Mesa Diretora

'Não se faz Justiça ou lei na calada da noite', diz JHC, candidato do PSB à Presidência da Câmara

Nome escolhido para disputar a Presidência da Câmara pelo PSB, JHC também se disse que não direcionará votações na Casa, como tem ocorrido

Publicado em: 31/01/2019 06:00

Foto: Câmara dos Deputados/divulgação
Escolhido como candidato do PSB para disputar a Presidência da Câmara dos Deputados, João Henrique Caldas, chamado nas urnas como JHC, comprometeu-se, ontem, em entrevista exclusiva ao Diario de Pernambuco, a abrir mão de privilégios se for eleito presidente da Casa e desconcentrar o poder político do próprio cargo. Alagoano, o parlamentar recebeu o apoio dos cinco deputados federais de Pernambuco para concorrer à eleição mais visada do país em fevereiro – o cargo é o terceiro na linha sucessória presidencial, e, ultimamente, tem ajudado a fortalecer ou enfraquecer presidentes da República – entre eles Dilma Rousseff (PT) e o antecessor de Jair Bolsonaro (PSL), Michel Temer (MDB). 

O deputado socialista espera ter uma atuação imparcial no exercício da função. “Incomoda-me, sobremaneira, que o presidente, que é um entre os 513 parlamentares, palpite sobre o resultado de mérito das votações”, disse. Sem citar nomes, ele se referiu, por exemplo, a lideranças políticas que, além de colocar na ordem do dia votações polêmicas da Casa, posiciona-se contra ou a favor e ainda direciona os aliados.  

JHC recebeu o apoio de toda a bancada federal do PSB, formada por 32 deputados (contando com ele). Entre os nomes quem o defendem, estão o líder da legenda socialista, Tadeu Alencar, e os pernambucanos Danilo Cabral, João Campos, Felipe Carreras e Gonzaga Patriota. “Na presidência, renunciarei a privilégios como jato da FAB e transformarei a residência oficial em um espaço institucional para as bancadas partidárias e temáticas”, destacou, prometendo melhorar a transparência do Poder se vencer a disputa. JHC, quando deputado estadual de Alagoas, devolveu R$ 2,5 milhões aos cofres públicos nos quatro anos de mandato. Como federal, o parlamentar doou o auxílio-mudança de R$ 25.304,33 para Universidade Estadual de Alagoas. 

O Diario antecipou a preferência da bancada socialista por JHC, na semana passada, e o deputado deu entrevista à reportagem um dia depois de ser escolhido como candidato do PSB à presidência da Casa. Ontem à noite, ele participou de outra reunião onde os socialistas se reuniram para decidir com qual bloco fecharão. Até o fechamento dessa edição, o bloco não tinha sido definido.  

Veja a entrevista abaixo.

Deputado JHC, o que o senhor acha da gestão de Rodrigo Maia? O que precisa ser mudado caso o senhor vença a disputa pela mesa diretora?

Acredito que o PSB enxergou em nosso projeto uma forma de o Legislativo retomar sua credibilidade. O atual comando deu sua contribuição. Um terceiro mandato não dialoga com a atual quadra histórica que demanda renovação. Se os demais parlamentares me considerarem apto, promoverei uma desconcentração do poder que hoje a presidência tem, inclusive de forma anti-regimental. Incomoda-me sobremaneira que o presidente, que é um entre os 513 parlamentares, palpite sobre o resultado de mérito das votações. Esse tipo de concentração de poder dá à presidência uma dimensão maior até mesmo do que a própria Câmara. Faremos um “freio de arrumação”. Como tenho dito: “menos presidência, mais Câmara”.
Na presidência, também renunciarei a privilégios como jato da FAB e transformarei a residência oficial em um espaço institucional para as bancadas partidárias e temáticas. Serei um parlamentar como outro qualquer, apenas com a responsabilidade adicional de garantir eficiência, transparência e pluralidade à Câmara. 

Muitos deputados falam que Rodrigo Maia é um hábil articulador político, tem cumprido acordos com a oposição. Tanto que o PDT e o PCdoB vão apoiá-lo. O senhor conseguirá conquistar votos dissidentes desses partidos?

Mais do que quantitativa, houve uma manifestação qualitativa grande para a próxima Legislatura. São parlamentares que se elegeram de forma independente, que naturalmente renegam acordos de cúpula, feitos de forma verticalizada e sem transparência. Acredito que o voto livre fará a diferença nesta eleição. 

Sua candidatura é apenas para marcar posição? Os maiores partidos já estão com Maia. O senhor tem chances de vitória?

Há quem seja apaixonado pela vitória, há quem goste da luta. Eu prefiro me colocar no segundo grupo. Diante da resposta que temos tido dos colegas em relação às nossas ideias, acredito que vamos surpreender. 

Podemos dizer que o senhor é um nome que representa o Nordeste? 

Apesar de ser nordestino e um social-democrata, acredito que o presidente da Câmara deva ter uma postura de magistrado e imparcialidade. O Legislativo não pode se submeter e ser puxadinho de outros Poderes, e muito menos servir como instrumento de achaque. Não é por acaso que nosso prédio está no centro da Praça dos Três Poderes: é dever constitucional do legislativo ser o ponto de equilíbrio institucional do país. 

O cargo de presidente é o terceiro na linha sucessória do país e normalmente fica com um deputado governista. O que o faz crer que pode vencer essa disputa?

Acredito que minha biografia dialoga com o momento político do país e minha experiência me qualifica para a disputa. Fui o deputado federal mais votado proporcionalmente do país, presidi mais de 100 sessões, sempre com equilíbrio e grande respeito pelo Regimento e colegas. Esse sentimento é compartilhado por muitos parlamentares - sejam os novos, sejam os reeleitos. 

Qual o tipo de pauta que precisa ser priorizada pela Câmara dos Deputados em 2019, em meio a temas polêmicos, debate de valores (de como uma pessoa deve viver, etc)? 

As reformas, que na última legislatura não tinham legitimidade porque não foram discutidas durante as eleições, devem ser enfrentadas - em especial a Previdenciária. O parlamento precisa ter coragem para encarar temas polêmicos mas que merecem atenção. Fomos eleitos para isso. Além disso, é preciso ter transparência em relação ao que é pautado, não se faz Justiça ou lei na calada da noite. 

O que o senhor acha do governo Bolsonaro?
 
É cedo para dizer, especialmente porque o Congresso está em recesso. De forma geral, acredito que tenha uma disposição grande para acertar, e isso é bastante válido. Algumas pautas preocupam, mas foram escolhidas em um processo democrático, e isso não pode ser desprezado. Não há mais espaço para ser “oposição pela oposição”. Temos que ter uma postura crítica e propositiva. Convergir onde puder e divergir de forma propositiva onde se entender necessário. 

Como o senhor se descreveria? Quem é JHC, qual sua principal luta?

Na minha história política, sempre tive uma inquietude em relação à forma como as coisas são feitas nesse ambiente, justamente por isso tenho uma característica de realizar, buscar ser útil. Minha principal luta, se posso resumir, é essa: fazer com que as pessoas enxerguem na política algo limpo e útil. A negação da política jamais produziu sociedades sadia.
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