Opinião Teresa Leitão: Respeitem dona Marisa! Teresa Leitão é deputada estadual e presidente da Comissão de Educação e Cultura da Assembleia Legislativa de Pernambuco

Publicado em: 22/05/2017 07:14 Atualizado em:

Neste mês de maio a mulher foi tema de muitos debates. Para os católicos a devoção à Maria ganhou destaque com os 100 anos das aparições de Fátima. Para a tradição familiar (e comercial) o dia das mães, sempre muito comemorado E para a política, depois do depoimento do ex-presidente Lula, multiplicam-se as teses da influência de dona Marisa nas denúncias da famigerada Operação Lava-Jato.

Se os católicos se gratificam com as belas celebrações, à frente o querido papa Francisco e se as mães comemoram o seu dia em meio às delícias da maternidade, o mesmo não acontece com a memória de dona Marisa.
A ela se impuseram as análises políticas mais cruéis e oportunistas, próprias de um momento que tem cultivado o ódio como elemento de disputa.
É preciso cuidado redobrado quando se analisa a participação da mulher na política em uma sociedade machista e patriarcal como a brasileira. Para além dos índices de representação nos cargos eletivos, díspares em relação ao eleitorado feminino, é o conteúdo de algumas análises que assusta, pelo preconceito velado e pelo machismo consentido.

Da menina operária que enrolava doces na fábrica Dulcora, da militante que costurou a primeira bandeira do partido fundado pelo marido, da mãe presente, da esposa companheira, da avó afetuosa são lembranças que unem o público ao privado.

Público e privado são os dois espaços mais contraditórios quando se tenta analisar a participação política da mulher. Cometem-se erros da origem machista de nossa sociedade quando se diz que Lula poderia ter lançado Marisa na política, ou seja, na política a mulher precisa depender do homem.
Em relação a Marisa, não se adaptam os critérios temerosos da “bela, recatada e do lar”, nem tampouco a questionável concepção de primeiro-damismo. Respeito à memória de Marisa pelo que ela foi e pelo lugar que ocupou, é também respeito às mulheres nas suas múltiplas identidades. Acusá-la depois de morta, não é simples infortúnio, é desrespeito preconceituoso.

O desespero em busca de provas não pode prescindir da ética e da humanidade como princípios básicos do convívio social civilizatório.
O jornalista Miguel do Rosário arremata muito bem-este episódio quando diz: “quem trouxe dona Marisa ao depoimento foram o juiz e o MP, Lula usou o nome da mulher em respostas, e ele não disse nada diferente do que havia dito no primeiro depoimento, quando dona Marisa ainda estava viva. A narrativa de que Lula culpou a ex-mulher diante de Moro é cínica e covarde, e usar uma mentira para criar capa de revista e campanha publicitária é moralmente indecente”.


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