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Advogada contesta conclusão de delegado sobre suástica em corpo de jovem

Defesa cita trecho de laudo segundo o qual cortes podem ter sido feitos "ante alguma forma de incapacidade ou impedimento da vítima em esboçar reação"

Publicado: 24/10/2018 às 14:34

Foto: Reprodução/

Foto: Reprodução/

A defesa da jovem que disse ter sido atacada e marcada com cortes em forma de suástica, em Porto Alegre (RS), disse discordar das conclusões do delegado responsável pelo caso, Paulo César Caldas Jardim. Nesta quarta-feira (24), Jardim afirmou ao Correio que o laudo pericial permitia concluir que os cortes foram resultado de automutilação ou foram consentidos. A superficialidade dos cortes seria o principal indício, afirmou o policial, que está à frente da 1ª Delegacia de Polícia da capital gaúcha.

A advogada Gabriela Souza, que representa a jovem, porém, afirmou que a perícia tampouco descartou a hipótese de as lesões terem sido causadas por outro indivíduo, inclusive mediante incapacidade de defesa da vítima. "Isso apenas comprova o teor do depoimento da vítima, que não esboçou reação durante o ataque e sofreu estresse pós-traumático, situação que se mantém até o momento", afirmou em nota.
 
Gabriela destacou um trecho do laudo para embasar suas afirmações. "As lesões verificadas apresentam, portanto, características compatíveis com as de lesões autoinflingidas, embora não haja, a partir exclusivamente dos resultados do exame de corpo de delito, elemento de convicção para se afirmar que efetivamente foram autoprovocadas", diz o documento. "Nesse sentido, pode-se afirmar que as lesões foram produzidas: ou pela própria vítima ou por outro indivíduo com o consentimento da vítima ou, pelo menos, ante alguma forma de incapacidade ou impedimento da vítima em esboçar reação", prossegue.

Por fim, Gabriela diz que o laudo não representa o fim das investigações. "A defesa da vítima ainda espera que sejam apresentadas imagens de câmeras de segurança e ouvidos depoimentos de pessoas que prestaram auxílio à jovem atacada. Qualquer conclusão antes de esgotada a avaliação de todos os elementos possíveis é precipitada e pode não representar a realidade dos fatos", argumenta. 

Marcas eram arranhões, diz delegado
 
Ao Correio, o delegado Jardim afirma que os peritos ficaram surpresos com o fato de as marcas não serem cortes, mas apenas "arranhões". "O símbolo não foi feito por um objeto cortante. Pode ter tido usado até bijuterias. Surpreendeu os peritos o fato dos riscos serem regulares e retilíneos. O que não aconteceria com quem está sendo atacada", alega. 

Ainda segundo o delegado, a investigação consultou mais de 12 câmeras do local onde a jovem diz ter sido atacada e que não há nenhum registro do ocorrido nelas. Além disso, mais de 20 pessoas — entre porteiros, comerciantes e síndicos —também foram ouvidos pela polícia. Mas, de acordo com Jardim, ninguém viu nada, apesar de a região ser bem movimentada no horário que teria ocorrido.

Como já havia dito ao Correio, o delegado afirma que a jovem tem problemas psiquiátricos. "Ela tem problemas emocionais e toma muitos remédios", diz. Ele também afirmou que a jovem será denuncia à Justiça por falsa comunicação de crime. 

Relembre o caso
 
A jovem, que não foi identificada para ter sua imagem preservada, afirmou em depoimento que foi atacada por três homens na noite de 8 de outubro, no bairro da Cidade Baixa, na região central de Porto Alegre.  
 
Ela afirmou que voltava do curso pré-vestibular quando, após descer do ônibus, foi seguida pelos homens, que a ofenderam com xingamentos homofóbicos. Eles teriam ainda agredido a menina com socos e, posteriormente, dois deles a seguraram enquanto o terceiro riscava o símbolo nazista em sua barriga com um canivete. 
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