Editorial Silêncio histórico chega ao fim

Publicado em: 13/02/2016 10:30 Atualizado em:

Pode ser visto com esperança o encontro do papa Francisco com o patriarca Kirill. Os dois líderes religiosos quebraram silêncio de quase 1.000 anos. Em 1054, cisma dividiu a Igreja Católica em duas - a Católica Apostólica Romana e a Católica Ortodoxa Grega. Com práticas culturais, políticas e teológicas particulares, uma passou a representar os hábitos do Oriente; a outra, do Ocidente.
Os representantes de ambos os credos deram passo histórico na sexta-feira. Em território neutro, reuniram-se no Aeroporto de Havana, em Cuba. Na pauta, o interesse comum de combater os extremistas muçulmanos que atacam cristãos na África e no Oriente Médio. O Estado Islâmico e seguidores promovem atos de violência contra pessoas, famílias, bairros e cidades pela simples razão de que comungam fé diferente.
A aproximação não se deveu ao acaso nem à coincidência de agendas. É fruto de negociações de muitos anos. Nas idas e vindas - comuns nas transações diplomáticas -, houve gestos de boa vontade revestidos de grande simbologia. Entre eles, a entrega para os russos de imagens sagradas que se encontravam no acervo da Santa Sé.
Sentar-se frente a frente durante escala tática na ilha caribenha é prova de que a estratégia deu certo. Também acende a esperança de que possa ser estendida ao islamismo. Há muito se acusam os líderes muçulmanos de conivência com o terrorismo. A acusação se deve ao fato de eles não levantarem a voz para condenar atos extremistas cometidos por seguidores do Corão. Silêncio ou palavras tímidas soam como eufemismo de omissão.
Seria ingenuidade imaginar que se trata de tarefa fácil. Não é. Como fácil não foi a aproximação de católicos e ortodoxos que ontem ganhou visibilidade. Tampouco foi fácil a queda da União Soviética e o reatamento das relações diplomáticas de Havana e Washingthon rompidas por mais de 50 anos. Todos, vale lembrar, se concretizaram com efetiva participação de negociadores do menor Estado independente do mundo.
Sem dispor de recursos militares para confrontos bélicos, o Vaticano se esmera no uso do solf power - o poder brando, que se fundamenta no diálogo e no convencimento. O papa Francisco, que sobressai talvez como o maior interlocutor internacional do século 21, comanda uma diplomacia silenciosa e efetiva cuja destreza pode ajudar na promoção de diálogo ecumênico com assento garantido para o islã. É a esperança.

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