Soldado não foge ao combate, diz Haddad ao criticar Bolsonaro, no Recife
Na última visita que fez a Pernambuco antes das eleições, Haddad disse que nunca viu uma pessoa que se diz militar, se esconder e fugir
Publicado: 26/10/2018 às 07:00

Pátio do Carmo, no Centro do Recife, foi escolhido para encerramento da campanha de Haddad em Pernambuco. Foto: Leo Malafaia/Especial DP/
Ênfase no discurso da virada e da democracia, críticas contra seu oponente na disputa presidencial do segundo turno, Jair Bolsonaro (PSL). Na última visita que o presidenciável Fernando Haddad fez a Pernambuco, ele dividiu-se entre esses dois polos. Fez discursos de unidade e acolhimento aos recentes aliados no atual momento político e, por outro lado, mexeu num ponto no qual o oponente se orgulha: o de ser militar. Para Haddad, Jair Bolsonaro não respeita nem mesmo os militares, porque, segundo ele, um soldado, não foge ao combate. “Os correligionários dele dizem que ele não deve ir para o debate. Eu nunca vi alguém, que se diz do Exército, dizer que a estratégia é se esconder, é fugir. Ele não honra nem as Forças Armadas a quem ele disse pertencer”, discursou o petista, no Pátio do Carmo, símbolo de antigas campanhas petistas. “Soldado que bate continência para a bandeira norte-americana não pode ser presidente do Brasil”, acrescentou em outro momento.
Haddad escolheu fazer o último ato político na capital, no mesmo local onde Zumbi dos Palmares, considerado um heroi na resistência à escravidão, teve a cabeça exposta, num gesto para intimidar os que tentassem fazer o mesmo. Ele estava ao lado de lideranças que são adversárias no estado, como o governador Paulo Câmara (PSB), o deputado federal Silvio Costa (Avante), derrotado nas eleições, e a deputada federal eleita Marília Arraes (PSB). Também participaram o deputado federal João Campos (PSB), filho de Eduardo Campos, e de Renata Campos, viúva do ex-governador. A candidata derrotada ao governo pelo PSol, Dani Portela, foi ovacionada, chamada de “governadora” pelos militantes petistas.
Toinho Mendes, repentista e apresentador do evento, mediou pequenos confrontos verbais entre militantes adversários com poesias populares, improvisadas. Pediu paz, amor e unidade quando vaias soaram contra o prefeito Geraldo Julio e o governador, ambos do PSB. Os gestos e falas foram reforçados por Haddad, que citou os adversários presentes e abraçou Paulo Câmara, que chegou a ser chamado de “golpista”. Num gesto para aliviar a tensão os palanques divergentes, a mulher de Haddad também mostrou uma camisa vermelha que tinha ganhado de Dora, uma militante do PSB. A vestimenta trazia uma frase estampada: “lute como uma nordestina”. Explodiram palmas neste momento, num evento que, até então, não tinha sido realizado em Pernambuco nessa campanha, um público presente de 70 mil pessoas, segundo os organizadores. Vários artistas Pernambucanos subiram ao palco para declarar apoio a Haddad, foram nominados um a um, e o Maestro Forró arrancou lágrimas de militantes mais velhos, ao tocar, usando um trompete, a música Pra não dizer que não falei das flores, de Geraldo Vandre, torturado pela ditadura. Ele tocava e os presentes cantavam, juntos, “caminhando e cantando e seguindo a canção”. Uma criança também abraçou Haddad longamente.
No pinga fogo, espaço dedicado para artistas, poetas e políticos falarem, o temas mais destacados foram racismo, homofobia e misoginia. Livros usados foram vendidos em frente à Igreja do Carmo por R$ 2 para serem “esquecidos” nesta sexta-feira em algum lugar, com dedicação para alguém. “No próximo domingo, será a eleição mais importante dos últimos 30 anos. Vamos escolher entre a democracia e o autoritarismo, entre a verdade e a mentira, entre o amor e o ódio e você vai ver Haddad que o presidente lula lhe deu a maior missão da sua vida”, disse o governador.
Haddad comemorou, logo ao chegar no palco, os avanços nas pesquisas, disse acreditar na virada. “Vocês sabem que de hoje para sábado as famílias se reúnem para tomar uma decisão importante, sabe que a decisão que tomarem vão refletir durante os próximos quatro anos”, disse ele. “Está fácil virar voto no país inteiro. Entre o livro de um ministro da Educação e a arma de um soldadinho de araque, o Brasil vai ficar com a educação, com o trabalho, com a dignidade, com o respeito às pessoas”.
O presidenciável lembrou que, na última entrevista dada por Bolsonaro, ele disse que negros, gays, mulheres e nordestinos precisavam deixar o discurso de “coitadinhos” para trás. “Na última entrevista que ele deu, o Bolsonaro falou que as mulheres, os negros, os nordestinos deveriam deixar de se fazer de coitados, quero dizer para o Bolsonaro, “seu arregão, coitado é você”, disse, criticando o militar da reserva por fugir do debate.
Ao final do evento, tempo depois de ter usado o chapéu de cangaceiro e se abraçado com a bandeira de Pernambuco, Haddad pediu que o público cantasse parabéns para o ex-presidente Lula, para que pudesse ser mostrado ao cacique petista, que está preso. Lula faz aniversário no sábado e, segundo Haddad, o presente vai ser lhe dado domingo, quando ele se elegerá presidente do país. O petista ainda distribuiu rosas brancas e vermelhas ao público. Um dos militantes disse: “Se estivermos de braços dados, não sobra mãos para armas”.

