Política
Opinião
Alessandra Nilo: Gestos, 24 anos. Celebrando resistências
Alessandra Nilo é jornalista, coordenadora Geral e co-fundadora da Gestos
Publicado: 31/05/2017 às 07:11
A Gestos – Soropositividade, Comunicacão e Gênero, comemorou este mês seus 24 anos, e celebrando a nossa capacidade de resistência, em meio a este turbilhão de tensões pelo qual passa o Brasil. O aniversário nos faz refletir sobre as mudanças nestas últimas duas décadas, mas o cenário hoje é certamente bem mais complexo e permeado de perplexidades.
Em 1993, quando fundamos a Gestos, não havia políticas para Aids ou tratamento, sobravam incertezas e frequentávamos velórios semanalmente, mas nos alimentávamos de esperanças. A ciência avançava, as informações se multiplicavam, desenhávamos agendas de direitos e, pouco a pouco, vimos um Brasil cada vez mais democrático construir o mais elogiado programa de Aids do mundo. As respostas ao HIV exigiam cada vez mais abordagens multidisciplinares e a Gestos, por sua vez, foi ampliando seu escopo de atuação, sendo hoje uma referência nacional e internacional, tanto pelo trabalho que desenvolve no campo da saúde e direitos sexuais e reprodutivos, quanto pela liderança no debate sobre desenvolvimento sustentável.
Em Pernambuco, a cada ano, fazemos a diferença na vida de centenas de pessoas, mas aprendemos a atuar em permanente diálogo com o mundo, o que transformou a Gestos (com apoio de inúmeros parceiros, aos quais agradecemos) em uma das poucas ONGs brasileiras que, solidariamente, constrói pontes entre diferentes setores e, assim, além de interdisciplinar e consistente atuação no controle social local, influencia a definição de políticas globais e constrói metodologias inovadoras de monitoramento.
Apesar da nossa história de sucessos e conquistas, em 2017 nosso sentimento é de imensa preocupação com o futuro do Brasil, porque hoje, diferente da narrativa dos nossos primeiros anos, sabe-se o que precisa ser feito, mas pouco se faz, já que o país está atolado em múltiplas crises geradas pela irresponsabilidade e ganância de políticos que têm nos assaltado, a canetadas, e das tradicionais e novas elites que se aliaram no saque aos bens públicos. O resultado, claro, é o desmonte de políticas que, mesmo básicas, foram frutos de décadas de construção coletiva.
Vivemos uma desconfiança generalizada com a classe política, com a Justiça, com os poderes Executivo e Legislativo, enquanto conversas e pactos nada republicanos impactam a confiança nas instituições democráticas – este, de maneira alguma, é o país com o qual sonhamos em 1993, e tal contexto nos convoca a reagir. Por isso, neste aniversário, a Gestos celebra a resistência. A nossa e a de tantas outras organizações que seguirão se opondo à legislações e normas que tentam minar os sistemas de saúde, educação e seguridade social, alimentam o desemprego e trabalho indigno, corroem os avanços da segurança alimentar, da justiça social e ambiental e desconstroem conquistas, inclusive no campo dos direitos sexuais e reprodutivos.
Resistiremos porque é preciso transformar essa cultura de privilégios em uma de igualdade. E apesar de compreender que esse objetivo não é fácil (nunca foi), é estimulante saber que não caminhamos sós: frente aos retrocessos e incertezas cada vez mais vozes e gestos se unem para fortalecer os direitos humanos, sociais, econômicos, culturais e ambientais, contribuindo com a superação da Aids e com a construção de sociedade democráticas, equitativas e de paz. Resistência Já! Diretas Já.
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