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Política
Opinião

Roberto Pereira: Pernambuco frevando para o mundo

O frevo, patrimônio imaterial da humanidade, é de Pernambuco para o mundo

Publicado: 05/02/2016 às 07:00

Por Roberto Pereira
Ex-secretário de Educação e Cultura de Pernambuco
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Ainda ouço os clarins de Momo anunciando o carnaval nos primeiros andejos de 1960. Sei que são saudades, doces lembranças para as horas de solidão que todos têm.

As ruas ensopadas das águas de banho, brincadeira que substituiu, aqui, o entrudo de origem europeia, particularmente portuguesa, que no século passado eram, segundo o Diario de Pernambuco de 6.2.1837, “jogos de lima ou balas de cera, contendo águas odoríferas.” Meninos e jovens acriançados, portando bisnagas, mangueiras, latas ou baldes, borrifando e molhando quem passasse, fosse de carro, de ônibus, ou a pé. 

Vestidos a caráter ou esportivamente, quase ninguém escapava ao divertimento, antes, com água-doce, depois, aqui e ali, com água dos esgotos, sem falar noutros líquidos mais poluídos e mais perigosos, de lembrança nefasta.

À tarde, os carros abertos, os jipes, os caminhões, tempo de rodopiar a cidade, nas suas ruas e pontes centrais. Era o corso tão em voga naquela época. Nesse carrossel de automóveis não faltavam as batalhas aquosas, espirrando e jorrando, num crime de lesa-natureza.

Também os confetes e serpentinas voavam nos ares e nos bares, nos bailes e nas danças. Era o congraçamento de uns com os outros, gerando, às vezes, namoros e namoricos. As cabeças embranquecidas justificavam o frevo, não eram de velhice não, “eram velhos talcos, de saudosos carnavais jogados em minha cabeça pelas mãos do meu amor.” Nesse serpenteado, o passo enchia as ruas e os salões de baile, alegrias e sonhos de apenas três dias.

E as fantasias? Sim, pobre ou ricamente, esse era um prazer bem ao gosto. Asas à imaginação, vocações escondidas, uma vontade de ser o que não é levava mais a gente a sair do real. Ser o que não era ou parecer mais do que podia ou mandava a vã filosofia. Mas, as fantasias davam um diferencial quase sempre bonito. Passear pelas ruas da cidade era agradável. Os papangus, as almas, os palhaços e os periquitos formavam o burburinho da indumentária típica desse período, também, sobretudo, uma época de Pernambuco.

Desde o Sábado de Zé-Pereira, o carnaval na rua, desfilando o espectro cultural de Pernambuco, sem dúvida o rico e diversificado acervo. Os clubes de frevo, os caboclinhos, os maracatus, os de baque solto e os de baque virado, os bois, os ursos, os índios, os blocos e até o samba, que depois cresceu a ponto de se conflitar com os frevistas e frevólogos.

Nada mais eletrizante do que o rasgar de um frevo de rua. Os que não entram no saracoteio, mesmo parados, balançam o esqueleto, porque é grande o frenesi desses acordes. O frevo, patrimônio imaterial da humanidade, é de Pernambuco para o mundo.
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