Fôlego

Fim da greve dos caminhoneiros é novo teste para o governo Temer

Palácio do Planalto quer a retomada do diálogo com a Câmara dos Deputados e o Senado

Publicado em: 03/06/2018 11:20

Temer espera que manifestações não ganhem corpo a partir de agora. Foto: Nelson Almeida/AFP
A esperança do governo Michel Temer é que a saída de Pedro Parente do comando da Petrobras dê fôlego ao governo. A queda do executivo da Petrobras abre as portas para mudanças na política de reajuste de preços dos combustíveis. A medida é importante sob a ótica política por dois motivos. Possibilita ao Palácio do Planalto a retomada do diálogo com a Câmara dos Deputados e o Senado. E pode evitar que elevações do custo da gasolina deem motivos para a população ir às ruas manifestar contra o governo.

Há cinco anos, insatisfações com aumentos nos valores de passagens de transporte coletivo levaram brasileiros às ruas, em junho, num processo que deu início à derrocada da ex-presidente Dilma Rousseff. A situação atual começa a despertar preocupação com o descontentamento da população. Os primeiros sinais do desgaste foram dados com a greve dos caminhoneiros, que contou com apoio de pessoas identificadas com a esquerda e a direita.

Após pronunciamento de anúncio de acordo com a categoria, Temer lidou com os primeiros “panelaços” em bairros nobres de diferentes capitais. Manifestantes tomaram as ruas nos primeiros dias da última semana em protestos com pautas diversas, mas todas envolvendo em comum o apelo pela redução dos combustíveis.   A greve dos caminhoneiros expôs a fragilidade do governo em lidar com a situação. Não apenas sob o ponto de vista negocial com a categoria, mas também sob a ótica do diálogo com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Eunício Oliveira (MDB-CE). A sintonia que antes existia entre Planalto e Congresso deu lugar a um distanciamento. Diante das discussões do alto custo do óleo diesel e sobre como reduzi-lo, os presidentes das duas casas do Parlamento criticaram a atual política de reajuste de preços da Petrobras e acenaram com uma trégua apenas para aprovar as medidas de interesse dos transportadores.

Sem Parente na Petrobras, o governo pode, agora, construir uma narrativa que possibilite a retomada do diálogo com o Congresso, avalia o analista político Paulo Calmon, diretor do Instituto de Ciências Políticas da Universidade de Brasília (UnB). Uma eventual ingerência sobre a estatal, no entanto, não assegurará plena governabilidade a Temer. Mas pode evitar uma derrocada melancólica e dar fôlego para a pré-candidatura emedebista de Henrique Meirelles, ex-ministro da Fazenda. “No frigir dos ovos, permitirá que o governo construa um espaço novo de negociação, reforçe acordos, e proponha novas alianças”, analisa.

Interferência
Em pronunciamento na sexta-feira, Temer declarou que não haverá, por parte do governo, “qualquer interferência política de preços” da estatal sob o comando do próximo presidente, Ivan Monteiro. Não foi claro, entretanto, se o modelo atual será mantido. O discurso não convence o economista-chefe da corretora Spinelli, André Perfeito. “Não tenho a menor dúvida que haverá congelamento do custo de combustíveis. A atual gestão está politicamente insustentável e vai colocar a Petrobras para servir o povo”.

Os ganhos políticos que o governo pode acumular com o represamento de preços dos combustíveis, porém, são incertos, adverte Perfeito. Para ele, o congelamento nos combustíveis manterá o dólar subindo e também provocará uma alta da taxa básica de juros (Selic) em outubro. Tal movimento trará efeitos sobre a inflação, obstruirá uma demanda por crédito e freará o consumo das famílias. O efeito prático disso deve, nos cálculos dele, levar o Produto Interno Bruto (PIB) a crescer 1,6%, abaixo da previsão da equipe econômica do governo, de 2,5%. Um crescimento mais baixo, por sua vez, compromete uma geração maior de empregos e renda. “Todo esse cenário deságua em uma desidratação do capital político”, avalia.

Coligação
A lentidão na retomada da economia é uma das variáveis que podem comprometer os bônus políticos com mudanças na política de preços da estatal. Outra é a possibilidade de Temer ser denunciado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) uma terceira vez, situação que não joga a favor do governo e da pré-candidatura de Meirelles, que poderia absorver os impactos negativos da decisão.

Para o especialista em política brasileira Sérgio Praça, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), não seria uma surpresa o cenário turbulento empurrar de vez o MDB a propor uma coligação com o PSDB. “Se encaminha para isso. E o MDB ainda tem muito a oferecer, como tempo de televisão na propaganda eleitoral gratuita, fundo eleitoral, e a estrutura política nos estados”, analisa.

O ministro-chefe da Secretaria de Governo da Presidência da República, Carlos Marun, avalia a situação política e eleitoral de outra forma. Para ele, o cenário atual não aponta nenhum candidato de centro forte o suficiente para indiscutivelmente atrair as outras pré-candidaturas do espectro político. Por esse motivo, ele não vê motivos para o MDB abandonar a campanha de Meirelles. “Não tem candidato com viabilidade no campo do bom senso. O caminho não é esse, de procurar coligação, mas pode ser o de construção de um projeto”, considera.
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