditadura", continuou Chrisóstomo.

Carlos Jordy, (PSL-RJ), do mesmo partido, também parabenizou o presidente pela decisão de "retomar as comemorações" do que chamou de "contrarrevolução de 31 de Março de 1964". Para defender o regime, ele usou o discurso de que era "um momento em que o Brasil passava pela ameaça comunista, em que se tentou implantar, neste país, a ditadura do proletariado financiada pela União Soviética e treinada em Cuba". 

Jordy disse ainda que, naquele momento, a população foi às ruas pedir que o presidente João Goulart fosse retirado da Presidência. "Hoje, nós não somos um Cubão", concluiu.

Repúdio
Dizer que o golpe de 64 deve ser comemorado, na visão do deputado Marcelo Freixo (PSol-RJ), "é uma vergonha" e "um atentado contra diversas pessoas que foram torturadas, desaparecidas". Ele também apontou a incoerência dos deputados que defendem o regime ditatorial, ao lembrar durante a ditadura o Congresso foi fechado.

Pompeo de Mattos (PDT-RS) também protestou contra a decisão de Bolsonaro "de comemorar como um grande feito o golpe de 64, que tirou o presidente Jango, um trabalhista do poder". Para o pedetista, a ditadura foi "a coisa mais grave que aconteceu no país na sua história". "Dezenas, centenas de pessoas foram mortas, outras, foram banidas, foram para o estrangeiro, exiladas. Na minha casa, bateram militares, dezenas deles, para prender meu pai, um humilde agricultor", contou.

"Como concordar com isso, se assisti a meu pai ser preso? Fui à cadeia levar comida para ele, e quem o prendeu nunca disse por que o prendeu e ele morreu sem saber por que foi preso", relatou Pompeo de Mattos. O deputado Daniel Coelho (PE), líder do Cidadania (ex-PPS) na Câmara também defendeu a democracia e se colocou contra os discursos a favor da ditadura.

No mesmo sentido, a deputada Maria do Rosário (PT-RS) classificou a possível comemoração como "um escárnio ao povo brasileiro". "Se tratou de uma ditadura vil, afrontou as instituições democráticas e a memória e afrontou esta Casa, inclusive, sendo responsável pelo assassinato de Rubens Paiva, pela cassação de parlamentares, pelo fechamento do Congresso Nacional", reforçou.

Entenda
Na última segunda-feira (25/3), o porta-voz da Presidência da República, Otávio Rêgo Barros, disse que Bolsonaro pediu para que o Ministério da Defesa faça as "comemorações devidas" pelos 55 anos do golpe militar, que deu início a uma ditadura no país. Na semana anterior, Rêgo Barros havia dito que a data não seria comemorada.

Em Washington, o ministro da Defesa, general Fernando Azevedo e Silva, disse que a data é histórica e precisa ser explicada para os mais jovens, como forma de "relembrar e marcar uma data histórica que o Brasil passou, com participação decisiva das Forças Armadas, como sempre foi feito". Para ele, "os mais jovens precisam saber o que aconteceu naquela data". 
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