Sertão 'Casa Grande surta quando a senzala vira médica', Dilma diz em visita a Pernambuco Presidente parafraseou estudante de medicina para criticar adversários e camadas mais conservadoras da sociedade

Por: Aline Moura - Diario de Pernambuco

Publicado em: 06/05/2016 17:54 Atualizado em: 06/05/2016 22:01

'Tenho clareza que esse golpe tem um motivo e o motivo é que o Brasil, nesses 13 anos, mudou. As pessoas pegaram autoestima e dignidade', disse, defendendo ações do governo. Foto: Roberto Stuckert Filho/PR
'Tenho clareza que esse golpe tem um motivo e o motivo é que o Brasil, nesses 13 anos, mudou. As pessoas pegaram autoestima e dignidade', disse, defendendo ações do governo. Foto: Roberto Stuckert Filho/PR

A presidente Dilma Rousseff (PT) saudou aliados e alfinetou adversários durante o discurso que proferiu no Sertão de Pernambuco nesta sexta-feira (6). A presidente, que vistou a segunda estação de bombeamento do eixo norte da Transposição do Rio São Francisco, parafraseou uma estudante de medicina para criticar as camadas mais conservadoras da sociedade.

“A Casa Grande surta quando a senzala vira médica”, disse Dilma, que defendeu os programas sociais do governo, falou do ex-presidente Lula e ironizou as contas no exterior do ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). 


“Eu não tenho conta no exterior, eu não sou conhecida por receber dinheiro de corrupção, não recebo propina”, disparou a presidente, arrancando os aplausos dos presentes. Ao lado de Dilma estavam a deputada Luciana Santos (PC do B), os deputados Silvio Costa (PT do B) e Adalberto Cavalcanti (PTB), além dos governadores Ricardo Coutinho (PSB-PB) e Camilo Santana (PT-CE), e do representante da Central Única dos Trabalhadores (CUT) em Pernambuco, Carlos Veras. 

Dilma Rousseff defendeu as ações dos governos petistas, como projetos educacionais e acesso à renda, sobretudo o Bolsa Família, e destacou que o programa poderá ser diminuído durante um eventual governo do vice-presidente Michel Temer (PMDB), caso se concretize o processo de impeachment, cujo relatório foi aprovado hoje pelo Senado. Segundo ela, os adversários que querem sucedê-la falam em cortes com palavras mais sofisticadas, como "foco" e "revisitar".

Mais uma vez, Dilma chamou o processo em curso de golpe e afastou a possibilidade de renunciar ao cargo. Mais cedo, a petista já havia declarado que, caso renunciasse, enterraria prova viva de um golpe

“Tenho clareza que esse golpe tem um motivo e o motivo é que o Brasil, nesses 13 anos, mudou. As pessoas pegaram autoestima e dignidade”, defendeu. “Eles sempre quiseram que eu renunciasse por conte de uma coisa. É como um tapete. Você levanta o tapete, esconde a sujeita e se eu renunciar eu vou para debaixo do tapete. Mas eu vou ficar aqui, brigando. Eu sou a prova da injustiça, eles estão condenando uma pessoa inocente e não há nada mais grave que condenar uma pessoa inocente”, afirmou a presidente.

Diferentemente de outras visitas, o governador de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB), não recebeu a presidente como anfitrião. Ele está em Brasília, onde teve uma agenda administrativa e outra política, um seminário do PSB. 

O evento também foi prestigiado pelo arcebispo de Natal. Dom Jaime Vieira Rocha, que leu uma mensagem da Caravana Sócio Ambiental dos Bispos do São Francisco. No documento, foram externadas as preocupações com o futuro do projeto de transposição, como as prioridades na oferta de água e a fiscalização. Ele ainda ressaltou, contudo, que nesses últimos anos, o Nordeste recebeu um tratamento diferenciado, de maneira que os nordestinos não precisaram mais promover saques por causa da fome em épocas de seca. 

Este, possivelmente, foi o último discurso que Dilma fez em Pernambuco como presidente. Ela está decidida a percorrer o país para defender o mandato, porém muitos no governo já não acreditam mais em possibilidade de reviravolta. 


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