Política
Opinião
Luciana Grassano Melo: Eu só abro a boca quando tenho certeza
Voltei a pensar sobre isso porque me veio à cabeça o quadro da Ofélia e Fernandinho, do programa humorístico Zorra Total
Publicado: 20/09/2016 às 08:01
Isso não quer dizer que eu não erre. Isso quer dizer que eu tenho a humildade de reconhecer quando não estou segura. Por isso eu posso dizer que só abro a boca quando tenho certeza. E não arroto sapiência e cultura que eu não tenha. Meus amigos, meus alunos e meu filho sabem o quanto recorro ao Google durante uma conversa, ou mesmo a eles próprios. Acho natural que esqueçamos uma palavra, ou o nome de um autor, ou o ano de um importante evento histórico. E isso se resolve fácil hoje em dia. É só dar um google, e estão lá disponíveis incontáveis registros para ajudar-nos a só abrir a boca quando temos certeza.
Meu filho, por exemplo, costumava achar que eu tinha a resposta para tudo, e me fazia perguntas impossíveis de serem respondidas sem que eu desse um google. Sinceramente, não acho que recorrendo ao Google esteja mostrando fragilidade ou ignorância a ele, muito pelo contrário. Acredito que estou transmitindo desde cedo o valor da pesquisa, da honestidade intelectual e do respeito pelo ouvido alheio. Digo a ele, sem problema: — Filho, não tenho certeza. Vamos pesquisar!
Costumo explicar a ele que com o passar dos anos, vamos acumulando muitas histórias na cabeça e também muitas pessoas conhecidas, muitos livros lidos, filmes assistidos, lugares visitados e que vez por outra a nossa cabeça dá um reset e muitas informações são esquecidas, simplesmente porque não tem espaço para gravar tudo, salvo em mentes de pessoas privilegiadas.
Tenho um tio que é assim. Ele tem uma memória invejável, como têm também algumas amigas de infância que quando nos encontramos parece até que foram elas que viveram a minha infância por mim, de tanto que lembram do que na minha cabeça já se perdeu há muito tempo.
Não acho que esquecemos o que não teve importância. Acho que esquecemos o que durante anos não precisamos usar ou referir. O fato de até hoje encontrar-me com frequência com as minhas amigas de infância já mostra que as histórias em comum foram importantes para mim. Se marcaram menos a minha memória, marcaram mais o meu coração.
Voltei a pensar sobre isso porque me veio à cabeça o quadro da Ofélia e Fernandinho, do programa humorístico Zorra Total. Quem lembra? Ela dizia as maiores barbaridades (e ele não ficava muito atrás), e falava todas elas com a simplicidade de quem tem muito conhecimento de causa. Era tão espontânea, que algumas vezes eu mesma me confundia. E coroava o fim do episódio com um sonoro: “Eu só abro a boca quando tenho certeza”.
Mas era um programa humorístico. Lembrei-me dele em razão de um episódio recente da nossa política. O presidente Temer, que diz ter uma mulher discreta, deveria seguir o seu exemplo. Abrir a boca sem ter certeza, para mim, é o pior tipo de indiscrição. Não sei se lamento mais o mau uso que ele faz das mesóclises ou o erro grosseiro de sua mais recente afirmação: “— Eu me sinto aqui como Carlos Magno. Quando eu tinha 11 anos de idade, eu ganhei um livro chamado Carlos Magno e os 12 cavaleiros da Távola Redonda e eu li aquele livro e era assim: os doze cavaleiros”.
Quando eu li a sua entrevista, me deu vontade de dizer: _ Vamos pesquisar, presidente!
Meu filho, por exemplo, costumava achar que eu tinha a resposta para tudo, e me fazia perguntas impossíveis de serem respondidas sem que eu desse um google. Sinceramente, não acho que recorrendo ao Google esteja mostrando fragilidade ou ignorância a ele, muito pelo contrário. Acredito que estou transmitindo desde cedo o valor da pesquisa, da honestidade intelectual e do respeito pelo ouvido alheio. Digo a ele, sem problema: — Filho, não tenho certeza. Vamos pesquisar!
Costumo explicar a ele que com o passar dos anos, vamos acumulando muitas histórias na cabeça e também muitas pessoas conhecidas, muitos livros lidos, filmes assistidos, lugares visitados e que vez por outra a nossa cabeça dá um reset e muitas informações são esquecidas, simplesmente porque não tem espaço para gravar tudo, salvo em mentes de pessoas privilegiadas.
Tenho um tio que é assim. Ele tem uma memória invejável, como têm também algumas amigas de infância que quando nos encontramos parece até que foram elas que viveram a minha infância por mim, de tanto que lembram do que na minha cabeça já se perdeu há muito tempo.
Não acho que esquecemos o que não teve importância. Acho que esquecemos o que durante anos não precisamos usar ou referir. O fato de até hoje encontrar-me com frequência com as minhas amigas de infância já mostra que as histórias em comum foram importantes para mim. Se marcaram menos a minha memória, marcaram mais o meu coração.
Voltei a pensar sobre isso porque me veio à cabeça o quadro da Ofélia e Fernandinho, do programa humorístico Zorra Total. Quem lembra? Ela dizia as maiores barbaridades (e ele não ficava muito atrás), e falava todas elas com a simplicidade de quem tem muito conhecimento de causa. Era tão espontânea, que algumas vezes eu mesma me confundia. E coroava o fim do episódio com um sonoro: “Eu só abro a boca quando tenho certeza”.
Mas era um programa humorístico. Lembrei-me dele em razão de um episódio recente da nossa política. O presidente Temer, que diz ter uma mulher discreta, deveria seguir o seu exemplo. Abrir a boca sem ter certeza, para mim, é o pior tipo de indiscrição. Não sei se lamento mais o mau uso que ele faz das mesóclises ou o erro grosseiro de sua mais recente afirmação: “— Eu me sinto aqui como Carlos Magno. Quando eu tinha 11 anos de idade, eu ganhei um livro chamado Carlos Magno e os 12 cavaleiros da Távola Redonda e eu li aquele livro e era assim: os doze cavaleiros”.
Quando eu li a sua entrevista, me deu vontade de dizer: _ Vamos pesquisar, presidente!
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