Investigação

Após ser indiciado pela Polícia Federal, Temer articula a reação

Presidente reúne ministros, advogado e marqueteiro para estudar resposta jurídica e política ao indiciamento no inquérito dos portos. Próximos passos dependem da decisão da procuradora-geral

Publicado em: 19/10/2018 06:53 | Atualizado em: 19/10/2018 07:12

A cúpula do Planalto pondera sobre a conveniência de o presidente fazer um pronunciamento público
(foto: Evaristo Sá/AFP)

O presidente Michel Temer convocou ontem a primeira reunião com ministros, marqueteiro e defesa para discutir os desdobramentos da apresentação do relatório final do inquérito dos portos. A Polícia Federal (PF) indiciou o emedebista e mais 10 pessoas — incluindo a filha do chefe do Executivo federal, Maristela — por suspeita de terem beneficiado empresas do setor portuário.

A intenção de Temer é monitorar e estudar os próximos passos a serem adotados nas frentes jurídica, política e de imagem. Para isso, convocou os ministros da Justiça, Torquato Jardim, de Minas e Energia, Moreira Franco, e da Secretaria de Governo, Carlos Marun. Também foram chamados o advogado Brian Alves Prado e o marqueteiro Elsinho Mouco. “Foi uma reunião que, naturalmente, ocorreria após a apresentação do relatório”, informou um interlocutor.

No campo da Justiça, uma medida já foi adotada: na quarta-feira, a defesa entrou no Supremo Tribunal Federal (STF) com pedido para anular o indiciamento do presidente. O argumento dos advogados é de que a PF indiciou Temer sem autorização da Suprema Corte. Uma decisão de 2007 entende que o plenário do STF deve definir a legitimidade ou não da instauração do inquérito e do indiciamento realizado pela PF de uma autoridade com foro privilegiado.

A decisão de se manifestar publicamente ou não foi outro assunto discutido com o presidente por Moreira, um dos principais estrategistas do governo e homem de confiança do presidente, e Elsinho. A possibilidade não é descartada, mas pode depender da manifestação da Procuradoria-Geral da República (PGR). “Estamos aguardando o posicionamento. Não tem muito o que fazer antes”, ponderou um interlocutor do emedebista. A procuradora-geral, Raquel Dodge, tem 15 dias para decidir se denuncia o presidente. “Não trabalhamos com a hipótese de uma terceira denúncia”, declarou Marun na quarta-feira.

Responsável pela articulação entre governo e Congresso, ele se reuniu com deputados e senadores, nos últimos dias, e manifestou a Temer que nem o parlamento se mostra à vontade para colocar em pauta uma nova denúncia. “A preocupação, nessa reta final de ano, é com a aprovação de Medidas Provisórias (MPs) e outros projetos”, declarou outro interlocutor do governo.

Caso a PGR opte pela denúncia e ela seja aceita, Temer será afastado do cargo e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), assumirá temporariamente a Presidência da República e convocará eleições indiretas. “Nenhum parlamentar quer esse desgaste faltando menos de dois meses para o fim das atividades legislativas”, declarou o interlocutor.

Repatriação
A PF não indiciou José Yunes, ex-assessor especial e amigo pessoal de Temer, mas ele está sendo investigado pela Receita Federal. O fisco apura a origem de US$ 20 milhões repatriados em dois programas de repatriação. Um pelo próprio emedebista, e outro pela ex-presidente Dilma Rousseff.
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