Política
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, coerente com as promessas da campanha eleitoral, começou o desmonte das medidas ambientais do antecessor Barack Obama. Na terça-feira, por decreto, autorizou o chefe da Agência de Proteção Ambiental (EPA), Schott Pruitt, a revisar o Plano de Energia Limpa, que restringe a emissão de gases pelas usinas de carvão. “O meu governo está acabando com a guerra contra o carvão”, avisou Trump, e garantiu que a decisão terminava com o “roubo da prosperidade americana” e promoveria a “independência energética do país”, com a recriação de empregos na indústria de combustíveis fósseis.
A decisão não significa, de imediato, o rompimento dos Estados Unidos com o Acordo de Paris, que estabelece metas de redução da emissão de gases de efeito estufa, com o intuito de mitigar as mudanças climáticas. Mas a reorientação da política ambiental norte-americana caminha em sentido contrário ao do consenso científico global. Trump e a parcela da população que o elegeu atribuem a discussão sobre clima à fé e às ideologias contrárias ao interesse nacional.
O afastamento dos EUA dos objetivos do Acordo do Clima impactará em todo o planeta, e os americanos não estarão salvos. Haverá reflexos na economia interna, o que poderá frustrar as expectativas de Trump de carimbar a sua gestão como a mais próspera de todos os tempos. A maioria dos setores vem adequando os sistemas de produção aos conceitos ambientais, de modo a atender as demandas dos mercados nacional e externo, que se tornaram mais exigentes ante os alertas dos fenômenos climáticos.
A indústria norte-americana tem investido alto nos segmentos da energia solar e eólica. O setor automobilístico, um dos ícones dos EUA, vem adaptando os veículos para reduzir o elevado consumo de combustível fóssil e a emissão de gás carbônico. Entre os 50 estados americanos, 39 têm planos de aumento do percentual de energias renováveis no setor elétrico. O apoio ao uso de energias limpas — o que exclui o carvão — é bipartidário no país, une republicanos e democratas afinados com os princípios de advertências do mundo acadêmico em relação os efeitos danosos das alterações no clima. As grandes corporações têm consciência de que é preciso se enquadrar em um modelo de baixo carbono. A tendência é que continuem investindo nessa linha e ignorem a orientação do governo Trump, cuja estada na Casa Branca não poderá ultrapassar o limite de 8 anos, pelas leis do país.
A resistência chinesa ao Acordo de Paris foi rompida na gestão de Barack Obama. Juntas, as duas nações são responsáveis por 40% das emissões de gases poluentes na atmosfera. A China, principal concorrente comercial dos Estados Unidos, lidera a produção de energia eólica e solar e se prepara para ter a maior produção de carros elétricos do mundo. Após o anúncio de Trump, China e Europa reafirmaram compromisso com as metas fixadas no Acordo de Paris.
Os retrocessos ambientais da era Trump poderão isolar a maior potência mundial ante as 195 nações que aderiram à Convenção do Clima da ONU e União Europeia, o que não será bom para americanos nem para o restante do mundo. Os interesses particulares e a arrogância de Trump são uma ameaça aos próprios EUA. Ignorar as advertências da natureza, constatadas pelos cientistas, significa expor o futuro dos americanos e do restante do planeta a risco desnecessário.
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