Opinião José Otávio Patrício de Carvalho: Discriminação, intolerância, indignação e violência (I) José Otávio Patrício de Carvalho é advogado

Publicado em: 07/12/2017 07:26 Atualizado em:

Falarei de sentimentos e comportamentos que se interligam entre si, ao menos no viés da presente abordagem. Precisarei os pontos de intercessão de cada um dos conceitos, porquanto são eles multifacetários.

A Discriminação não será abordada pela sua concepção etimológica de “distinguir”, “discernir” ou ‘”separar”. Existem, até mesmo, com relação ao comportamento interpessoal, as “discriminações positivas”, como aquelas referentes às “cotas” de proteção aos grupos sociais excluídos. Refiro-me à “Discriminação” que denota um sentimento de “exclusão”, de “rejeição” ao outro.

São exemplos eloquentes e atuais: a “discriminação racial”, fruto do deturpado sentimento de eugenia, quando se selecionam os serem humanos com base em leis genéticas; a “discriminação social”, que significa rejeição dos menos favorecidos, estabelece castas pelo desprezível critério do ter e aprofunda o fosso social; a “discriminação religiosa”, praticada em decorrência de verdadeiras “lavagens cerebrais” impostas por religiões que proclamam a “verdade absoluta”, decorrendo na condenação de quaisquer outros pensamentos filosóficos, inclusive, do direito de não crer no transcendental; a “discriminação intelectual”, quando se cultua como valor maior a instrução formal, desprezando, muitas vezes, o saber (existem sábios que não são cultos e cultos que se encastelam nas academias e não são sábios) ensinado pela vida; a “discriminação ideológica”, dos que edificam suas verdades criando barreiras intransponíveis a tudo que advenha de núcleos de concepções diferentes; a “discriminação de gênero”, com suas facetas de misoginia, homofobia, e de sexo, concebendo como doença ou depravação sentimentos naturais afetivos e efetivos existentes desde a história antiga.

A “Discriminação”, sempre abominável, prolifera em mentalidades menores, distorcidas e que não conseguiram romper barreiras impostas por uma sociedade que estratificou dogmas, segregacionismos e estandardizações de ideias. É, normalmente, um pensamento dissimulado, entranhado nos parâmetros comportamentais do indivíduo e, muitas vezes, negado ou ocultado pelo mesmo.
A Intolerância é aqui referida em seu significado mais restrito como a exteriorização e proclamação da “Discriminação”. Esta deixa de ser um ato dissimulado e ocultado pelo agente para ser um comportamento exteriorizado e ofensivo à comunidade, e não somente à vítima.

A “Intolerância” é, normalmente, praticada em grupo e fomenta a raiva e o ódio, sentimentos que se retroalimentam na interação interpessoal do citado grupo. Utilizam, normalmente, a difusão de ideias intolerantes pelas redes sociais ou internamente em corporações, mediante encontros pessoais.

Do ponto de vista psicológico, esse sentimento coletivo de “Intolerância” age como lavagem cerebral nas pessoas do grupo e é responsável pela separação de familiares e de amigos. Em suma, fazem com que as pessoas percam a capacidade de hierarquizar os valores da vida, invertendo essa pirâmide valorativa e contribuindo para a potencialização da separação social, com todas as suas mazelas.


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