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Ravi Shankar: Superando desafios à paz

Ravi Shankar é um guru indiano, líder humanitário e criador da Fundação Internacional Arte de Viver

Publicado: 04/01/2017 às 06:55

Nos dois lados de um conflito, não importa quem ataca primeiro: as feridas vêm para ambos. O desentendimento surge, em primeiro lugar, por causa da rigidez nos posicionamentos. Para encontrar a solução é preciso que todos estejam dispostos a olhar para o quadro numa perspectiva mais ampla. A quebra da comunicação é uma das principais causas da polarização da disputa e, portanto, o retorno do diálogo é uma ferramenta fundamental para resolvê-la.

Quando visitei a América Latina em junho de 2015, enviamos uma mensagem para nos encontrar com os líderes das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC). Eles responderam positivamente e tivemos uma reunião muito proveitosa em Cuba. O conflito armado entre o governo colombiano e as FARC vem acontecendo há cinco décadas, com mais de 220 mil vidas ceifadas e mais de 7 milhões de pessoas deslocadas de seus lares. Embora os guerrilheiros se envolvam em atos violentos, dentro de cada culpado há uma vítima pedindo ajuda. Quando a vítima é curada, o culpado desaparece. Na ocasião, argumentei que eu entendia a situação, mas que a não-violência era o único caminho para a justiça social. Eles adotaram a filosofia de Gandhi, imediatamente, e declararam um cessar-fogo unilateral. O governo também retribuiu com um cessar-fogo, dias depois.

As pessoas que utilizam a violência por se sentirem injustiçadas podem ser convencidas com um bom diálogo, se a abordagem for precisa. Sob a sua perspectiva, estão lutando por uma causa justa. De certa forma, sua paixão, compromisso e espírito de sacrifício são louváveis. Quando o dinamismo exterior, que elas têm em abundância, é complementado com a paz interior, essas mesmas pessoas podem ser uma benção para a sociedade. Muitas de nossas escolas gratuitas em áreas rurais e em regiões afetadas pelo terrorismo estão sendo dirigidas por ex-extremistas. Na verdade, no começo, eles ameaçaram nossos voluntários e chegaram a dizer que iriam fechá-las. Mas quando viram que as iniciativas estavam beneficiando suas próprias comunidades, eles se tornaram voluntários.

No entanto, o terrorismo resultante do fanatismo religioso é muito diferente. É cego por uma doutrina que não está aberta a qualquer discussão ou diálogo. Para seus defensores, as pessoas que discordam de suas escrituras ou pensam de maneira diferente não têm o direito de existir. Em minha visita ao Iraque em novembro de 2014, ofereci-me para dialogar com o grupo do Estado Islâmico. Eles responderam com uma ameaça de morte! Se mesmo uma pequena parte do mundo vive em tal escuridão, o mundo não pode ser um lugar seguro.

Até há pouco, as horríveis atrocidades que cometiam estavam limitadas à região sob a sua influência, mas o êxodo em massa de milhões de refugiados, agora, afeta o mundo inteiro. Se a casa do vizinho estiver em chamas, é apenas uma questão de tempo até que o fogo chegue à sua porta. Para evitar a propagação dessa mentalidade fanática, os líderes religiosos podem desempenhar um papel importante na transmissão de uma educação multirreligiosa e da paz. É necessário mudar a ideia de “propriedade exclusiva do céu” para uma ideologia de "muitos caminhos para um único objetivo". Honrar a diversidade como uma característica essencial do nosso planeta pode nos ajudar mudar e, em vez de simplesmente tolerar nossas diferenças, passar a comemorá-las.

A turbulência é uma parte deste mundo, enquanto a paz é a natureza real do nosso espírito. Se, com uma forte determinação e habilidade, formos capazes de permanecer centrados nesta paz, ela não vai permanecer limitada apenas nós mesmos. Ela vai acalmar a turbulência em torno de nós, também. Que cada um opte pela paz interiormente e seja dinâmico em suas ações, para que este sentimento possa contagiar o mundo exterior.
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