Opinião

Múcio Aguiar: Nas terras d'além mar

Múcio Aguiar é presidente da Associação da Imprensa de Pernambuco, conselheiro da Associação Brasileira de Imprensa, e doutorando em Ph.D pela Universidade de Coimbra

Publicado em: 05/02/2018 07:27

Alguns críticos rodam em debates sobre a premissa de que Portugal descobriu ou não o Brasil e é inquestionável que fatos históricos respondem sobre isso. Independente da descoberta, fixo-me de que falamos português e temos hábitos e costumes portugueses, ponto.

Nos últimos meses, tenho acompanhado o presidente da Associação Portuguesa de Imprensa, João Palmeiro e o jornalista Jorge Castilho em visitas à região central daquele país visando conhecer as experiências dos publishers para superar a crise que ronda os jornais impressos e agora o meio digital. É entusiasmante ver a inovação e a volta às origens – o espírito missionário daqueles que acreditam que a notícia é fundamental para a cidadania, pois apenas pessoas bem informadas e com uma visão crítica de sua realidade têm a capacidade de fazer as melhores escolhas.

Paralelamente às visitas que fiz aos principais grupos de comunicação, o olhar do jornalista me despertou para outro fator, agora somos nós brasileiros que estamos a descobrir a terra de Camões. Seja pelo investimento imobiliário, vinhedos e turistas, é a região das Beiras, no centro de Portugal, que penso ter a maior identidade com o Brasil nordestino. Nessa perspectiva faço lembrar o que me disse o vice-reitor Luís Menezes, da Universidade de Coimbra, fundada em 1290, “somos a maior universidade de brasileiros fora do Brasil, com cerca de quatro mil alunos” e aqui me incluo, sob a orientação da professora arqueóloga Conceição Lopes. E se somos a maior colônia em Coimbra, somos também aqueles que deram o maior esplendor a eles, afinal foi com o ouro de Minas Gerais que foi ornamentada a Biblioteca Joanina, erguida em honra e memória do Rei D. João V. 

Aveiro, onde está o túmulo da princesa Santa Joana, está sediada a universidade de mesmo nome, um polo tecnológico na área de comunicação, como nosso Porto Digital. E assim como o Recife, é a Veneza portuguesa, lá os ovos moles é uma iguaria herdada das tradições dos conventos femininos aveirenses, que ganha forma com a mistura indulgente de ovos e açúcar, feita com os saberes da tradição.

A 120 km de Lisboa, a 15 minutos de Fátima, ainda nas Beiras, está Leiria com 125 mil habitantes e reconhecida pelo dinamismo empresarial e taxa de desemprego mais baixa que a média nacional, o que faz ser sinônimo de qualidade de vida. Com rios, praia, pinhal, lagoas, salinas, abrigos rupestres, arquitetura religiosa e construções medievais, Leiria é uma das mais belas imagens congeladas no tempo. O Castelo de Leiria é um marco monumental da história. Guarda em seu interior imponentes muralhas. Restaurada, a Igreja da Misericórdia teve processo de dessacralização pelo Papa para que no antigo lugar sagrado dos cristãos houvesse espaço para a sacralização do diálogo intercultural entre cristãos, judeus e muçulmanos que construíram a história daquela cidade. 

Muito poderia ser escrito sobre a região do centro de Portugal, sua música ou a espetacular gastronomia com seus doces conventuais, mas isso é uma outra história.
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